terça-feira, julho 30, 2013

QUANDO NÃO SE QUER APRENDER, NÃO SE APRENDE MESMO (16 ABRIL 2013)

1- É verdade que tivemos o Del Neri, aquele surrealista italiano que pegou numa equipa que tinha acabado de ser campeã da Europa com um futebol assente na força e criatividade do meio-campo e resolveu inventar o futebol de sobrevoo: a bola era directamente batida pelos defesas ou pelo Baía em longos pontapés para o ataque sobrevoando um meio-campo reduzido à função de controlo aéreo. Bastaram três jogos de pré-época para que Pinto da Gosta percebesse o buraco em que se tinha metido, quando deixou que lhe impingissem o italiano, numa noite num hotel em Dusseldorf.

E tivemos também o louco do Co Adriaanse, que jogava com quatro e cinco avançados e não conseguia marcar golos. Também ele abandonou na segunda pre-época, depois de uma fúria cujos motivos nunca se perceberam bem, mas causaram um profundo suspiro de alívio entre as hostes portistas. E, como a pré-época é, decididamente, o pior período do futebol portista, tivemos ainda a pré-época em que Villas Boas se foi embora subitamente, a dias de começar o estágio com a equipa, dando origem à impensável promoção de Vítor Pereira - o adjunto do adjunto do mestre, como então o defini. E, com excepção de Del Neri, não vejo quem pior tenha ocupado o posto de treinador do FC Porto, desde que Octávio foi substituído por Mourinho.

O que mais caracteriza Vítor Pereira é não aprender com o que vê em campo, não aprender com os erros cometidos, não aprender com nada. A excepção de Mangala, que é daqueles jogadores destinados a evoluir fatalmente, não há um só jogador mais que, às ordens de Vítor Pereira, se tenha tomado melhor nestes últimos dois anos. Andou tudo para trás ou estagnou, a começar por ele próprio.

Em Málaga, no decisivo jogo da Champíons, Vítor Pereira reincidiu no erro que já cometera um ano antes, na mesma competição: deixou em campo, e depois de ter levado um cartão amarelo, um jogador nitidamente nervoso e sem sangue frio, até que ele cometesse nova asneira e fosse expulso. No ano passado, fora Fucile, este ano foi Defour. Depois de Málaga, o mínimo que se poderia esperar era que Vítor Pereira pusesse Defour de castigo uns largos tempos - até porque, além da banalidade do seu jogo, já mais do que provara que a sua utilização como suposto extremo-esquerdo era uma invenção sem pés nem cabeça, não apenas inútil, mas até prejudicial à equipa. Mas o que Vítor Pereira fez foi exactamente o contrário: deixou-o a titular e nas mesmas funções, à espera de um milagre em que só ele acreditava, ou talvez porque se sentia solidário com o outro elemento que, além dele próprio, enterrara o FC Porto em Málaga. No sábado passado, frente ao Braga, depois de 70 minutos a ver Defour na sua habitual inutilidade, Lucho a arrastar-se como vem fazendo há meses, e sem o seu querido Varela disponível, Vítor Pereira, na iminência do desastre, deitou mão a Atsu e Kelvin, e a sua simples entrada conseguiu resolver em 20 minutos o que antes parecera sem solução. Toda a gente viu o que sucedera e porquê. Toda a gente, menos o homem que é pago para ver antes e melhor do que todos: o treinador. Como aqui escrevi na semana passada depois do jogo, a prestação salvadora de Atsu e Kelvin iria ter, como prémio, o seu regresso ao banco, preteridos outra vez por Lucho e Defour - ou Varela, se estivesse apto.

E claro que foi isso mesmo que sucedeu, no jogo da final da Taça da Liga. Um 4x3x3 com um único verdadeiro avançado de raiz, Jackson Martinez, a desgastar-se sozinho, à espera de bolas que nunca lhe chegavam. Ah! Mas Vítor Pereira estava feliz, quando, por volta dos 45 minutos, aquele seu adjunto que anda sempre de auricular no ouvido (estará a escutar o relato e os comentários?) e de caderno de esquemas sempre em punho (estará a conferir a táctica com a practica?) lhe segredou ao ouvido; “Estamos bem, com 70 por cento de posse de bola”. Estavam sim; nem uma ocasião de golo, nem um único remate enquadrado com a baliza. Mas a equipa estava, como Vftor Pereira gosta de dizer e de a ver, «com os seus princípios e a sua identidade próprias». Até que...

