quinta-feira, novembro 17, 2011

TRÊS BANDEIRAS CONTRA A INVEJA, EM IPANEMA (22 FEVEREIRO 2011)

1- Vitória tranquila e justa do Benfica em Alvalade. Não há comparação alguma entre as duas equipas e o momento psicológico que atravessam e não era de esperar outro resultado.

Órfão de Ledson, o seu único jogador de categoria, o Sporting teve também teve a sorte do jogo contra si: Evaldo castigado, Maniche auto-castigado, Daniel Carriço impedido e o próprio treinador suspenso, na bancada. Depois, teve azar nas ocasiões em que bem podia ter empatado, entre o 0-1 e o decisivo 0- 2, e não teve sorte nas decisões da arbitragem. Mas o Benfica entrou para ganhar e chegou rapidamente ao 1-0, tirando partido da falta de ritmo de Grimi para acompanhar Salvio, num momento fatal, chegou ao 2-0, num duplo golpe de sorte; erro de avaliação do árbitro e autogolo de Polga.

Não há nada a dizer sobre a justiça da vitória do Benfica, alicerçada não num grande jogo, mas no aproveitamento de mais uma manifestação da impotência do Sporting. Mas, se eu fosse como alguns advogados benfiquistas, podia dizer o seguinte: que Artur Soares Dias, um árbitro do Porto com categoria e personalidade, cometeu — como todos os árbitros sempre cometem — erros importantes e sempre em favor do Benfica. Merece o benefício da dúvida num hipotético penalty de Coentrão sobre João Pereira, ainda com 0-0; anulou bem um bonito golo de Matias Fernandez e não pactuou com o tipo de jogo a roçar a violência que o Benfica exibiu entre os dois golos e que ja havia mostrado no Dragão e na final da Supertaça. Mas perdoou uma cotovelada intencional de Cardozo na cara de um adversário, que, no tempo de Deco e Quaresma no FC Porto, daria expulsão ou sumaríssimo, mas que no Benfica passam sempre impunes; perdoou outro vermelho directo a Jardel por uma autêntica agressão à cabeçada sobre Cristiano e, pior que tudo, transformou em livre à entrada da área e amarelo para Polga um corte limpíssimo, que teria merecido, sim, o amarelo a Gaitan por simulação: por ironia das coisas, do livre resultaria o golo que matou o jogo, com pontapé de Gaitan e desvio decisivo de Polga.

Resta um facto que dá que pensar: o Sporting utilizou 14 jogadores, dos quais 10 portugueses; o Benfica utilizou os mesmos 14 jogadores, dos quais 2 portugueses. E o duelo Benfica-Porto segue até final.


2- Como aqui escrevi na semana passada, não consegui ver, no Brasil, nem o Benfica-Guimarães nem o Braga-Porto e confiei nos relatos generalizados e coincidentes de diversas fontes publicadas para extrair a conclusão que os triunfos de benfiquistas e portistas tinham sido justos e incontestáveis. Afinal, precipitei-me: faltava-me a opinião, sempre isenta, de Sílvio Cervan. Por ele, e confiando na sua honestidade intelectual, que não se discute, fiquei a saber que, afinal, a vitória do Porto em Braga foi apenas «mais um jogo ganho por decisões incorrectas da arbitragem». Aliás, acrescenta ele que o mérito da liderança folgada do FC Porto neste campeonato tem de ser dividido «com um vasto plantel da arbitragem portuguesa» (ficará alguém, de fora, algum árbitro sério, aos olhos de um benfiquista sério?). E ainda fiquei a saber que André Villas Boas não passa de um «adjunto de Vítor Pereira» e que sente uma imensa «pena e tristeza» por não ter disputado a Champions e não treinar «um clube da dimensão do Benfica» (dimensão bem patente na sua recente e fulminante carreira na Champions, acrescento eu).

Também li, segundo relato de Rui Moreira, que outro ilustre benfiquista. Rui Gomes da Silva, preferiu atribuir a razão da liderança portista à falta de empenho dos adversários que enfrenta. O último em data, terá sido, presumo o SC Braga, em quem os benfiquistas depositavam tantas esperanças para atrasar o FC Porto. É, de facto, suspeito que se tenham deixado bater pelos portistas em sua própria casa. Já que o mesmo SC Braga se tenha deixado bater este domingo em casa pelo Paços de Ferreira (que já lá linha vencido também para a Taça da Liga), ou que o V, Guimarães se tenha deixado bater tão tranquilamente na Luz, isso, claro que não levanta suspeita alguma.

