Parabéns a Jesualdo Ferreira e a todos os que contribuem para o sopro do dragão. De A a Z, eis o dicionário destes quatro meses de triunfo.
O FC Porto, de Jesualdo Ferreira, esmaga a concorrência: é a única equipa portuguesa que se mantém ao mais alto nível na Europa, depois de uma recuperação brilhante na fase de grupos da Champions; é o líder do Campeonato, com uma vantagem já simpática sobre os seus dois rivais directos; tem o maior número de golos marcados e o menor número de golos sofridos; lidera o troféu do melhor marcador, do melhor jogador do Campeonato e do jogador mais valioso; lidera o Troféu BES e o Troféu Disciplina; é a equipa com maior média de assistências por jogo e talvez a única de que não é possível dizer que deve um único ponto às arbitragens. Melhor, honestamente, era impossível. Parabéns a Jesualdo Ferreira e a todos os que contribuem para o sopro do dragão. De A a Z, eis o dicionário destes quatro meses de triunfo.
ADRIAANSE — A primeira e mais decisiva entrada deste dicionário. A sua saída, antes de disputado qualquer jogo oficial, foi a melhor notícia e a mais importante aquisição nesta temporada. Não era por acaso que todos os anti-portistas elogiavam tanto Adriaanse: a sua irracionalidade, teimosia e arrogância acabariam por desfazer uma grande equipa. Deve estar a roer-se de inveja por constatar que, com a mesmíssima equipa e um sistema de jogo natural, Jesualdo Ferreira pôs o FC Porto a vencer e a marcar golos, uniu a equipa e o balneário, recuperou jogadores banidos e fez as pazes com o público.
ADRIANO — Parece que está de saída para o Sporting Braga, confirmando que nunca seria mais do que um razoável suplente.
ALAN — Inconstante e inseguro, capaz de coisas boas e de trapalhadas sem sentido. Pode fazer melhor.
ANDERSON — Um dos três génios da equipa, o vértice central do triângulo verdadeiramente luxuoso: Pepe, Anderson, Quaresma. É um médio de ataque que só sabe jogar para a frente e em movimento constante. Com ele, não há paragens nem quebras de ritmo — é um carrossel alucinante que põe a cabeça em água aos adversários. Há muito que não via um jogador assim e penso que todos aqueles que, acima de tudo, gostam de ver grande futebol, só podem lamentar aquela entrada de Katsouranis que o retirou da nossa vista durante quatro ou cinco meses. Se voltar igual ao que era, vale seguramente uns 40 milhões de euros — sobretudo, se voltar antes dos decisivos jogos com o Chelsea.
ATITUDE — É o grande plus deste clube e das equipas que o vão representando, ano após ano. Os jogadores do FC Porto são melhores profissionais e têm mais respeito pelo clube e pelos adeptos que quaisquer outros. Vítor Baía é, neste momento, o exemplo: onde estão os vítor baías do Sporting ou do Benfica?
BOSINGWA — Também irregular e inconstante, mas a melhorar claramente. Fez-lhe bem ter finalmente concorrência — a de Fucile. Deveria tentar mais as derivações pelo meio porque é bom em drible e em progressão.
BRUNO ALVES — Em relação a ele e a Postiga, dou a mão à palmatória: nunca pensei que Jesualdo conseguisse transformá-los em bons jogadores. Talvez pelo contágio de Pepe ou pela segurança que as oportunidades de jogar lhe deram, Bruno Alves não tem nada a ver com o jogador da época transacta, que não sabia quando atacar a bola e que a despachava de qualquer maneira. Está a crescer, jogo após jogo.
BRUNO MORAIS — Um só jogo que lhe vi, ainda na pré-temporada, foi o suficiente para entender por que razão Mourinho o contratou. Apesar do azar e das lesões, apesar do renascimento de Postiga, Bruno Morais já deu indicações suficientes de que está ali um grande jogador, pronto a explodir. Que a sorte finalmente o acompanhe!
CAROLINA SALGADO — Não joga pelo FC Porto, mas joga e muito, pelos adversários. Quis, com a sua traição e o seu abjecto panfleto, manchar o trabalho de todos estes jogadores e técnicos, que se batiam no campo enquanto ela se exibia no camarote. Mas acredito que, no fim, a verdade virá ao de cima, embora a desonra e os danos já ninguém os apague.
CECH — Um bom jogador, não um extraordinário jogador. Ataca bem, defende pior. Mas tem terreno e idade para progredir.
CSKA MOSCOVO — A vitória decisiva, a demonstração que faltava de que este FC Porto é herdeiro dos grandes FC Porto que honraram este país e o nosso futebol. Por muito que isso custe a engolir a muitos.
DIEGO — Há um que saiu e bem, em minha opinião, e outro que vai entrar. O que saiu era o oposto de Anderson: travava o jogo, perdia-se em rodriguinhos inúteis e não sabia onde ficava a baliza do adversário.
DIOGO VALENTE — Parece que vai ser emprestado, mas gostaria de o ter visto mais vezes em jogo. Não deixa de ser impressionante pensar que, das sete aquisições feitas pelo FC Porto esta época — Paulo Ribeiro, Ezequias, João Paulo, Tarik Sektoui, Diogo Valente, Vieirinha (este promovido) e Fucile — só o último é regularmente utilizado.
