quarta-feira, setembro 26, 2007

QUEM TEM MEDO COMPRA UM CÃO, NÃO COMPRA UMA EQUIPA ( 14 Agosto 2007)

Optando por não encaixar na equipa nenhum dos reforços que pediu e obteve, optando por dispensar o talento e o imprevisto que deixou sentados no banco, em benefício de um futebol previsível e inócuo, Jesualdo ficou sentado à espera do erro do adversário. E lixou-se. Ele, sozinho, perdeu a Supertaça para Paulo Bento. Haverá, ao longo da época e tal como na anterior, muitas ocasiões para o elogiar, segundo espero. Desta vez não houve.


Caros leitores portistas: este texto, e esta reflexão, é só para vocês. É o primeiro da nova época e deve ficar só entre nós. Quando vos deixei para ir de férias tínhamos acabado de vender o Anderson e o meu último texto foi quase de raiva: entendi, e continuo a entender, que o Anderson foi muito mal vendido. Foi vendido prematuramente, antes de ter ainda dado o suficiente ao clube e antes ainda de se poder valorizar muito mais, porque ele vai ser um caso sério no futebol. Foi vendido à pressa, para tapar o buraco dos 30 milhões de prejuízos de gestão da SAD. Depois disso foi vendido o Pepe — e, esse sim, foi bem vendido, porque, apesar de eu vir escrevendo que ele era o melhor central que eu via a jogar, 30 milhões por um central são irrecusáveis.

Dos três verdadeiramente fora de série que tínhamos para vender resta o Quaresma. Não sei, ninguém sabe, se virá ou não a ser vendido, mas com as vendas do Pepe e do Anderson e depois de termos sido o clube do mundo inteiro que mais facturou no defeso com vendas, não é difícil afirmar, como o fez Pinto da Costa, que este ano o FC Porto vai dar lucro. Era o que faltava que não desse! A questão está em saber se para o ano será preciso vender o Quaresma, mais o Leandro Lima, para tapar mais uns 30 milhões de prejuízos da gestão corrente…

O cerne da questão é sempre o mesmo: ano após ano o FC Porto vende poucos e bons e compra muitos e maus. E o dinheiro da venda de uns esgota-se a sustentar os outros. Um portista mais compreensivo dizia-me há dias que só comprando muitos é que se consegue comprar um Anderson e um Pepe de vez em quando. Como se estivéssemos a falar de melões. Mas não é preciso perceber muito de futebol para ver que um Mareque, um Renteria e outros que tais jamais poderiam transformar-se em Pepes ou Andersons — e por isso mesmo é que já foram emprestados, seis meses depois de terem sido comprados.

Este ano, quando inicialmente parecia que iria haver mais contenção, afinal a história acabou por se repetir: foi comprada uma equipa inteira, uma dúzia de jogadores — dos quais três foram directamente emprestados. Dos que não interessavam (do meu ponto de vista…) só um foi vendido: o Ricardo Costa. Os outros ou foram emprestados, com os encargos a cargo do clube, ou «esperam colocação» ou «treinam-se à parte», ou estão como excedentários no núcleo principal. Porque, nestas coisas, os grandes clubes compradores não se enganam: eles querem é os verdadeiramente bons. Os outros, aqueles que, segundo a imprensa amiga, «têm muito mercado», continuam à espera. Ou seja: vende-se o Anderson mas segura-se o Lucho, vende-se o Pepe mas segura-se o Raul Meireles. Pois…

Enfim, entraram 12 novos. Presumo que todos tenham tido o aval do treinador, como seria de esperar. Presumo igualmente que foi com o seu aval que o Ibson e o Diogo Valente foram dispensados, que flanqueadores como o Alan e o Vierinha (este sem nunca ter tido oportunidades para confirmar as boas indicações iniciais) foram emprestados. Presumo também que foi por sua vontade que o FC Porto foi buscar jogadores como o Nuno, o Luís Aguiar, o Bolatti, o Edgar ou o Lino. Presumo que, como seria de esperar, os que entraram são melhores que os que foram dispensados. E que só os foram buscar porque se considerou que eles constituem uma mais-valia para a equipa. E é presumindo tudo isso que não consigo entender como é que, 12 compras depois, Jesualdo Ferreira não tem para apresentar, no primeiro jogo oficial da época, nenhuma cara nova na final da Supertaça. Se não há nenhum com entrada directa na equipa (o Sporting teve quatro…), para que os quis? Se era para serem suplentes não serviam os outros que deitou fora?

