sexta-feira, outubro 19, 2012

QUEREM FALAR DE “PENALTIES”? (13 SETEMBRO 2011)

1- Por um excelente e irónico motivo - o casamento de uma amiga minha com um amigo que é administrador da SAD do Benfica - tive de seguir o FC Porto-Vitória de Setúbal através de sms, lidos à socapa, na mesa do jantar. No final, interpelado sobre o resultado por um dos ilustres benfiquistas ali presentes, respondi que tínhamos ganho 3-0. Ele perguntou "e quantos penalties?", e eu respondi que, segundo as minhas informações, tinham sido três magníficos golos e todos de bola corrida - o que, a juntar aos outros cinco facturados em Leiria, quatro dias atrás, fazia oito golos consecutivos no campeonato de bola corrida. Nem de penalty, nem de livre, nem de canto, nem sequer de lançamento lateral - esse lance de ataque que o Benfica tanto treina e pratica, sem que os treinadores adversários se lembrem de mandar colocar um jogador sobre a linha lateral, em frente ao local do lançamento.

Longe estávamos nós os dois de imaginar que, no dia seguinte e à conta dos penalties, o Benfica voltaria a figurar no Guiness Book of Records. Não porque tenha visto um árbitro conceder-lhe dois penalties em dois minutos, ou três penalties em quinze minutos, ou até por ter um treinador que, depois de tanta festança, ainda teve a ingratidão de reclamar mais um - seriam quatro em vinte minutos de jogo. Não, o Benfica entrou para o Guiness porque conseguiu ter meia parte de um jogo em que só rematou três vezes à baliza e as três da marca de penalty!

O primeiro penalty, compreendo muito bem que um árbitro português o marque, sobretudo no Estádio da Luz e a favor do Benfica. Mas um árbitro internacional provavelmente não o marcaria: não se deixaria levar pela premeditação com que o Saviola fez tudo, adiantando-se ao defesa, travando para sofrer o encosto dele, ati- rando-se para a frente para parecer empurrado voluntariamente, e assim transformando em penalty uma bola perdida. O penalty "extra", que Jorge Jesus teve o mau gosto de reclamar, foi um remate à queima roupa que roçou a mão de um adversário, que não conseguiu amputá-la a tempo; o segundo assinalado por Duarte Gomes, foi uma bomba que acertou no peito de um vimaranense, que nem se mexeu, a não ser para cair derru- bado pela violência do tiro; e o terceiro assinalado foi uma anedota: um remate a meio metro de distância que acertou na cabeça do infeliz N'Diaye.

Não é inocentemente que em Portugal se caiu na total deturpação da lei do penalty, acabando-se a marcar muito mais penalties por suposta mão na bola do que pelos outros motivos bem mais frequentes: empurrões, pontapés, rasteiras, cotoveladas no momento do salto (o penalty assinalado contra o Braga foi outra anedota). Há treinadores que instruem os jogadores a procurar cruzar ou rematar contra o corpo dos adversários, propositadamente para ver se conseguem que a bola lhes acerte na fatal mão ou braço; há equipas que jogam deliberadamente à procura disto; há um público de adeptos acríticos e a quem interessa tudo menos a qualidade do jogo, que já estão mobilizados para desatar aos gritos de cada vez que algum defesa adversário corta a bola sem ser com o pé ou a cabeça, e há comentadores que, inocentemente ou nem tanto, fingem esquecer a regra essencial: não há penalty quando a bola acerta no braço ou na mão, mas quando o braço ou a mão acertam na bola. De contrário, os únicos defesas seguros seriam os manetas, amputados de ambos os braços pelo ombro. Infelizmente, esta batota - ensaiada, treinada, consentida pelos árbitros estimulada pelo público - estraga jogos, deturpa resultados e até pode dar campeonatos (foi assim que o Benfica, de Trapat- toni, chegou a campeão, com o Simão Sabrosa tornado especialista em cruzar e rematar contra os braços dos adversários). Pessoalmente, acho esta "'táctica" uma forma de batota cobarde, que revela fraqueza de quem a ensaia, pratica, arbitra e apoia nas bancadas.

E assim, já lá vão quatro jornadas do campeonato e, em três delas, o Benfica deve os resultados a, digamos, "erros de arbitragem". Se as minhas contas estão certas, caíram-lhe do céu tantos pontos quantos os que lhe caíram do relvado: cinco. Agora é que eu gostava de ver os dirigentes do Sporting a protestaram indignados!

