terça-feira, outubro 02, 2012

FUTEBOL, MUITO POUCO (16 AGOSTO 2011)

1- A Liga começou com os hábitos de sempre: o Porto ganhou, o Benfica escorregou, o Sporting protestou; (ate ontem a noite), cinco empates em sete jogos e apenas dez golos marcados todos ou quase todos, por estrangeiros; em contrapartida, os treinadores são todos portugueses, o que alias, se vê logo pelas declarações - os dois Únicos que ganharam foi com toda a justiça; os dois únicos que perderam foi por culpa do arbitro. E, enfim, para nâo variar também, o futebol visto foi fraco, fraco demais.

O Benfica, enfrentando uma defesa do Gil que tudo permitia, não soube colocar-se fora do alcance de um pontapé feliz, (mais um!) de Laionel. Dos reforços apresentados, gostei sobretudo do guarda-redes Artur; os outros, podem ser muito bons, como dizem, mas ainda não fazem uma equipa. O esquema e confuso e a falta de Fábio Coentrão e gritante. Vai melhorar com certeza, mas, mais uma vez, entrou com o pé esquerdo.

Tal como o Eduardo Barroso, também eu vi o Sporting-Olhanense num restaurante algarvio, do outro lado da Ria de Alvor. Vi apenas a segunda parte e distraidamente, intercalando umas g ar fadas numa deliciosa lula ovada com uns olhares ao écran. Mesmo assim e mesmo á distancia, deu para ver claramente que o Hélder Postiga não estava em off-side no golo anulado. Não dá para entender como é que o juiz-de-linha o não viu. De resto, vi o Sporting dessa segunda parte atacar muito mas sem criar oportunidades de golo: também ele, e num jogo teoricamente fácil, náo soube colocar-se fora de alcance de um erro de arbitragem. Oito dias antes, tinha visto o FC Porto ganhar a final da Supertaça tranquilamente e apesar de três penalties não assinalados ao Vitória de Guimarães. As equipas vencedoras são como reza a canção de Gerardo Vandrei, que se tornou hino de resistência à ditadura militar brasileira: «Quem sabe, faz a hora / não espera acontecer". Ainda hoje, Domingos deve suspirar pela oportunidade perdida de entrar no Dragão no ano passado. E ele merecia essa oportunidade.

Em Guimarães, tal como há uma semana, o FC Porto venceu, mereceu, mas esteve longe de entusiasmar. Revelando grande falta de ritmo, de velocidade, de imaginação, esteve sempre dependente do talento de Hulk, Já Varela, Moutinho e Ruben Micael (sem defender e com medo de atacar), voltaram a fazer exibições fraquíssimas, e Guarin e Falcão estão fora de forma ou cansados de tanta bola e tantos jogos quase sem descanso. Kleber, com três golos falhados em frente ao guarda-redes, revelou tanta vontade de mostrar serviço como desatino na hora de o fazer. Mas o FC Porto saiu a ganhar e a estatística diz-nos que, quando ganha em Guimarães, vence o campeonato (no ano passado não ganhou, mas também foi campeão). São sempre jogos sofridos e difíceis, com excepção do ano em que o Vitória se aliou ao Benfica para, em nome da verdade desportiva tentar roubar-nos na secretaria o título de campeão e a entrada na Champions. Nesse ano, o FC Porto mandou lá uma equipa com metade de reservístas e, só para ensinar algumas coisas sobre a verdade desportiva, saiu de lá com um humilhante triunfo por 6-0. Desta vez, o jogo ficou marcado por dois acontecimentos insólitos, que vale a pena contar.

