sexta-feira, maio 13, 2005

O fim de uma grande equipa (12 Abril 2005)

A imagem de Pinto da Costa amordaçado ao lado de João Loureiro marcou-me tanto, em simbolismo, como a própria imagem da impotência revelada em campo por esta milionária equipa, que actualmente discute o 5.º lugar do campeonato e custa mais 25 por cento que a equipa do ano passado, que foi campeã da Europa.




1- Há um ano atrás Pinto da Costa teria estado sentado no banco durante o jogo do Bessa. E o FC Porto teria jogado para ganhar e teria ganho, como era próprio do campeão europeu e de uma equipa que espalhava perfume e pânico em todos os estádios do País. Neste triste ano de 2005, sábado passado, sentado ao lado de João Loureiro-como se fossem amigos!
-, Pinto da Costa assistiu, do alto do camarote presidencial do Bessa, a mais uma tranquila derrota do FC Porto, às mãos de uma equipa cujo orçamento é 10 por cento daquela que o presidente do FC Porto e alguns dos membros da sua Direcção construíram para esta época.

A imagem de Pinto da Costa amordaçado ao lado de João Loureiro marcou-me tanto, em simbolismo, como a própria imagem da impotência revelada em campo por esta milionária equipa, que actualmente discute o 5.º lugar do campeonato e custa mais 25 por cento que a equipa do ano passado, que foi campeã da Europa. Pela enésima vez, para que não haja confusões, repito que o erro não foi a venda de jogadores, que encheu a tesouraria do clube: o erro foram os seis milhões de contos ou mais gastos em pérolas como Diego, Fabiano, Postiga, Areias, Raul Meireles, Cláudio Pitbull, Leandro, Leo Lima ou Hugo Leal. O erro foram as dispensas de Paulo Assunção, Thiago e Rossato-comprados e nem sequer testados - ou de Carlos Alberto e Hugo Almeida-um devolvido de borla, o outro emprestado justamente ao Boavista, que, graças a ele, poderá até roubarnos um lugar na Liga dos Campeões, para o ano que vem. Era impossível gastar mais e fazer pior. Nunca tão poucos conseguiram destruir tanto em tão pouco tempo.

Como consolação poderia pensar- se que, ao menos, a lição foi aprendida.Mas não: já se anuncia para o ano que vem uma série de contratações, feitas de cima para baixo, em entendimento entre dirigentes e empresários, sem aval do treinador, e que hão-de conseguir reduzir a zero os ganhos que José Mourinho depositou no cofre do clube: ele é Lucho Gonzalez, ele é Lizandro López, ele é o grego Katsouranis, ele é aquele guarda-redes do Setúbal de que a única referência que se conhece
é o frango dado contra o Benfica (quando há tantos bons guarda-redes com provas dadas na SuperLiga...), ele é até a inverosímil hipótese do Sokota, típica jogada à Pinto da Costa e desperdício escandaloso para quem tem, para o mesmo lugar, McCarthy, Postiga, Fabiano, Hugo Almeida e Bruno Morais. E, no meio de tantas compras já anunciadas, mais as que
virão durante aquele ruinoso mês de Julho, mais a clássica e ridícula aquisição- surpresa da noite da apresentação, vão sobrar 30 ou 40 jogadores sem lugar no plantel e a quem o clube terá de pagar ordenado para jogarem noutros lados, na equipa B ou em lado nenhum. Por algum estranho bloqueio mental, os homens da SAD do FC Porto são os únicos portistas que ainda não perceberam que o interesse estratégico imediato do clube e da sociedade não é comprar, é vender; não é aumentar o número de jogadores mas livrar-se daquela multidão de excedentários, que o asfixiam financeiramente e contribuem para que se instale um espírito de mercenariado que está brilhantemente documentado na prestação desta época.

2- Se aceitar, sem estrebuchar, a equipa que a SAD e os srs. Jorge Mendes e Paulo Barbosa lhe quiserem dar para o ano, José Couceiro estará a pregar os pregos no caixão onde lhe hão-de fazer o enterro.

No Bessa ele terá percebido definitivamente que, tirando Baía e Jorge Costa, já não há ali mais ninguém que carregue consigo a atitude de inconformismo e de conquista que fez a glória desta equipa. Dos restantes, uns são bons mas não sabem o que andam a fazer, outros já baixaram os braços e outros são simplesmente maus-por mais dinheiro que tenham custado ou por mais que se imaginem bons.

No Bessa, também levado pela falta de confiança geral, ele pagou o erro de, mais uma vez - tal como em Milão -, ter enfrentado um jogo, onde só lhe interessava ganhar, desfalcando o ataque, com Quaresma no banco e Bosingwa remetido a uma função de falso extremo-direito, para que não revelou talento nem entendimento. Depois, quando o Boavista marcou o seu golozito fortuito da ordem e passou a defender com 11 atrás da bola, já era tarde para virar as coisas. Teve azar o FC Porto, sim, teve azar, mas a sorte só ajuda os audazes. E também, como eu tinha previsto, o Boavista que saiu ao FC Porto era o habitual e não o de facilidades que esta época saiu sempre ao Sporting e ao Benfica. Mas isso era mais que previsível e, por isso, a única hipótese de vitória era tentar a todo o custo marcar antes deles. Era um jogo para arriscar tudo de início. Para agir por antecipação e não reagir por desespero. Couceiro não quis arriscar, perdeu tudo. E nesse tudo inclui-se, por mais escandalosa que a hipótese possa ser, a possibilidade de o FC Porto nem sequer ficar entre os três da frente que disputarão a Liga dos Campeões, graças aos pontos amealhados... pelo FC Porto.


3- No final do jogo de Vila do Conde, depois de ter afirmado que, para o Benfica, cada jogo é agora uma final, Petit lamentou que o Rio Ave tenha jogado como se o jogo fosse também para eles uma final-«como se houvesse mais qualquer coisa por trás». Infelizmente para o infeliz Petit, o repórter de serviço, ao contrário do que lhes é habitual, não se deixou
ficar com a insinuação e obrigou-o a concretizar. Ao que ele respondeu que essa mais qualquer coisa seriam «uns incentivos». Ficámos assim a saber que o Petit acha que as outras equipas, ditas menores, têm a obrigação de não dar o seu máximo contra o Benfica; que, se o fizerem, é porque foram pagas pelos adversários do Benfica; e que, sendo pagas para jogar o máximo, o Benfica não chega para elas. Eis como eles se propõem ser campeões.

Pois eu, de facto, também tenho ouvido uns rumores sobre incentivos, que envolvem várias equipas pagantes - a minha incluída. Acontece, porém, que tal não é ilícito - em Espanha, por exemplo, é feito à luz do dia.Mas também tenho ouvido outros rumores de sinal contrário, desde o início deste campeonato, e, esses sim, ilícitos e envolvendo pura e simples corrupção. Nunca o escrevi nem concretizei, como o Petit, porque não tenho senão rumores sobre o assunto. Mas, agora que o Petit certamente irá ser chamado pelo Conselho de Disciplina da Liga e pelos investigadores do Apito Dourado para provar o que disse, vamos seguramente conhecer toda a verdade.

4- Para as contas daqueles sportinguistas que são capazes de citar abundantemente os casos em que acham que o Sporting foi prejudicado e o FC Porto beneficiado pelas arbitragens, mas sempre esquecem os casos opostos, certamente não entrará o golo legalíssimo do Beira-Mar, em Alvalade, e que, se não tivesse sido erradamente anulado, teria ditado outra história para o jogo e, quem sabe, para a classificação final do campeonato. Mas eles são assim mesmo: na semana passada viram, como eu vi, a mão do Jorge Costa no jogo contra o Gil Vicente e que passou sem o respectivo penalty. Mas não viram antes a mão do jogador do Gil que também passou em branco-e havia ainda 0-0. Viram a fantástica cotovelada do McCarthy no Rui Jorge, que valeu a vitória no jogo contra o FC Porto e a suspensão do McCarthy por quatro jogos, em termos práticos, mas
aposto que não viram o coice dado pelo Hugo Viana num jogador do Beira-Mar e que, adivinhem, só mereceu cartão... cor-de-rosa. E aí vão três arbitragens de seguida a empurrar o Sporting para a vitória. É caso para perguntar, como Dias da Cunha: «Quando terminará o escândalo?»

5- Título deste jornal: «Estoril pretende jogar contra o Benfica no Estádio Nacional. SAD do Benfica não se deverá opor à pretensão.» Bruxo! Quem é que se importaria de trocar o quintal da Amoreira pelo próprio campo de treinos? Digam lá que o Estoril não é amigo? Nem sequer guarda rancor pela forma como perdeu o jogo da primeira volta na Luz...

6- Tudo visto e meditado, devidamente considerada a santíssima verdade desportiva, perguntarão os meus leitores: o que deseja um portista para desfecho deste campeonato, considerando, como eu considero, que o FC Porto já não pode nem merece ganhá-lo?

Pois bem, é assim: Benfica e Sporting têm sido - desculpem, mas é a minha opinião - os clubes mais beneficiados pelas arbitragens e pelos efeitos do Apito Dourado e da perseguição do CD da Liga ao FC Porto. Só por isso não merecem ser campeões.Mas acresce que o Benfica não tem futebol para ser campeão e o Sporting não tem atitude de campeão. O
Boavista joga um futebol inapresentável, verdadeira propaganda contra este jogo magnífico. Por exclusão de partes, e por mérito próprio, resta o Sporting de Braga. Seria uma estreia e seria a única justiça digna até aqui neste campeonato.

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