terça-feira, outubro 16, 2012

HONRA E PEQUENEZ (23 AGOSTO 2011)

 1- Esta sexta-feira, na cidade do Monte Carlo, capital de uma imbecilidade mediática chamada Principado do Mónaco (onde uns supostos príncipes parasitas sobrevivem com dinheiro do jogo, da fuga aos impostos e das avenças que lhes pagam as revistas cor-de-rosa), o FC Porto, orgulho de Portugal e dos portugueses, vai ter a honra de enfrentar a melhor equipa de clubes, desde que o futebol existe: o FC Barcelona, de Pep Guardiola. É a melhor equipa, porque joga o melhor futebol jamais visto e porque conquistou, nos últimos três anos, tudo o que havia para conquistar: o Barcelona é campeão em título de Espanha, da Europa e do Mundo. Sete dos seus jogadores são ainda campeões do mundo de Selecções, ao serviço da Espanha, embora todos sejam catalães, produto de uma escola como não há outra em clube algum. Um clube que forma os seus próprios jogadores, que não aceita publicidade paga nas camisolas, em que o orgulho de lhe pertencer leva a que um jogador (Cesc Fabregas) prescinda de 5 milhões do seu vencimento contratual para lá poder jogar e que nenhum dos seus é capaz de trair - excepto, infelizmente, um português cujo nome não se pode pronunciar nas Ramblas. É treinado por um catalão, vindo das escolas do clube (antigo jogador, claro), e que, em três anos. conquistou onze títulos, ganhando tudo o que havia para ganhar e que, ainda por cima, é um cavalheiro, modesto e simples, incapaz de inventar desculpas esfarrapadas quando raramente perde ou de inchar de vaidade, quando ganha. E onde, enfim, joga o mais genial futebolista que olhos meus já viram, um argentino chamado Leo Messi, capaz de fazer com uma bola nos pés o que a física não consente e que, estranhamente, não se preocupa nem com penteados, nem com tatuagens, nem com a exibição de bombas sexuais contratadas, e o qual ninguém sabe como vive, com quem vive, o que faz quando não está a conversar com os deuses no estádio, e a quem, por respeito, jamais alguém se atreveu a fazer a pergunta ofensiva: «quanto queres para sair do Barcelona?».

Defrontar esta equipa e este clube é uma honra para o FC Porto. É certo que, por calendário - do campeonato espanhol, da Champions ou dos jogos amigáveis - há umas trinta outras equipas que também têm essa honra, todos os anos. Mas o FC Porto não o vai fazer por calendário, mas porque, por direito próprio, conquistou o acesso a uma final internacional de que o outro finalista é o Barcelona. E isto, meus amigos, é uma honra, é futebol a outra dimensão, de outra galáxia. Eu espero ardentemente que o FC Porto esteja à altura da honra que lhe vai caber, sexta-feira. Não espero que ganhe, porque, sinceramente, acho isso missão impossível. Mas espero que faça um jogo de destemor, de coragem, de prazer de jogar o melhor que pode e sabe, e não um anti- jogo, feito de cautelas, cobardia ou porrada. Espero que Vítor Pereira instrua a equipa para, antes de mais nada, honrar o clube e o futebol português, à vista de uma audiência planetária, e que, simplesmente, diga aos jogadores: «vão lá para dentro sem medo, tentem ganhar mas, sobretudo, desfrutem deste momento único, antes de regressarem à miséria do nosso campeonatozinho dos casos, dos queixumes e das maledicências dos eternos campeões da garganta para fora. Nem imaginam o que eles pagariam para poder estar no vosso lugar, no lugar que vocês conquistaram com todo o mérito e no único terreno onde a verdade desportiva que apregoam se demonstra, que é o terreno de jogo!». É só isso que eu espero e desejo.

