terça-feira, julho 24, 2007

E JÁ ESTREBUCHA NA FORCA COMO UM MORTO ( 26 Junho 2007)

Desde que Maria José Morgado foi nomeada «ad hoc» para o Apito Dourado, Pinto da Costa endendeu que a melhor estratégia de defesa era o silêncio - deixar ela trabalhar em paz e no fim se veria. Em minha opinião, fez mal.

1 - Alguns já discutem quais serão os campeonatos que Benfica e Sporting dividirão entre si, depois de eles serem retirados ao FC Porto pelo CD da Liga. Outros preferem antes uma condenação para o futuro e a dúvida é saber se o FC Porto deve ir parar à Liga de Honra ou à Segunda Divisão-Zona Norte. Elegante, como sempre, o presidente do Benfica, por seu lado, já vê Pinto da Costa a «estrebuchar como um morto», certamente pendurado da forca que lhe está destinada.

A terceira acusação deduzida contra Pinto da Costa diz que ele terá comprado o árbitro do Nacional-Benfica de 2004 — jogo que, segundo o Correio da Manhã, foi decisivo para afastar de vez o Benfica do título desse ano. Infelizmente, não vi lembrado em lado algum quando é que o jogo teve lugar, a quantos pontos estava o Benfica do FC Porto, quando é que o Benfica esteve em risco de ganhar esse campeonato e, já agora, que favores de arbitragem terá o árbitro proporcionado no dito jogo em troca do suborno. Em contrapartida, o Ministério Público refere na acusação em que terá consistido o suborno: num bilhete — um — para o jogo FC Porto-Manchester United.

Se o preço parece barato, convém não esqueçer que, também neste aspecto, está em vigor e amplamente cultivada pela imprensa, uma teoria que se espera consiga suprir as deficiências ou fraquezas da acusação. A teoria diz que o FC Porto manteria com os árbitros uma espécie de «conta-corrente», a qual faria deles avençados permanentes ao serviço do clube. Um bilhetinho para o futebol hoje, as atenções de uma menina amanhã. Ou, se a coisa ainda continuar a parecer barata de mais, entra o testemunho da D.ª Carolina, falando em sacos de notas de quinhentos contos, contados e entregues à sua frente, enquanto ela servia cafezinhos e desempenhava eficazmente o seu papel de agente infiltrado para mais tarde recordar.

Teorias simplificadoras há várias. Há uma, por exemplo, que se destina a contornar a objecção lógica de perguntar que necessidade tinha o FC Porto dos gloriosos anos de 2003/04 de comprar o árbitro para levar de vencida o Estrela da Amadora no Dragão ou empatar com o Beira-Mar, fora de casa. A resposta aconselhada é: um árbitro, uma vez comprado, nem que seja com um bilhete de futebol, está comprado para todos os jogos — o Estrela da Amadora e o Beira-Mar são apenas exemplos. Presumo, é claro, que tenham tentado também encontrar vestígios de crime naqueles jogos que mais atenções movem: os FC Porto-Benfica, Boavista-FC Porto, Sporting-FC Porto. Mas Lucílio Baptista apitou tantos deles que não foi possível encontrar vestígios para incriminar os portistas. A teoria, porém, mantém-se de pé: é para isso que servem as teorias.

Há muitas teorias e informações cruzadas. O Correio da Manhã, que anda muito bem informado sobre o Apito, descobriu agora que o dito se vai ocupar também de uma conversa gravada entre Valentim Loureiro e João Bartolomeu, em que o presidente do Leiria negoceia com o major a escolha de um árbitro para um jogo. Esta teoria está manifestamente errada. Primeiro, porque desde que Maria José Morgado chamou a si o Apito, só tem havido investigações e acusações a Pinto da Costa. O major tem visto os seus casos serem arquivados paulatinamente e dos outros nada consta. Segundo, porque conversas a negociar árbitros não são relevantes para o Apito — como se conclui do facto daquela tão elucidativa conversa entre o major e o presidente do Benfica, escolhendo cautelosamente o nome do árbitro para um jogo com o Belenenses, nunca ter sido motivo para qualquer investigação, penal ou desportiva.

