Não estou assim tão certo de que a coisa esteja no papo.
1- Os três candidatos ao título de 2006/07 viveram todos um fim-de-semana de frustrações: um não mostrou cabeça nem engenho; outro não mostrou força nem capacidade; e outro não mostrou coragem nem espírito de conquista. Por isso, todos perderam um pouco e bem o mereceram.
O FC Porto, tal como eu tinha previsto, foi encontrar no Bessa um Boavista disposto a fazer o jogo do ano. É sempre assim e os jogadores e treinador já estavam avisados, pelo que não faz sentido falar em surpresa. Mesmo coisas verdadeiramente surpreendentes, tais como ver José Manuel a correr como um doido, ao fim de uma hora de jogo, para marcar o segundo golo do Boavista, ou escutar o próprio Jaime Pacheco a confessar que não sabia onde é que aquela equipa tinha estado escondida, eram de prever: contra o FC Porto, o Boavista desencanta sempre forças escondidas e artes insuspeitas de que depois e antes não faz prova. O FC Porto ia avisado e Jesualdo Ferreira também. Era preciso jogar no seu melhor e com os melhores — o que significa, por exemplo, não insistir mais no Postiga, que já deu o que tinha a dar (um mês de inspiração em onze de temporada), e, sobretudo, não reincidir no crime de pôr o Jorginho em campo e o Anderson no banco, à espera não se percebe bem de quê. Pode ser que o Anderson não aguente ainda um jogo inteiro, mas porque não o colocar na primeira parte em vez da segunda, não o colocar a tempo de poder resolver os jogos, e não quando eles já parecem resolvidos, para o mal ou para o bem? Deve fazer parte dos tais mistérios que o professor Jesualdo Ferreira acha que não estão ao alcance do entendimento de um simples adepto-comentarista…
Como quer que seja, o facto é que o FC Porto poderia ter dado a machadada final na questão do título e afinal acabou a perder um ponto para ambos os perseguidores. É verdade que podia ter sido pior, se o Sporting tem ganho na Luz, e é verdade também que continua a depender apenas de si próprio e até pode ceder um empate, pelo menos. Mas, insisto no que aqui escrevi há oito dias: não estou assim tão certo de que a coisa esteja no papo. Domingo, não há centrais e não há Quaresma. Viu-se no Bessa como a ausência de Pepe foi determinante, agora vai-se medir os efeitos da dupla ausência de Pepe e Bruno Alves; quanto à ausência de Quaresma, basta lembrar que, dos três jogos em que não jogou, dois acabaram em derrota. Se Jesualdo Ferreira insistir em deixar Anderson no banco, sem os centrais para subirem nos cantos e sem Quaresma para cruzar como só ele sabe, não sei quem é que será capaz de criar situações de golo nesta equipa.
O Benfica, a meu ver, fez o que pode e o mais a que está obrigado. Sem Luisão e sem Simão, com Rui Costa a meia-força, ficou limitado a apenas um jogador de verdadeira classe: Miccoli. Ele sozinho sacou o empate, apesar de ter por ali o Nuno Gomes sempre a atrapalhar. Apesar de tudo, na última meia hora do jogo do tudo ou nada, foi o Benfica, e não o Sporting, que mostrou vontade e atitude para querer ir mais além. Não o conseguiu porque uma orquestra de onze não toca bem só com um solista em palco.
O Sporting perdeu na Luz mais do que uma oportunidade rara de ganhar, tirando partido das ausências de Luisão e de Simão — (ao contrário do próprio Sporting que se apresentou na máxima força, depois de uma época inteira em que, por mérito e por sorte, apenas teve e brevemente um jogador fora de combate: Tonel).
