sábado, maio 29, 2004

DIREITO POR LINHAS TORTAS ( 18 Maio 2004)

1 – O futebol é um bocado como a democracia: convém que haja alternância para as coisas serem saudáveis. E não basta apenas a possibilidade teórica da alternância, é preciso também que ela exista na realidade. De outro modo, é como a democracia na ilha da Madeira, onde ganha sempre o mesmo há 27 anos e nos querem convencer de que ganha com mérito. É salutar, pois, que o Benfica tenha ganho a Taça ao Porto. É salutar para todos, até para os portistas.

Devemos reconhecer que nós, portistas, andamos mal habituados. Perder com o Milan, campeão europeu, na Supertaça europeia, ainda vá que não vá. Perder com esta equipa do benfica, sejam quais forem as circunstancias, dói ainda mais. E, todavia, faz bem. A legião de adeptos do benfica precisava desta experiencia, e nós também. Parabéns ao benfica.

Agora, também, não nos peçam demais, à conta de que não sabemos perder. Com toda a franqueza, acho que o benfica não mereceu esta Taça. Para começar, não mereceu chegar à final, depois de um percurso onde, ou ficou isento, ou jogou sempre em casa, em constrate com o FcPORTO que, eliminou o Boavista e o Braga e Rio Ave, fora de casa. Depois, olho para a estatistica do jogo e, em tudo o que interessa, o Porto foi mais do que o benfica: em posse de bola, em ataques, em remates, em cantos,em bolas à trave. E jogou um hora inteira com um jogador a menos – depois de uma epoca muitissimo mais desgastante e exigente que o benfica e a dias de disputar o mais importante jogo que existe em toda a Europa. E , depois daquele quarto de hora inicial, em que o benfica podia e merecia ter acabado com um ou dois golos de vantagem, só deu Porto. E se o benfica, sem ter criado por si qualquer oportunidade, conseguiu, nos 105 minutos restantes, virar o resultado, é porque Mourinho, não querendo ferir susceptibilidades, deu a baliza a Nuno – com consequencias nefastas. Como dizia no comentário em directo da TVI Luis Norton de Matos ( insuspeito de ser portista), foi com dez contra onze que o Porto demonstrou o porquê da supremacia que tem tido no futebol portugues nos ultimos anos. Que me desculpe Mário Dias, mas não ganhou «a equipa que fez mais para isso». Se alguem se bateu pela vitoria, mesmo em inferioridade numerica, foi o PORTO e não o benfica. Após o jogo, jantando com um grande amigo benfiquista, naturalmente radiante, pedi-lhe que me indicasse o nome de um jogador do benfica que tivesse feito uma grande exibição e ele não foi capaz de me responder, ficou-se «pelo colectivo». Mas eu sou capaz, do meu lado: o Paulo Ferreira que , tirando dois lences iniciais, secou por completo o Simão Sabrosa; o Ricardo Carvalho, inultrapassável, como de costume; o Nuno Valente, excepção feito à agressão ao Giovanni, já no prolongamento, e que teria merecido um cartão vermelho; o Derlei e , obviamente, o Deco – perfeito, não fosse a insistencia em marcar, e sempre mal, os livres perto da area.

Mas nem todos estiveram bem no FCPORTO: o Nuno, que mostrou todas as suas limitações, em particular, as saídas da baliza, entre o cómico e o trágico; Jorge Costa, que devia dar o exemplo a acalmar as hostes e que esteve absurdamente nervoso, até conseguir ser expulso; o Pedro Mendes que, não justifica de todo a opção por um 4x4x2 onde se perde um homem na frente e não se ganha nada em troca, com ele no meio campo; o Costinha e o Maniche, ausentes e desconcentrados ( será coincidencia serem ambos dos mais insistentemente falados para irem para o estrangeiro?); e o Maciel, que parece ter atingido o seu patamar de Peter de ambição ao chegar ao Porto e que está preguiçoso e abúlico: agora vai de fáerias, mas é bom que meta na cabeça que para o ano vai ter que mostrar muito mais que este ano.

E sobra a «farsa», como lhe chamou José Mourinho: Lucílio Baptista. Eu disse-o antes do jogo: era um arbitro sem categoria nem merecimento para a final. Pouco importa que seja internacional e esteja no Europeu: não tem valor para tal, é de um caseirismo indisfarçável, mau tecnicamente, sem saber usar a lei da vantagem e com um criterio disciplinar comendado da bancada.

Ao primeiro minuto de jogo perdoou um amarelo a Fyssas, numa entrada a matar sobre Derlei e aos cinco minutos perdoou outro ao Petit, por entrada identica sobre o Deco – como se a gravidade das faltas dependesse do momento em que são cometidas.

Ao Petit mostrou-lhe o amarelo à terceira falta grosseira que ele cometeu e desfez-se em explicações de que já era a terceira.

Mas ao Jorge Costa, mostrou-lhe um amarelo por cada uma das faltas que ele fez e deixou o Porto reduzido a dez, durante uma hora.