Comentando as declarações de Pinto da Costa nas comemorações dos 25 anos da Casa do FC Porto em Lisboa, A BOLA dizia que o presidente portista tinha decidido que a melhor defesa é o ataque. Infelizmente, chega tarde e em resultado de uma má análise da situação.

Desde que Maria José Morgado foi nomeada ad hoc para o Apito, Pinto da Costa entendeu que a melhor estratégia de defesa era o silêncio — deixar que ela trabalhasse em paz e no fim se veria. Em minha opinião fez mal. Primeiro, porque as declarações logo então proferidas pelo Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, sobre a importância que dava ao livro de Carolina Salgado, foram um sinal evidente de que, para o Ministério Público, já havia um pré-juízo sobre a culpabilidade de Pinto da Costa. A partir daí tornou-se mais ou menos claro que a tarefa de Maria José Morgado consistia em reatar os processos arquivados contra o presidente portista e, baseando-se no testemunho de Carolina Salgado (com quem pôde trabalhar livremente o tempo que quis), deduzir todas as acusações que conseguisse contra ele. O Apito Dourado ficou desde logo restringido à caça a Pinto da Costa. E o seu silêncio, ao longo de nove meses em que foi cirurgicamente cozido em lume brando, com as habituais fugas de informação e comentários de imprensa, equivaleu para a opinião pública predisposta a tal, a uma confissão de culpa.

Desde a primeira hora que Pinto da Costa deveria ter dito o que disse domingo passado: estou inocente de todas as acusações. Em vez disso, preferiu confiar em que fosse a investigação a dizê-lo, em vez dele. Enganou-se e agora parte para o contra-ataque e para a instrução do processo — a primeira altura em que, processualmente, se pode defender — em posição de inferioridade. Também acho, e escrevi-o na altura, que ele se deveria ter então demitido — não por causa do Apito Dourado, mas por causa dos danos que consentiu que a sua vida privada causasse ao clube —, como se viu já transparentemente no campeonato que acabou e como, seguramente, se vai ver no próximo. Demitir-se não significava uma assunção de culpa, mas o assumir da responsabilidade que advém de certos cargos que se ocupa. Pode ser um preço injusto a pagar, mas é o ónus da função: sair e provar cá fora a sua inocência.



2 - Não percebo nada de vela, mas tentei seguir atentamente a segunda regata da Taça América, em Valência, através da Sport TV. Com dois comentadores em estúdio, que não escondiam a sua expertize na matéria, confiei em que eles me iriam elucidando ao longo da regata sobre aquilo que se ia passando, nomeadamente explicando como funcionava a tripulação, o significado de manobras a que assistíamos, as jogadas tácticas de-senvolvidas, a influência dos ventos na estratégia, a razão da opção por certas velas em alguns momentos e noutros não, etc, tudo aquilo que um leigo e espectador comum precisava de ir sabendo para poder acompanhar a regata com um mínimo de interesse. Afinal, deparei-me com dois comentadores a falarem para si próprios e sem a menor noção de como se faz um comentário desportivo em televisão — como tantas vezes sucede na Sport TV, por exemplo, com os comentários de ténis de Tânia Couto, que são autêntico ruído de imagem. Apesar de tudo, comecei a achar estranho, a certa altura, que eles só falassem, totalmente a despropósito, da situação da vela e dos velejadores portugueses, de outras provas nacionais decorridas ou a decorrer e de outros assuntos absolutamente exdrúxulos onde aproveitavam para mostrar até que ponto pertenciam ao milieu. Enfim, falavam de tudo, menos da regata a que estávamos a assistir. Finalmente, percebi a razão: eles não percebiam nada do que se estava a passar.



3 - Como não se consegue exprimir bem em nenhuma das três línguas que fala — português, inglês e madeirense —, e como também não consegue conter a sua ânsia de protagonismo, Joe Berardo escorregou e espalhou-se ao comprido, com os insultos a Rui Costa. Agora, até ele já percebeu o preço a pagar: ou mete mesmo uns milhões, contados, no Benfica, ou pode ir pregar para outra freguesia.

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