Já aqui o tenho reconhecido, este ano como no ano anterior, que o Benfica está a jogar bom futebol. Acho, pois, perfeitamente natural que ganhe, mesmo que haja decisões arbitrais que o beneficiem pontualmente: uma equipa que ataca quatro vezes mais do que os adversários, como sucede com o Porto e o Benfica, tem muito mais hipóteses de beneficiar, por exemplo, de golos obtidos em off-side não assinalado ou de penalties mal assinalados. Mas no inicio da época, todos vimos os erros próprios cometidos pelo Benfica, desde os frangos de Roberto aos enganos estratégicos de Jorge Jesus, passando pelo desinteresse de David Luiz e a baixa de forma ou de empenho dos mundialistas e não só. Como resultado disso, o Benfica perdeu nas quatro primeiras jornadas um acervo de pontos para o FC Porto (depois acrescentado com a tareia sofrida no Dragão), que constitui o atraso que hoje tenta desesperadamente recuperar. Mas, para os advogados benfiquistas, a explicação para o atraso é outra e apenas esta: a arbitragem. Que, por coincidência, só os prejudicou quando eles estavam a jogar mal. E agora, que estão de novo a jogar bem, os benfiquistas não aceitam e fingem não perceber como é que, de direito próprio, não vão à frente do campeonato — nem que, para tal, se tenha de apagar dos registos aquelas fatídicas quatro jornadas iniciais.

Já quanto às vitórias do FC Porto, o raciocínio de Rui Gomes da Silva e de Sílvio Cervan é cristalino: ou se devem a erros dos árbitros ou a falta de empenho dos adversários. Mérito próprio é que jamais.

Infelizmente para as verdades benfiquistas, existe um território onde a tão invocada «verdade desportiva» pode ser apreciada sem intermediários de outra espécie: chama-se Europa. E, nessa Europa da verdade desportiva, os factos mostram que o Benfica, depois de uma campanha na Champions que envergonhou o País e não apenas as suas cores, depois de ter conseguido a proeza de perder por 0-3 contra os campeões de Israel e ter estado a dois minutos de até perder para eles o terceiro lugar do grupo, estreou-se na Liga Europa jogando em casa contra o penúltimo do campeonato alemão e o mais que conseguiu foi um tangencial e sofrido 2-1. Já o FC Porto, desfalcado dos árbitros amigos e da amizade colaborante dos adversários, e também e ainda (!) desfalcado de Alvaro Pereira e Falcão, foi a Sevilha ganhar 2-1 e situar o seu registo desta temporada europeia num impressionante conjunto de oito vitórias e um empate em nove jogos disputados. Este é o argumento para o qual, de há vinte e cinco anos para cá, os benfiquistas não conseguem encontrar uma resposta que evite o ridículo em que esbracejam, tentando manter-se à tona.


3- A praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, é um paraíso para os amantes de futebol. Assim que o céu desce no horizonte, acendem-se as luzes da praia e começam sucessivos jogos de futebol de areia e futvólei, balizas contra balizas, redes contra redes, ao longo de seis quilómetros de praia, desde o Arpoador ao Leblon. Nessa altura do dia, já fecharam as barraquinhas de comes e bebes e aluguer de cadeiras e guarda-sóis, separadas umas das outras por uns 50 metros e cada uma delas hasteando ao alto a bandeira do clube do coração do seu dono. Como seria de esperar, abundam as bandeiras dos clubes do Rio - Fla, Flu, Bota, Vasco — mas também do Corinthians ou do Grémio de Porto Alegre. E o mais curioso é que só há um clube estrangeiro representado em toda a praia. E querem acreditar que é um clube português? Quem será - o Sporting? Não, eles só descobriram agora que o Sporting existe e graças à ida do Liedson para o Timão (o Corinthians, de S. Paulo). É o Benfica, claro, o clube dos seis milhões em Portugal e mais doze no mundo inteiro? Não, também não é o Benfica.

Meus caros amigos: tenho a declarar que, neste Verão de 2011, a única bandeira de um clube não brasileiro hasteada na praia de Ipanema, na cidade maravilhosa de S. Sebastião do Rio de Janeiro, é do grande FC Porto, que Deus o tenha assim por muitos e bons anos! E mais, acreditem ou não: não é uma bandeira do FCP, voando ao vento de Ipanema: são três! Três bandeiras em três diferentes barraquinhas de praia! Ora, tomem lá, seus invejosos!

Impõe-se uma urgente visita de uma embaixada benfiquista eloquente, comandada por Luís Filipe Viera e integrando o Cervan, e o Gomes da Silva, o APV, o RAP, o Barbas e a Carolina Salgado para abrir lá, se não existe, uma Casa do Benfica, ou, melhor ainda, para comprar uma barraquinha de praia com direito a bandeira hasteada. Afinal, para que serve o recorde do Guiness Book?

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