A hipótese da venda de Quaresma é simplesmente devastadora - quer desportivamente ( vale metade das assistências para golo em toda a época), quer financeiramente, uma vez que não seria vendido pelos 30 milhões de Anderson, e ele vale-os bem.
1 - Até agora, o Benfica gastou três vezes mais do que os seus rivais nas compras de Verão: 12,6 milhões de euros, contra 3,5 do FC Porto e 3,2 do Sporting. Mas as contas ainda não estão fechadas: Soares Franco já anunciou que vem mais um ponta-de-lança para os leões e Pinto da Costa disse que o plantel do FC Porto não está fechado. De qualquer forma, e se Cardozo provar valer os mais de 9 milhões nele investidos, fica a sensação de que o Benfica, por uma vez, poderá ter saído, teoricamente pelo menos, vencedor deste campeonato particular do defeso.
No que respeita ao FC Porto, o que mais me interessa, há boas e más notícias. Boa notícia é, desde logo, a contenção nos gastos, absolutamente essencial para quem apresentou 30 milhões de euros de prejuízo nas contas de 2005/06 e seguia pelo mesmo caminho na gestão corrente (a venda de Anderson permitirá disfarçar em muito o défice de exploração). Boa notícia é também a venda de Ricardo Costa ao Wolfsburgo por 4 milhões, melhor só mesmo a venda de Ricardo Rocha, do Benfica, ao Tottenham.
Mas a venda de Anderson tão cedo foi, como já aqui o expliquei, um péssimo negócio. Os 4 milhões recebidos pela cedência definitiva de Hugo Almeida ao Werder Bremen também são um fraco negócio para quem não dispõe de um ponta-de-lança que faça a diferença. Ao todo, o FC Porto facturou até agora 38 milhões em vendas e gastou 3,5 em compras — não está mal como negócio mas seguramente que a equipa ficou incomparavelmente mais fraca depois de perder Anderson. Má notícia é também a continuada tendência portista para comprar em quantidade: embora gastando três vezes menos que o Benfica, o FC Porto já vai em oito jogadores novos, quase todos desconhecidos e alguns, como é costume, para posições que já se encontram saturadas. O caso mais evidente é o lateral-esquerdo Lino, que vem para um lugar onde já existem quatro clientes mais, fora os que estão emprestados.
Mas há uma boa novidade, que é o facto de, pela primeira vez desde há muito tempo, haver dois jogadores novos que vêm por um ano à experiência, contrariando a política suicida habitual de contratar todos em definitivo e com contratos de quatro ou cinco anos. A principal razão do défice da SAD advém desta política de novo-rico deslumbrado, que tem como consequência a imensa folha de pagamentos mantida para pagar ordenados a jogadores emprestados a outros clubes. Alguém se lembra que o FC Porto paga ordenados a jogadores como Areias, Pittbull, Leandro do Bonfim, Léo Lima, Bruno, Maciel, etc., etc.?
Outra das causas dos prejuízos de gestão crónicos são os ordenados elevadíssimos que se pagam lá pelo Dragão. Temos agora um bom exemplo, com o interesse reiteradamente noticiado do FC Porto no médio Bolatti, um desconhecido jogador de uma obscura equipa argentina, em processo de falência judicial. O jogador é disputado pelo Corunha e pelo FC Porto: o Deportivo, que pertence a um campeonato rico, oferece 35 mil euros mensais de ordenado; o FC Porto, segundo a imprensa local, oferece mais do dobro: 83 mil. E isto, para um lugar de trinco, onde já estão o Paulo Assunção, o João Paulo e uma das contratações novas, Luís Aguiar!
Ao mesmo tempo que já vai em oito novas contratações, mais dois juniores promovidos, o FC Porto prepara-se para deitar fora, emprestados, jogadores como Alan, Vieirinha (tão mal aproveitado!), Diogo Valente (para que foram comprá-lo?), Ivanildo e o guarda-redes Bruno Vale, infinitamente melhor do que Nuno Espírito Santo, agora recomprado. E a fazer fé no que consta nos mentideros, Jesualdo também estará a fim de prescindir de Ibson e Bruno Morais. Todos jogadores de indiscutível valor e margem de progressão longe de estar esgotada e bem aproveitada. Para quê ficar com a despesa deles, sem a respectiva contrapartida, e ir buscar outros, de valor absolutamente desconhecido, para os substituir? Jesualdo tem o direito de não gostar de jogadores como Vieirinha, Bruno Morais ou Ibson. Mas, num clube que tem excesso de jogadores e excesso de prejuízos, não compreendo que o presidente não se vire para o treinador e lhe diga: «Não gosta? Paciência. São estes que temos. E até que terminem os seus contratos, é com estes que vai ter de contar.» Depois de anos e anos em roda livre de contratações, à SAD do FC Porto deveria aplicar-se o mesmo princípio que à Função Pública: por cada um que entrar há dois que têm de sair da folha de pagamentos.
Acresce que, como já foi notado, parece estar-se a assistir a uma opção pela razia de extremos: Ivanildo, Alan, Vieirinha. Resta Ricardo Quaresma… e se restar. Não é preciso ser bruxo para perceber que a Direcção está mortinha por vender Quaresma — de outro modo, aliás, o Atlético Madrid não continuaria a alimentar esperanças, muito bem documentadas na imprensa espanhola. Se isto tem fundamentos sérios, como parece, julgo que a SAD estará apenas à espera de que esteja vendido um número razoável de lugares de época no estádio para anunciar que, além de Anderson, também se foi Quaresma.
A hipótese da venda de Quaresma é simplesmente devastadora — quer desportivamente (vale metade das assistências para golo em toda a época), quer financeiramente, uma vez que seguramente não seria vendido pelos mesmos 30 milhões de Anderson, e ele vale-os bem. Pior ainda é que, se bem conheço a maneira de funcionar de Pinto da Costa nestas situações, a venda de Quaresma seria compensada por uma qualquer asneira, caríssima — tipo Miccoli —, destinada a acalmar as hostes. Espero bem que esteja enganado e que logo à noite já haja um comunicado da SAD a anunciar que não, nunca, jamais, foi equacionado vender o Quaresma e especialmente ao preço de saldo oferecido pelo Atlético Madrid.
2 - Francamente, não consigo entender como é que o Benfica consente em vestir os equipamentos alternativos que a Adidas lhe propõe a cada ano que passa. É difícil escolher pior e mais horrível. Foi, primeiro, aquele preto, misturado com o encarnado, numa combinação cromática verdadeiramente impossível. Depois, veio aquela cor de minhoca desenterrada, extensível aos fatos de treino, e que foi, talvez, o equipamento mais feio que alguma vez vi numa equipa de futebol. E agora vem aquele cor-de-rosa, com o preto a reincidir, que, enfim… como hei-de dizer? Olhem, é aquilo que vocês estão a pensar! Estas coisas têm (pelo menos, para mim) mais importância do que se julga.
Por exemplo, só há dias e pela mão dos Rolling Stones, tive ocasião de conhecer por dentro o Alvalade XXI — que, por fora, já achava a coisa mais feia feita em Lisboa, nos últimos 30 anos. Pois, meu Deus, por dentro aquilo é absolutamente indescritível! Não apenas é horrendo, deprimente, como também tem um ar sujo, prematuramente degradado, parece um palácio de congressos africano construído por chineses. Coitados dos sportinguistas, tão chiques e com um estádio daqueles! Que inveja, que depressão devem sentir quando vão ao Dragão!
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