Até que sucedeu aquilo que qualquer aprendiz de treinador teria previsto: a expulsão de Abdoulaye. Desde que aos 15 minutos, a sua entrada louca sobre Mossoró se saldou por um generoso amarelo, o treinador deveria ter entrado em estado de alerta: estaria um miúdo de 19 anos, a ferver em pouca água, capaz de se aguentar até final - ele que nem sequer é titular habitual e fora lançado sem aviso numa final? Manifestamente, não estava: bastava olhar para ele e para o jogo para o perceber: Márcio Mossoró (este sim, bem faríamos em ir buscar!) encostou-se à linha, de onde evoluía para o centro à procura da zona de intervenção de Abdoulaye e, no um contra um repetido várias vezes entre ambos, era fatal que o bracarense iria sacar, mais tarde ou mais cedo, segundo amarelo ao jovem e nervoso portista. E assim foi, sacou-lhe não apenas o segundo amarelo, mas também o penalty e o golo que, mais uma vez, roubou ao FC Porto esta amaldiçoada Taça da Liga.

Pela terceira vez, em outros tantos jogos decisivos. Vítor Pereira não foi capaz de perceber que lhe competia agir antes de ter de reagir e evitar a expulsão adivinhada de um jogador. E, pela terceira vez, pagou isso com a derrota. Mas, como nada aprende, preferiu queixar-se do árbitro e dizer que não fora penalty o que a todos pareceu penalty. É certo e sabido que voltará a cometer este erro e todos os outros que o caracterizam as vezes que forem precisas. Não sei o que há com os Vítores que tornam estes dias tão cinzentos e cuja teimosia militante parece alimentar-se dos desastres em que se metem e da incompetência que exibem. Mais do que nome próprio, Vítor Pereira e Vítor Gaspar tem em comum uma fatal incapacidade de acertarem nas previsões, anteciparem crises, aprenderem com os desastres resultantes das suas malfadadas teorias e, ao menos, terem a humildade de arrepiarem caminho. Enfim, resta-me, como consolação, o desabafo do meu filho portista: «Já só faltam cinco jogos para nos livrarmos deste pesadelo!».

Quanto ao Braga, verdade se diga que teve toda a sorte do jogo. Primeiro, encontrou pela frente Vítor Pereira; depois, chegou ao golo sem nada ter feito para tal; e, mesmo com um a mais, passou toda a segunda parte a defender com dez jogadores atrás da linha da bola, obviamente em posição facilitada para lançar contra ataques predadores, que lhe deram a ilusão de que podia ter vencido tranquilamente e não sofridamente. Todavia, não contesto a justiça da sua vitória, mas sim o mérito dela. Mas é sempre bonito ver um clube mais pequeno ganhar nem que seja uma Taça da Liga e, a avaliar, pela festa feita, a Taça fica bem em Braga.

2- Na «narrativa» heróica, de que os sócios tanto gostam, Bruno de Carvalho vergou os bancos à sua indómita vontade. Esses abutres dos bancos, que achavam que lá porque já emprestaram 300 milhões ao Sporting não tinham que emprestar mais 80, ficaram a saber que quem manda no clube são os sócios que elegeram Bruno de Carvalho. Ao contrário do que disse em tempos Manuela Ferreira Leite, ali quem manda não é quem paga, mas quem deve. Mas ouso desconfiar que os sócios ainda não perceberam o filme todo. Por mais simpatias clubistas que o Sporting recolha a nível da administração do BES, a verdade é que ela deve explicações aos seus accionistas e depositantes quanto à forma como gasta o seu dinheiro. E se tantas empresas viáveis estão a ser mortas pela tesouraria porque não conseguem crédito na banca, por que há-de o Sporting consegui-lo eternamente? Já quanto ao BCP a questão é ainda mais delicada, visto que parte do seu dinheiro é actualmente dos contribuintes, uma vez que teve de recorrer a dinheiro do Estado. Com certeza que, de uma forma ou de outra, mais cedo do que tarde, isto há-de reflectir-se na vida do Sporting.

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