DÍVIDAS DA SAD — Trinta milhões de euros declarados no último exercício: um descalabro que, fatalmente, terá de ser remediado, mais tarde ou mais cedo, com a venda dos anéis. Esta febre de comprar jogadores que não servem para nada a não ser para serem emprestados explica muita coisa. Só falta explicar para que os compram.
ESTÁDIO DO DRAGÃO — O mais bonito estádio de futebol que alguma vez vi. Uma das melhores obras de sempre da arquitectura portuguesa. E é sempre a primeira vez em cada regresso a casa.
EZEQUIAS — Quem o comprou que explique.
FUCILE — Ah, uma na mouche! Grande miúdo, grande personalidade, grande coragem! Vai deixar marca.
GOLOS — Afinal, não era o sistema maluco de Adriaanse que os conseguia. Este ano, de volta ao 4x3x3, o FC Porto só ficou em branco em jogos da Champions.
HÉLDER POSTIGA — A impossível ressurreição. Quem o viu nas três temporadas anteriores, custa-lhe a crer que seja o mesmo. Não é só ter começado a marcar golos, é tudo o resto: remata, corre, desmarca-se, tem alegria em jogar. Antes, não se mexia, não se dava a incómodos. Será para durar?
HELTON — A elegância na baliza e a rapidez de reflexos. Mas falta-lhe ainda uma coisa para me tranquilizar: aprender a sair às bolas altas como o Baía faz.
IBSON — Vale mais do que mostra. Valerá bem mais quando puser os olhos em Anderson e perceber que nenhuma jogada, por mais espectacular que seja, tem interesse se, no fim, a bola acaba nos pés dos adversários. Levante a cabeça e olhe para o jogo!
JESUALDO FERREIRA — Até que enfim, um treinador normal! Até que enfim, alguém para quem a inteligência supera a vaidade! Merece todo o crédito pela revolução tranquila que está a levar a cabo no FC Porto.
JORGE COSTA — Teve uma despedida despercebida e injusta mas há-de voltar, porque faz parte da vida deste clube.
JORGINHO — Um mistério eternamente por esclarecer: como é que era tão bom em Setúbal e é tão abúlico no Porto? Mas já teve oportunidades suficientes — só se pode queixar de si próprio.
JOÃO PAULO — Quem o comprou deveria ter alguma ideia: importa-se de dizer qual era?
KATSOURANIS — Joga pelos outros, mas sozinho causou-nos maiores danos do que todos os adversários e inimigos juntos. Quando for o jogo da Luz, é de esperar que Jesualdo deixe Quaresma no banco!
LISANDRO — Umas vezes bem, outras nem tanto. Ainda faz sentir saudades de Derlei.
LUCHO — Dois jogos de classe e dois golos portentosos — contra o Hamburgo e o Nacional. No resto, muito, muito aquém do que pode e sabe. Deve bem mais à equipa.
PAULO ASSUNÇÃO — Muito longe do nível da época passada e o meio-campo ressente-se disso.
PEDRO EMANUEL — Lesionado logo no início da época, vai ter um regresso difícil.
PEPE — Podem levar à conta de facciosismo clubístico mas é isto que eu penso e já vem de trás: é o melhor central do Mundo, na actualidade.
PAULO RIBEIRO - ?
PINTO DA COSTA — Enfrenta o seu ano de todos os perigos. Carolina e o défice são dois combates que não consentem subterfúgios.
RAUL MEIRELES — Claramente, o elemento mais fraco da equipa. Vagueia pelo campo, sem grande utilidade visível. Alguém estabeleceu que era um grande rematador de meia-distância: há seis meses que não acerta um remate na baliza.
REINALDO TELES — O homem que está lá sempre. For all seasons.
RICARDO COSTA — Sem lugar na equipa. De saída, normal, para Marselha.
RICARDO QUARESMA — Pegou no facho depois de Anderson cair em combate e levou a equipa atrás, mostrando que é o melhor futebolista português da actualidade e um dos melhores do Mundo nas suas várias posições. É um jogador absolutamente excepcional, como já o era no ano passado e há dois anos, e agora se percebe melhor o crime que foi deixá-lo de fora do Mundial-2006. Em lugar de explicações sem sentido, Scolari deveria pedir desculpa — a ele, aos portugueses e a todos os que gostam de futebol e não o puderam ver na Alemanha.
RUI BARROS — Missão cumprida. Mais uma. E a Supertaça no bolso.
SOKOTA — O mais azarado e o mais caro do clube.
TARIK SEKTOUI — Talvez um razoável suplente.
VIEIRINHA — A grande revelação da pré-época, a que Jesualdo não deu continuidade. E é pena, porque parece estar ali um grande jogador em potência.
VÍTOR BAÍA — Capitão do balneário, treinador adjunto oficioso, guarda-redes suplente, o que quiserem: Baía é a Torre dos Clérigos desta equipa, um jogador e um desportista como não há outro e já tenho saudade de o ver jogar.
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