Antes disso, tinha já perdoado o vermelho directo ao Fernando Aguiar por agressão por tras, sem bola, ao Derlei e, depois disso, por achar certamente que nove contra onze era de mais, perdoou a expulsão ao Nuno Valente( mas numa coisa é uma expulsão aos 60 minutos, outra aos 110).

Mas o mais ridiculo foi já mesmo no final, com Petit no chão a ser assistido por caimbras há já 2.10m e ,continuando a ser assistido, ele fez sinal de dois minutos de desconto - e apesar de na jogada anterior se terem gastos 3 minutos só a formar a barreira do benfica para um livre.

Obviamente, e como já se tinha visto nos ultimos dois jogos em Alvalade, Lucilio Baptista acha que lhe cabe a nobre missão de tentar equilibar os jogos em que o FCPORTO é parte.

O que havemos nós de fazer? Esperar que ele se reforme rapidamente e que lá em cima deixem de o proteger. Li que já é a terceira final da Taça que lhe dão: já chega.

E assim se escreveu direito por linhas tortas. Direito, porque, como acima disse, é bom para todos que o benfica tenha ganho a Taça.

Por linha tortas, porque o benfica não mereceu ganhar pelo que jogou e , mais uma vez, fiquei com a ideia clara que, se o arbitro e o estadio não fossem do sul, outro galo cantaria. Se não acreditam, submetam-se à experiencia.

De qualquer modo, a verdade é que, num ano tragico e sofrido, o benfica e a sua falange de adeptos – não todos, mas muitos – mereciam ganhar qualquer coisa. E, em não podendo ganhar o campeonato, ao menos a Taça - o que sempre permitiu à direcção ter umas tshirts preparadas para vestir no final, com a curiosa e sintomatica frase:
« Benfica , campeão da Taça de Portugal»
Campeão da Taça de Portugal? Então , o que será o FCPORTO – campeão do Campeonato?

2- Terça-feira Scolari revela a sua lista de eleitos. Não espero nenhuma surpresa. Se há coisa a que Scolari já nos habituou é a ser previsível. Aposto que vai ser uma lista com todos os suspeitos do costume: esses mesmo, que têm dado tão boa conta de si.

3- Fez este sábado uma semana que o Expresso dedicou quase um número especial a atacar o FC Porto e Pinto da Costa. Citando fontes policiais, o Expresso «sabe» que a juíza vai citar Pinto da Costa para prestar declarações sobre a grave suspeita de em tempos ter oferecido o relógio do centenário do FC Porto a Valentim Loureiro. Indignado com suspeitas de tal gravidade, José António Lima descobriu que Rui Rio fez campanha «contra a promiscuidade entre a política e o futebol» (e eu a julgar que ele só tinha falado no futebol depois de se ver eleito..), e que, por esse facto, Pinto da Costa não escondeu desde logo a sua a «animosidade» contra Rio (e eu a recordar-me que quem abriu as «animosidades, totalmente a despropósito, tinha sido Rio...). Diz José António Lima que agora Rio marca pontos, no momento em que se sabe que o FC Porto esteve envolvido em negociatas com a anterior vereação de Nuno Cardoso. Que negociatas? Segundo o que li, há um inspector da administração do Território que pensa, ao contrário do que pensaram os técnicos camarários, que houve um terreno da CMP permutado com o FC Porto que valia mais 600.000 contos do que a sua avaliação. Até pode ser que tenha razão: as avaliações imobiliárias não são uma ciência certa e variam conforme a opinião. Mas, mesmo que a razão esteja com ele e não com os outros, restaria provar que a avaliação foi uma negociata, como tal, concluída por ambas as partes com o objectivo de beneficiar o FC Porto. Então, e só então, teríamos o crime da ajuda camarária ao FC Porto. Eu pasmo, sinceramente, com isto. Será que no Expresso desconhecem o teor dos contratos celebrados entre a CML e Benfica e Sporting, para a construção dos seus novos estádios? Será que desconhecem o valor das ajudas envolvidas? E, por acaso, ninguém no Expresso terá lido a notícia deste jornal, quinta-feira passada, relatando a visita do Marítimo ao presidente do governo regional da Madeira? Eu recordo o que disse o presidente do Marítimo, Carlos Pereira: que «o governo regional é um grande parceiro de negócio», o que permite ao Marítimo estar em situação financeira «equilibrada, ao contrário de outros que foram considerados modelos de gestão desportiva e financeira e hoje é o que se sabe». E, para provar que o Marítimo também não é ingrato para com o seu «grande parceiro » de negócios, Carlos Pereira revelou que o clube «não vai pressionar o governo para nos pagar os prémios pela conquista da UEFA». Perceberam bem: na Madeira, o governo regional dá prémios financeiros ao Marítimo por este ter conquistado o sexto lugar do Campeonato. O que tem a dizer a isto o José António Lima?

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