2- Pois eu lá assisti, penosamente, à morte lenta do Sporting em Paços de Ferreira, seguida da ressurreição súbita. Devo, todavia, confessar que acho as noticias da súbita prova de vida do Sporting manifestamente exageradas. A mim parece-me que a morte foi apenas adiada por um milagre que não se repetirá muitas vezes.

Eu sei que jogar naquele terreno (um dos quintais onde a Liga permite que se jogue qualquer coisa vagamente parecida com futebol), não ajuda as melhores equipes. O problema é que eu não sei, no caso, quem será a melhor equipe: se o Sporting, se o Paços. Lamento se isto soa ofensivo aos sportinguistas e, pela minha saúde, juro que não é essa a minha intenção. Apenas acho que, se me pagam para dar a minha opinião, é a minha opinião que tenho de dar. Por exemplo: eu posso achar que o Benfica tem sido, como dizer, "amparado", pelos árbitros, neste arranque de campeonato. Mas, em todos os jogos que beneficiou de favores de arbitragem, mereceu ganhar. Jogue bem ou mal, ganhe com penalties imaginados ou lançamentos laterais, vê-se que o Benfica tem jogo e jogadores. E o Sporting, não: nem uma coisa nem outra. Em jogo jogado, chega a ser confrangedor, e, no que respeita às 16 novas aquisições, onde investiu 30 milhões de euros, tirando o Jéffren, que ainda não vi jogar, e o Elias, que preciso de ver mais... valha nos Deus! Se aquilo é «a grande equipa» de que fala Godinho Lopes, eu só posso dizer que se confirma a minha tese de que, para dirigir um clube de futebol, convém que se perceba alguma coisa de futebol - da mesma maneira que, para dirigir uma imobiliária, convém perceber alguma coisa de terrenos, construção e mercados. Talvez seja por isso que, Pinto da Costa (que não deve distinguir uma estaca de uma sapata), ganha tantas vezes mais do que os outros...

Em minha modesta opinião (que, repito, pretende tudo menos ofender quem quer que seja), este novo Sporting é, quanto muito, candidato a bater-se por um lugar na l.iga Europa do ano que vem. E também penso que, em lugar de jogar a cave num autocarro de jogadores estrangeiros sem valor demonstrado, teria sido mais prudente começar por comprar este ano apenas três ou quatro, mas daqueles que fazem verdadeiramente a diferença e entrariam de caras na equipa, melhorando-a logo. E para o ano voltariam a comprar outros dois ou três de categoria indiscutível e o mesmo no ano seguinte: daqui a três anos, gastando menos, escolhendo bem melhor e integrando os novos aos poucos, o Sporting teria, de facto, formado uma equipa e poderia, talvez, lutar pelo título. Assim, é de temer que se limite a lutar pela simples sobrevivência. Desportiva e financeira.

3- Na terça feira passada, na antevisão ao Leiria-Porto, um desses jornalistas embbeded no FC. Porto, que seguem todo o dia-a-dia do clube e que é suposto estarem melhor informados do que qualquer mortal cidadão, garantia que a grande estrela em ascensão no Dragão era o Cristian Rodriguez, e que o FC Porto iria jogar em Leiria com ele e Hulk nos flancos, ou, na impossibilidade de Hulk alinhar, jogariam Varela e Rodriguez. E eu perguntei-me: então e o James, esse menino que integrava o fenomenal póquer de ases de Vilas Boas (Álvaro, Falcão, Hulk e James)? Será que o jornalista acha que o Vitor Pereira é cego ou incompetente? Felizmente, não é, como se viu. James Rodriguez só não é o melhor jogador do campeonato por que existe também o Hulk. Mas vai ser rapidamente um dos melhores jogadores do mundo, porque tem tudo para isso. Com o regresso dele e do Alvaro Pereira, tivemos de volta a decisiva asa esquerda do grande FC Porto da época passada. O Deffour também deixou grandes sinais e ainda falta ver o Iturbe e o Danilo. Cheira-me a outra grande época. E espero que já esta noite, contra a dificílima equipa ucraniano-brasileira do Shakhtar, o cheiro a fumo se transforme em labareda. O Shaklar é a chave do grupo - um grupo incomparavelmente mais difícil e cansativo que aquele que saiu em sorte ao Benfica. Mas o caminho dos campeões é sempre mais complicado.

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