2- Já aqui elogiei o Mais Futebol, da TVI. É um programa muito bem conduzido pelo Sousa Martins, sem tempos mortos, direito ao que interessa, com comentadores isentos e competentes. Muito bem o Pedro Barbosa e o João Viera Pinto, com o mérito acrescido de não falaram futobolês, mas sim português, simples e escorreito, como se deve falar em televisão. E muito bem o ex-árbitro Pedro Henriques, que consegue a proeza de trazer uma análise desapaixonada e de bom-senso aos tão discutidos casos das jornadas, explicando, de forma tão lógica e isenta a decisão de cada lance, que praticamente os transforma em doutrina incontestável. Concordei, por exemplo, com toda a análise que ele fez ao FC Porto-Gil Vicente: penalty incontestável contra o Porto, aos 2 minutos; expulsão, não concretizada, do Otamendi, que reunia todos os requisitos para tal; penalty por marcar sobre o Varela, quando havia 2-1 a favor do Porto; penalty por marcar a favor do Gil, quando havia 3-1 e a 2 minutos do fim. Mas, sobre a expulsão do Otamendi, gostaria de acrescentar que sempre fui contra o que considero uma dupla penalização máxima e excessiva: penalty e vermelho directo ao infractor. Aceito que a expulsão valha para quem derruba um adversário que vai isolado fora da área, porque aí não há lugar a penalty e há apenas uma penalização máxima. Mas, dentro da área, o penalty e expulsão equivalem praticamente a dois golos de penalização. Talvez por isso, sejam raros os árbitros, aqui ou lá fora, que o fazem. E raríssimos, se é que há alguns, os que já o fizeram aos 2 minutos de um jogo — porque, entre as regras não escritas mas ensinadas, também consta a que diz que um árbitro deve, na medida do possível, defender também o espectáculo. Torna-se-me assim dífiil entender que Paulo Alves tenha justificado a derrota do Gil com a não expulsão do Otamendi, dizendo que isso «condicionou a estratégia» para o jogo. Como? O Gil passou a semana a ensaiar uma estratégia que passava pela obtenção de um penalty e um golo caídos do céu, por oferta alheia, aos 2 minutos, seguido de expulsão de um adversário?

Pedro Henriques também não deixou dúvidas ao que eu já tinha visto na TV: a 5 minutos do fim, com o resultado em 2-1, o árbitro deixou passar em claro um penalty cometido pelo Javi Garcia, que, muito provavelmente, teria dado o empate ao Feirense na luz (para além de também ter deixado passar duas cotoveladas ostensivas, e aliás habituais. do mesmo Javi Garcia, que tem a sorte de não se chamar Paulinho Santos). E, portanto, em dois jogos, o Benfica conquistou um empate com um golo irregular e obteve uma vitória, que poderia ter sido empate, graças à condescendência do árbitro. Isto faz três pontos ganhos por mérito alheio, em apenas duas jornadas. Razão suficiente para que Jorge Jesus tenha mais cautela ao falar do que se passa no quintal do vizinho (e mesmo que eu não tenha gostado do estilo e do teor da resposta de Vítor Pereira).

3- Quanto ao Sporting, meu caro Alfredo Barroso, esforcei-me e muito para o ver, contra o Nordqualquercoisa e contra o Beira-Mar. E, com tanta constestação à arbitragem, mesmo reconhecendo, como já o fiz, que teve um golo mal anulado contra o Olhanense, só posso dizer que percebi bem a tua tristeza e frustração, sobretudo depois de ver que um árbitro dos regionais tem mais categoria a arbitrar que um suposto candidato ao título máximo a jogar futebol. O símbolo, para mim, é o Yanick: está mais preocupado em manter o penteado em pé do que em mostrar serviço no relvado. O campeonato está «descredibilizado», como disse o Carlos Freitas? Pois seja, mas não é o Sporting, que acabou o anterior campeonato a 36 pontos do Porto e que não consegue derrotar uns amadores dinamarqueses, que tem autoridade para o dizer...

4- É preciso estar de muito má-fé para titular, como o Diário de Notícias, «Falcao vendido abaixo do valor da cláusula». A venda de Falcão, tornada inevitável por várias razões objectivas, foi o melhor negócio feito até hoje por Pinto da Costa e a mais lucrativa venda de sempre de clubes portugueses. E com o gozo extra de ter impingido a Jorge Mendes também o Ruben Micael (porque isso de vender só os bons jogadores é fácil).

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