Jesualdo preparou quase cientificamente a derrota na Supertaça com o Sporting. Sim, eu sei, houve um penalty por marcar, três bolas aos postes, uma jogada de golo interrompida sem explicação razoável pelo nosso conhecido Bruno Paixão e um adversário, chamado Izmailov, que, depois de um jogo inteiro a dormir, arrancou um pontapé do outro mundo. Mas a verdade é que ele perdeu contra uma equipa do Sporting que mostrou defender bem mas nada mais que isso. E é a segunda vez que o consegue e, francamente, começa a irritar.

Percebi que o FC Porto iria perder o jogo quando ouvi as declarações de Jesualdo Ferreira, antevendo a partida. Disse ele que o jogo seria resolvido por um erro de alguma das duas equipas. Enganou-se, mas o importante é que essa declaração mostrou logo que a sua única táctica para a vitória era confiar num erro do adversário. Por si, pelo valor da sua equipa, ele não esperava chegar lá.

E, quando se apresenta um meio-campo formado por Paulo Assunção, Marek Cech e Raul Meireles — três jogadores que só sabem jogar para os lados ou para trás —, é difícil conseguir chegar aos golos que dão as vitórias. Pelo que vi na pré-época, Jesualdo só tem uma estratégia para o golo: bola para o Quaresma e ele que resolva. Mas, ou o Quaresma é vendido, ou é arrumado, como fizeram ao Anderson, ou é judiciosamente castigado, como na época passada, ou rebenta de exaustão. Depois de 12 jogadores comprados, a mim parece-me que não é de mais exigir que o treinador tenha outras alternativas e as ponha em jogo.

Acontece que, pelo que se viu nos jogos de preparação, até parece tê-las. Há dois jogadores que podem ser uma clara mais-valia: Mariano González e Leandro Lima. Mas Jesualdo só os meteu em campo quando o jogo já estava perdido, porque, e seguindo uma sábia escola de alguns treinadores muito científicos, o talento é uma coisa perigosa e que precisa de ser vigiada. Os jogadores medíocres têm sempre utilidade, os bons é que precisam de «ser integrados aos poucos». O Anderson e o Quaresma, por exemplo, estiveram cada um deles um ano a ser integrados aos poucos…

Optando por não encaixar na equipa nenhum dos reforços que pediu e obteve, optando por dispensar o talento e o imprevisto que deixou sentados no banco, em benefício de um futebol previsível e inócuo, Jesualdo ficou sentado à espera do erro do adversário. E lixou-se. Ele, sozinho, perdeu a Supertaça para Paulo Bento. Haverá, ao longo da época e tal como na anterior, muitas ocasiões para o elogiar, segundo espero. Desta vez não houve.

PS — Tenho-me divertido a sério a ler as notícias das filmagens da Corrupção. Tenho-me divertido a sério a ler nas entrelinhas o embaraço da dr.ª Morgado com o depoimento da irmã da D. Carolina. Tenho-me divertido a sério a ler a minha colega Leonor Pinhão a explicar que o FC Porto é que provocou um conflito com a TAP para incendiar a «guerra Norte-Sul». E tenho-me divertido a sério a ler o José Manuel Delgado a fazer apelos ao comendador Berardo para que meta dinheiro no Benfica, antes que acabe a época de compras. Digo-vos sinceramente que, para quem não é benfiquista nem autista, tudo isto só dá vontade de rir.

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