quarta-feira, novembro 02, 2011

UM DRAMA SÉRIO, OUTRO MENOR (08 FEVEREIRO 2011)

1- O drama sério é do Sporting. Estará o Sporting em vias de extinção ou de definitiva subalternização? Eu acho que sim e já aqui o escrevi: por razões objectivas, de ordem sociológica, desportiva, financeira. O mundo pula e avança e o Sporting ficou para trás, enquanto o mundo fugia à sua frente. Duvido que o atraso seja já recuperável.

Sexta-feira passada, na minha qualidade de adepto de futebol, quis assistir ao último jogo de Liedson com a camisola do Sporting, por respeito ao grande jogador que ele foi no campeonato português. E, tal como me comovi com o último jogo de Rui Costa pelo Benfica, também me comovi agora com a dramática despedida de Liedson de Alvalade. Uma despedida que mais parecia a despedida do próprio Sporting de qualquer ilusão que ainda pudesse alimentar sobre o seu regresso a curto ou médio prazo aos tempos idos de glória. Sejamos francos: mesmo aos 33 anos de idade, Liedson era o único bom jogador que restava ao Sporting. O resto é tudo banal e não há treinador algum que possa dar a volta a essa incon-tornável evidência: não fosse a capacidade de Liedson de pela última vez resolver, e o Sporting ter-se-ia despedido dele com uma derrota caseira frente à Naval, o último do campeonato. E uma derrota que teria sido mais do que justa, face ao futebol mostrado por ambas as equipas.

Mas o drama vai muito para além disso: passa pelo horrendo novo Estádio José Alvalade, onde o clube acabou por se arruinar, por um relvado que nem sequer consegue ser ele verde e que até já se congemina tornar artificial (!), continua pela insustentável situação financeira de curto prazo, que obriga a vender Liedson para pagar salários aos outros e dívidas ao próprio, e acaba com o lastimável folhetim dos candidatos ao lugar maldito de presidente do clube.

Todos os dias aparecem novos candidatos ou putativos candidatos ao cargo de presidente do Sporting, alguns dos quais, manifestamente, apenas para viverem os seus trinta minutos de fama, projectando-se à conta do nome do clube. Há dias, por exemplo, vi a entrevista à TVI desse tal candidato-empresário de quem tanto se fala, com ligações a Angola e milhões para investir. Fiquei impressionado: o candidato, pose e prosápia à parte, nem sequer conseguiu exprimir uma ideia que se entendesse, e em português fluente. Nem ao menos conseguiu explicar o que era o tal fundo — quanto seria, quem investiria nele, como é que se propunha gastar o suposto dinheiro do fundo a comprar jogadores sem pagar as dívidas à banca e continuar a ter crédito. O projecto (palavra mágica que todos usam), era apenas uma amálgama de lugares comuns, disparates sem sentido e grandezas imaginadas, tais como «os milhões de sportinguistas que agora nos escutam» ou «as centenas de milhar de sócios do Sporting». De fora, estas coisas vêm-se melhor e eu também vi assim Vale e Azevedo tomar conta do Benfica, perante o entusiasmo dos sócios e o delírio incontinente dos jornalistas benfiquistas.

Temo que o desespero acabe por ditar o, suicídio por parte dos sócios do Sporting. E, embora sabendo que irão interpretar isto que escrevo de má-fé, ou atribuindo-me a mim má-fé, digo, para que conste, que tenho pena que isso suceda. Faz falta uma terceira parte na guerra pela hegemonia do futebol português.

2- O drama menor é o do actual FC Porto. Escrevi aqui há quinze dias: «O desfecho próximo e feliz desta equipa do FC Porto está nas mãos do departamento médico: quanto mais tempo demorarem a devolver Falcão e Álvaro Pereira, maiores são as hipóteses de o FC Porto não passar incólume pelo conturbado mês de Fevereiro. Ao menos a tempo do joguinho do dia 2...»