Mais uma vez, e como vem sendo hábito, o Sporting conseguiu ainda marcar logo de entrada, no primeiro remate feito à baliza e ainda o Benfica não tinha ultrapassado a linha do meio campo. Foi uma jogada bem desenvolvida e mais uma demonstração do talento de Liedson, talvez o jogador mais inteligente do campeonato e único, isolado entre quatro jogadores do Benfica, a perceber aonde ia cair a bola centrada por Abel. Mas, por isso mesmo, também foi um golo largamente consentido e mais um golpe de sorte a facilitar a vida aos leões, logo na madrugada do jogo. Há sortes que caem do céu e há outras que se merecem: na Luz, eu achei, mais uma vez, que a sorte do Sporting cai quase sempre do céu e raramente é justificada em campo. Foi o que aconteceu: houve os primeiros quinze minutos em que o Benfica estava entontecido com aquele golpe madrugador, e mais quinze minutos à entrada da segunda parte, em que cheirava outra vez a golo verde. Mas, findo esse período sem segundo golo, toda a equipa e o seu treinador não insistiram mais no assunto, dando a sensação de que até final se iriam limitar a defender o empate, esperando talvez por outro golpe de sorte ou um contra-ataque minimalista, com a bola pontapeada pelo Ricardo lá para a frente e o Liedson a resolver a coisa sozinho. A vitória do Sporting teria sido um desfecho de tremenda injustiça.
E assim chegamos a três jornadas do fim com a sensação de que nenhum dos três candidatos revela uma passada e uma confiança que permita apostar tudo num deles. O FC Porto já teve o campeonato ganho por duas vezes, mas vai acabar com o credo na boca. O Sporting já esteve afastado de tudo e já ressuscitou duas vezes, mas deixa a impressão de que foram mais as facilidades que foi encontrando pelo caminho do que as dificuldades que conseguiu ultrapassar que o mantém ainda com uma ténue esperança. E o Benfica, chupado até aos ossos durante toda a época, mostrou contra o Sporting e contra o FC Porto, como já havia mostrado contra o Espanhol, que o limite da sua capacidade só iria até Fevereiro/Março. Mas às vezes os vencidos levantam-se e os vencedores estatelam-se à vista da meta. E outras vezes, no meio da confusão, sobra a vitória para o pezinhos de lã…
2- Estou muito curioso de ver a lista que Pinto da Costa vai apresentar para o acompanhar em mais um mandato. Quero ver se, ao arrepio de todo o bom-senso, despede os competentes e sérios e mantém os responsáveis pelo descalabro financeiro do clube, e não só. Para já, despediu o presidente do Conselho Fiscal, Domingos Matos, há 23 anos no FC Porto, com o pretexto absurdo de que ele é administrador da Cofina e a Cofina é dona do Record e do Correio da Manhã, jornais que dizem muito mal do presidente do FC Porto (só no mundo democrático do Dr. Jardim, da Madeira, é que a função de um administrador de imprensa é controlar as notícias que os jornais trazem).
Desconfio que a verdadeira razão esteve algures, conforme a escolha de um homem de absoluta lealdade e sem vocação para fazer ondas, como Adolfo Roque, para substituir Domingos Matos, parece indiciar. Quando a gestão financeira não é transparente, convém que o presidente do Conselho Fiscal seja compreensivo.
Também o episódio do Conselho Superior é elucidativo. Formou-se uma lista, que convidou o Dr. Pôncio Monteiro para presidente e ele aceitou. Mas esqueceu-se de dizer a Pinto da Costa quem compunha o resto da lista, e lá dentro estavam alguns que têm levantado estas perturbantes questões sobre a gestão financeira da SAD em reuniões do Conselho Superior. Vai daí, Pinto da Costa promoveu a constituição de nova lista, com o pormenor delicioso (e que eu nem imaginava que os estatutos permitissem) de ser também encabeçada por Pôncio Monteiro — que assim consegue a proeza de concorrer contra si próprio! Imperturbável, o Dr. Pôncio já tratou de esclarecer que toda a gente sabe que deve votar na lista da situação, que é presidida por si, contra a lista da oposição… que também é presidida por si!
A avaliar por estes dois casos, temo o pior. Mas espero para ver e cá estarei para comentar.
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