O primeiro, foi o estado degradante em que o Vitoria apresentou o seu relvado, logo na Ia primeira jornada do campeonato. No pino de Agosto, com temperaturas a rondar os 30 graus, não se compreende, como notaram os repórteres da Sport XV, que se tenha jogado num campo lavrado, mais próprio do Inverno. Segundo eles, talvez isso se tenha devido ao facto de o campo ter sido regado mais do que uma vez, antes de começar o jogo e talvez a última tenha sido demais... Claro que eu me recuso a acreditar que a intenção foi mesmo a de tornar o jogo uma lotaria, em prejuízo da melhor equipa. Com o futebol ao preço que está, eu não acredito que passe pela cabeça de alguém tornar deliberadamente impossível um bom jogo, ensopando a relva. Mas o facto é que, em Guimarães, se reuniram as piores condições para a pratica de futebol: um calor de ananases e uma relva de semear batatas; clima de Verão, relvado de Inverno. Como seria de prever, essa combinação (como diria o Manuel Machado), rebentou fisicamente com os jogadores (ainda por cima, em principio de época) e foi responsável por um jogo sem graça alguma. E, por ironia do destino, o Vitória falharia a sua melhor oportunidade de golo quando Barrentos completamente isolado, não se conseguiu firmar no chão e... passou a bola ao Hellon.

O segundo facto insólito deu-se quando Manuel Machado, saído do flash interview, deu de caras com outro entrevistador de TV, que nunca tinha visto e que não tardou a perceber que não frequentara a escola do jornalismo desportivo português. Eis o dialogo (acessível na íntegra em wwv.adeusconversadetreta.com).

- Repórter: «Manuel Machado...»
- Manuel Machado: «Professor. Professor Manuel Machado.»
- Repórter: «Professor, terceiro jogo seguido com o FC Porto e terceira derrota...»
- Professor: «Muita injusta, como todos viram. Tivemos oportunidades suficientes paia ganhar o jogo, so falhou a concretização.»
- Repórter «Mas o FC Porto teve mais posse de bola, mais ataques, mais remates, mais cantos e seis oportunidades de golo contra três do Vitória...»
- Professor: «Parece-lhe a si. Como é sabido, a estatística e uma ciência subjectiva: o que interessa relevar são as alterações que se estabelecem dentro das condicionantes estatísticas. Fomos nos que demos a iniciativa ao Porto, deliberadamente, assumindo a estratégia do jogo, a que o adversário foi obrigado a submeter-se. Só não contávamos com aquela combinação perfeita que acabou com a bola dentro da nossa baliza»
- Repórter: «Refere-se ao penalty? Acha que não foi penalty?»
- Professor: «E você, acha que foi?»
- Repórter: «A opinião unânime na bancada de imprensa é que sim...»
- Professor: «Ai é? E o que percebem vocês de penalties ou de futebol? Qualquer pessoa que perceba de futebol vê que aquilo é apenas uma intervenção resultante da dinâmica fisiológica de um braço em movimento ao redor de um pescoço estático. E uma atitude fisíco-táctica frequente nos pontapés de canto e que se estuda nas melhores academias de futebol, onde eu sou sempre professor convidado. E, por isso mesmo, em obediência às melhores práticas, é uma jogada que nós ensaiamos muito no Vitoria.»
- Repórter: «No jogo da semana passada, os analistas também foram unânimes no facto de terem ficado três penalties por marcar contra o Vitória. Mas aí o senhor ficou em silêncio...»
- Professor «Porque ai não houve, como hoje, combinação alguma. Houve apenas correcta interpretação das modernas leis sobre o momento certo de entrada á bola, mesmo que a bola lá não esteja.»
- Repórter: « E, mesmo com três penalties por marcar, também esse jogo o senhor perdeu...»
- Professor «Já lhe disse que não houve penalty algum por marcar: houve apenas momentos em que o adversário nos quis desconcentrar com reclamações infundadas. Aliás, essa foi uma das razões da nossa derrota tangencial.»
- Repórter: « Portanto, hoje perderam devido a uma combinação do arbitro com alguém mais; no domingo passado, devido a desconcentração causada pelo adversário...»
- Professor: « Exacta mente.
- Repórter: « E na final da Taça, quando a sua equipa, completamente repousada, passou ainda uma semana em estágio a preparar o jogo, enquanto o adversário venceu a final da Liga Europa a meio da semana, ficou dois dias a festejar e um a descansar, e chegou lá e deu-vos 6-2? Qual a razão?»
- Professor «Oiça lá: o senhor quem é? De onde vem? Quem é o seu patrão? E em que país acha que está?»

Sem comentários: