Dizem que houve um penalty «nítido» contra o FC Porto, não assinalado no Restelo. E como foi ele — foi rasteira, empurrão, puxanço? Com a mão, com o braço, com o pé, com o joelho? Quem viu, quem pode descrever ao certo o que se passou, para além da simples presunção?
1- Por vontade expressa da comunicação social (e, devo dizê-lo, particularmente deste jornal) está criado mais um caso de arbitragem palpitante: um, suposto ou real ,penalty não assinalado contra o FC Porto, nos instantes finais do Belenenses-FC Porto.
Se assinalado e convertido, o penalty teria tirado dois pontos ao FC Porto, permitindo, provavelmente (ainda não sei o resultado do Benfica-Guimarães), que o Benfica chegasse às Antas, se-gunda-feira próxima, na confortável posição psicológica de líder isolado. Mas não foi assinalado e daí o desespero.
Ora vejamos: o treinador do Belenenses, Carlos Carvalhal, diz que até do banco viu o penalty; Trapattoni, treinador do Benfica, diz que na televisão lhe pareceu penalty; José Manuel Freitas, aqui em A BOLA, achou o penalty tão flagrante que não hesitou em puxar para título da crónica do jogo a opinião de que o árbitro foi o protagonista do jogo. Foi? Eu acho que não. Tirando esse lance, em que ele, a cinco metros da jogada, não viu o que Carvalhal diz ter visto do banco, o árbitro não teve qualquer decisão com influência no jogo. O que faz com que, de facto, tenha havido outros intérpretes principais. Desde logo mais uma triste e apagada exibição do FC Porto, salva por um canto teleguiado do Quaresma e uma cabeçada fulminante do Costinha. Depois — facto que apareceu como despiciendo em todas as críticas — a ainda pior exibição do Belenenses, que até ao minuto 85
não criou a mais pequena veleidade de oportunidade de golo e que, no fim, queria empatar com um penalty caído do céu (e é clássica esta tentação de transferir para o árbitro a responsabilidade pela incompetência própria). E, finalmente, se querem um protagonista sério, porque não Vítor Baía, que, com duas defesas fantásticas, quando finalmente o Belenenses ousou rematar à baliza (de livre, claro), mostrou que, contra ventos e marés, como dizia o ex, continua a ser o melhor guar-da-redes português?
Mas não. Tratando-se do FC Porto, a única coisa que interessa reter do jogo é o pretenso penalty e, consequentemente, mais um árbitro potencial arguido do apito dourado. Mas, só para que percebam como as opiniões são influenciadas pela filiação clubística, eu direi, contraditoriamente, que não encontrarão um único portista que ache que aquilo foi penalty. Pessoalmente o que eu vi foi um dos inúmeros lances duvidosos dentro da área, entre um avançado e um defesa — ainda mais duvidoso porque, neste caso, era um lance de desespero, quase ao cair do pano e por parte de uma equipa que até aí demonstrara não ter solução alguma para poder chegar ao golo por métodos, digamos, normais. Ora, mandam a experiência e a prudência que árbitro algum marque um possível penalty daqueles, na fronteira de todas as dúvidas. Mas, entre os que comentaram que foi nítido, não encontrei descrição alguma dessa nitidez: foi rasteira, empurrão, puxanço? Com a mão, com o braço, com o pé, com o joelho? Quem viu, quem pode descrever ao certo o que se passou, para além da simples presunção? De uma coisa tenho a certeza: árbitro algum, nas competições internacionais, assinalaria este penalty (e daí, por exemplo, a revolta ingénua dos sportinguistas com a arbitragem do jogo contra o Feyenoord — estão habituados a critérios mais generosos cada vez que o Liedson cai na área...).
Uma semana antes, em Braga, também os bracarenses e o seu treinador reclamaram um penalty «nítido» não assinalado contra o Benfica, ao cair do pano. Mas aí, curiosamente, a coisa passou como um fait-divers ou nem isso. Parece que os penalties reclamados contra uns são sempre mais notícia que os penalties reclamados contra outros. Nada a que a gente não esteja habituada. Uns e outros.
2- Em todo o jogo de Leiria, que me lembre, o Sporting não criou uma só oportunidade de golo, em contraste com o União, que viu Ricardo negar-lhe o golo por três ou quatro vezes. Mesmo assim, no final do jogo o repórter televisivo de serviço não encontrou melhor pergunta para pôr a José Peseiro que saber se o empate do Sporting se tinha ficado a dever a «cansaço» ou «falta de sorte». (Repare-se no pormenor elucidativo de a pergunta já conter e antecipar a desculpa para o entrevistado: cansaço ou falta de sorte. E porque não falta de ambiçao ou faltaa de talento?) Assim ajudado pelo repórter, José Peseiro — que parece ter um efeito intimidatório sobre alguns perguntadores— obviamente agarrou na deixa que lhe dava mais jeito: «Foi falta de sorte», declarou ele. Porque, acrescentou, o Sporting, no resto, «teve uma atitude de campeão». Foi, foi mesmo? E somos todos ceguinhos, não?
3- Como era de prever, o Conselho de Justiça da FPF, chamado a decidir o primeiro dos sumaríssimos em que o Conselho de Disciplina da Liga inventou a nova tese jurídica de que, se alguém recorre de um castigo, ele é logo agravado preventivamente, arrasou esta douta doutrina ad hoc, escrevendo que ela equivalia, na prática, a negar o direito de defesa e de recurso. O beneficiado, para já, foi Nem, do Sporting de Braga, metido ao barulho para melhor embrulhar as punições agravadas de McCarthy e Pedro Emanuel. Mas, se decidiu assim para Nem, é fatal que assim terá de decidir para McCarthy. Nesse caso, e se tivessem um minimo de vergonha, o que os excelentíssimos conselheiros disciplinares da Liga deveriam fazer era demitir-se no acto.
Leonor Pinhão perguntava aqui, no outro dia e em tom inocente, se «nós» defendemos que as cotoveladas fiquem impunes. Não, não defendemos. Defendemos que sejam castigadas. Mas, para que não fiquem dúvidas, defendemos também:
- Que não sejam apenas as cotoveladas a ser castigadas mas também as cuspidelas ou as entradas a matar sobre os adversários;.
- Que sejam castigadas todas e não apenas as dos jogadores do FC Porto;
- E que não se inventem prazos,leis e doutrinas novas para aplicar aos jogadores do FCPorto à medida das conveniências dos adversários.
É tão simples como isto. Ou será que é confuso?
P. S. — Obrigações profissionais levam-me a estar ausente desta coluna na próxima terça-feira. Pior: levam-me para onde, provavelmente, nem terei acesso às transmissões televisivas do FC Porto-Inter e do FC Porto-Benfica. Aqui fica o aviso, não vão alguns espíritos pensar que, por as coisas poderem ter corrido mal para as minhas cores, eu desertei da opinião. Aliás, a previsão normal é que as coisas corram mal contra o Inter e bem contra o Benfica. O que fugir disto será anormal.
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