De facto, o que mais ou menos tem safado o FC Porto, é que, durante as longas ausências de Álvaro Pereira e Falcão, nos arrastados meses de Dezembro e Janeiro, apanhámos um calendário excepcionalmente favorável, com três quartos dos jogos disputados em casa e três quartos deles contra equipas fáceis. Isso, mais o génio à solta de Hulk, serviu para disfarçar tanto quanto foi possível os erros de contratações da pré-época: não se preencheu o imenso lugar vazio de Bruno Alves no centro da defesa; sem Álvaro Pereira, não há quem faça o corredor esquerdo; falta um verdadeiro médio de ataque ao lado do Belluschi, que não seja o inócuo João Moutinho ou o triste e deprimido Rúben Micael; não há quem nos livre dos constantes sobressaltos e baldas de Fernando; e não há, claro, nem sombra de alternativa a Falcão (e pensar que pagaram seis milhões por 75% do passe de Walter, enquanto Liedson foi vendido por dois milhões e Matheus por milhão e meio!).

Mas, chegados ao tal joguinho do dia 2, o primeiro a doer, o departamento médico do FC Porto não conseguiu recuperar nem Álvaro Pereira, nem Falcão e ainda deu baixa ao único central de jeito que por lá anda — Otamendi. E foi o que se viu: em 25 minutos, o eixo do mal — Helton, Rolando, Maicon e Fernando — tinha entregue a eliminatória da Taça ao Benfica. Os quatro têm em comum várias coisas: serem o eixo frontal da defesa, aquele que não pode falhar; serem todos altos, mas lentos e simultaneamente precipitados, sem pensar antes de executar; terem todos imensas dificuldades em fazer passes de meia-distância e em sair com a bola jogável da defesa. Escreveu-se que Jesus deu um banho de táctica a Villas Boas, com a estratégia da «pressão alta». Bom, não digo que não, mas, alta ou baixa, basta pôr pressão naquele quarteto e algum ou alguns deles hão-de falhar. Para azar nosso, naquela noite falharam todos ao mesmo tempo. Acontece que, tirando o jogo com o Benfica, há três ou quatro jogos, há um mês, que Helton não tem de fazer uma única defesa, porque os adversários, pura e simplesmente, não rematam à nossa baliza. O Benfica rematou três vezes e marcou dois golos. Não foi o Benfica que ganhou o jogo, foi o Porto que o entregou. A tal «pressão alta» só existiu até ao 0-2: a partir daí, o Benfica só defendeu — defendeu bem e em pressão baixíssima, mas nada mais. E Villas Boas ainda deu uma ajuda, com três substituições a despropósito e a destempo. É verdade que o banco é uma tristeza, mas tirar James para pôr Rodriguez e tirar Belluschi para pôr Guarín foi entregar o resto do ouro ao bandido. Extraordinária a sua declaração, quando o questionaram sobre a ausência de um ponta-de-lança no banco- podia ter dito, e todos o percebiam, que, entre Walter e ninguém, tinha preferido ninguém, apostando em como não iria precisar de um ponta-de-lança. Mas, em vez disso, saiu-se com a inimaginável explicação de que Guarín, Rúben Micael, Rodriguez e Mariano (!) lhe davam «garantias de profundidade ofensiva». Viu-se: nem uma oportunidade de golo em toda a segunda parte!

A seguir, ainda houve que suportar o penoso jogo contra o Rio Ave, onde Hulk se apagou (também tem direito a um dia de folga!), e o Porto se reduziu à condição de equipa banalíssima. «Sobrecarga de jogos», explicou André Villas Boas. Como? Contra o Gil Vicente, o Beira-Mar, o Nacional, o Tou-rizense ou o Rio Ave («uma excelente equipa», como sentenciou Varela) — tudo no Dragão? Bem, a seguir vem o Braga, fora, e o Sevilha. Felizmente, não vou estar cá para ver, vou apenas sofrer à distância, de muito longe. E angustiado por saber que temos apenas três grandes jogadores — Hulk, Álvaro e Falcão — e outros três bons, mas intermitentes — Belluschi, James e Varela. E que, quem de três tira dois, fica absolutamente exposto, que é o que nós estamos agora. Oxalá esta curta manta consiga ainda ir encobrindo os pés e tapando a cabeça!

3- Vendido por 25 milhões (35 é cosmética para jornalistas amigos), David Luiz foi muito bem vendido. Muito embora longe dos 50 milhões que Luís Filipe Vieira se gabava de ter como oferta há um ano, a verdade é que, em minha opinião, David Luiz não vale 25 milhões: Bruno Alves é bem melhor do que ele e foi vendido por menos. E as suas abundantes cotoveladas na cara dos adversários não gozarão em Inglaterra da mesma impunidade que aqui sempre foi lei.

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