Os eternos candidatos apresentam-se à partida com estados de espírito diferentes. O FC Porto com esperanças renovadas e fundadas num novo treinador, novo tipo de jogo e reforços que prometem; o Sporting outra vez com uma bela equipa mas com o estigma de perder sempre nos momentos decisivos; e o Benfica com uma pré-época cheia de promessas atiradas ao vento e nula de realidades entusiasmantes.
A três dias do início de mais um campeonato, os eternos candidatos apresentam-se à partida com estados de espírito diferentes. O FC Porto com esperanças renovadas e fundadas num novo treinador, novo tipo de jogo e reforços que prometem; o Sporting outra vez com uma bela equipa mas com o estigma de perder sempre nos momentos decisivos; e o Benfica com uma pré-época cheia de promessas atiradas ao vento e nula de realidades entusiasmantes. Vejamos, caso a caso.
1- Quem, no passado sábado, arrostou com o calor desumano que se fazia sentir no Estádio do Dragão, sob um céu carregado de nuvens de fumo negro dos incêndios que massacraram o Norte nestes dias, pôde tirar algumas conclusões que, pelo que me apercebi das conversas de bancada, são consensuais e fruto do senso comum. Porém, bem sabemos que o senso comum dos adeptos e observadores raramente coincide com o dos treinadores. Ou porque estes sabem coisas que os adeptos não sabem ou porque sabem o mesmo mas querem fazer crer que sabem mais ou simplesmente porque são teimosos e persistem no erro como forma de vincar a sua personalidade. Co Adriaanse já mostrou ser umtreinador de personalidade forte e ideias feitas. A maioria delas parecem- me acertadas mas dificilmente o vejo a rever as erradas. Aquilo que eu e os à minha roda vimos foram apenas detalhes num conjunto de ideias que, como já o escrevi na semana passada, se traduz num futebol francamente prometedor. Mas são detalhes que, em alguns casos, podem fazer a diferença:
— Contra o Espanhol de Barcelona houve duas equipas claramente distintas, embora apenas tenham jogado 13 jogadores: uma, enquanto Hélder Postiga esteve em campo, sem capacidade de transposição do jogo para a frente, sem imaginação ofensiva, controlando o jogo mas de forma inócua e desinteressante; outra, após a saída de Postiga, a passagem do Jorginho para terrenos mais centrais e a exploração do flanco esquerdo por um verdadeiro extremo (Alan), que em 20 minutos revolucionou todo o futebol ofensivo, fez dois golos e um penalty desperdiçado e desbaratou por completo a organização defensiva dos catalães. Conclusão primeira: Hélder Postiga não serve para número 10.
— O 4x3x3 é um sistema que precisa claramente, pelo menos, de um extremo de raiz, que nem Jorginho nem Lisandro são. Mantendo- se o funesto (e esperemos que episódico) afastamento de Quaresma, com Ivanildo esquecido e César Peixoto transformado em lateral, a entrada no jogo de Alan foi um raio de luz e de lógica que desabou sobre o jogo.
— César Peixoto a lateral-esquerdo é uma experiência que promete, embora tenha de ser testada com equipas que ataquem e não contra o inofensivo Espanhol. O flanco esquerdo com ele e Alan foi um regalo para a vista e deulhemais 40 metros de campo para sair a jogar e impulsionar a equipa para a frente.
—Jorginho vai ser umjogador decisivo nesta equipa mas insisto que é uma pena encostá-lo ao flanco direito, onde está semiperdido, em lugar de o aproveitar na sua verdadeira posição, que é a do tal número 10 que Adriaanse busca.
— Diego regressou, mostrando as qualidades e os defeitos que já se conhecem — um dos quais é insistir em marcar livres e penalties, para o que lhe falta toda a competência.
—Lucho parece cansado e talvez precisasse e merecesse umas miniférias para poder voltar em pleno, ao contrário de Lisandro López, que, de facto, faz lembrar Derlei e é um elemento preciosíssimo.
—Falta velocidade sobre a bola aos centrais e muitos desastres hão-de acontecer ali, pelo centro da defesa.
Vistos os detalhes, resta a conclusão principal: este FC Porto de Adriaanse é, entre os três candidatos, claramente aquele quemelhor emais eficiente futebolmostra. Para consumo interno parece mais que suficiente. Mas, olhando para a equipa e para o banco de suplentes, é inevitável que as expectativas para a época que começa estejam bem acima da SuperLiga.
2-O Sporting só tem uma saída para salvar, financeira e desportivamente, a época: ir a Udine ganhar o jogo e a eliminatória. Pelo que se viu em Alvalade a tarefa é mais que possível, tudo depende da crença, da coragem e da lucidez da equipa.Oproblema é que certas coisas, como as recorrentes declarações de Dias da Cunha, insistindo sempre em que a culpa é dos árbitros, seja cá ou lá fora, apenas contribuem para uma mentalidade de desresponsabilização e fatalismo que ameaça tornar-se uma imagem demarca desta equipa e deste treinador. Na Europa é preciso aprender a conviver com os erros dos árbitros (e, contra a Udinese, houve apenas um, nem sequer flagrante). As grandes equipas, as que verdadeiramente confiam em si próprias e querem ganhar, não perdem tempo a reclamar os erros dos árbitros, seguem em frente e continuam até vencer. Se tivesse adoptado a filosofia de Dias da Cunha, de que mais vale perder podendo reclamar do árbitro que ousar vencer apesar dele, o FC Porto de Mourinho nunca teria eliminado o Manchester United e depois o Corunha, a caminho da inesquecível noite de Gelsenkirchen. Mas no Sporting parece que o mais importante não é o jogo da equipa nem os resultados que se obtêm mas sim ouvir as eternas lamúrias do seu presidente, no final dos jogos.
3- Benfica viveu uma préépoca de pesadelo. A grande mobilização de sócios sonhada por Filipe Vieira não conseguiu encher um estádio e acabou a transformar o tão propagandeado Benfica em Festa numa patética feira de comese- bebes sem clientes. A somar a isso, José Veiga mostrou-se umpífio negociador fora do cantinho pátrio onde tantos dirigentes de clubes estão sempre disponíveis para prestar vassalagem ao Benfica, mesmo que depois se venham queixar que não viram a cor do dinheiro acertado ou que foram atraiçoados pelas costas. Lá, onde o mercado depende do peso e da capacidade negociais, Veiga limitou-se a levantar lebres antes de tempo, alimentando o seu ego com as inúmeras reportagens sobre os seus contactos negociais de alto nível, traduzidos num rol sonante de aquisições que já entrou no anedotário nacional: Dedé, Robinho, Kezman, Tomasson, Kalou, Saviola, etc. e tal, uma série de vedetas que, a fazer fé nas reportagens, «já pensavam à Benfica» e nadamais desejavam que aterrar no Estádio da Luz, pela mão de José Veiga. Agora, mercê de um golo banal, Nuno Gomes já está a ser recuperado como um dos dois homens- golo que aí vinham ou vêm e José Veiga já explica que, se eles ainda não chegaram, é porque o Benfica só quer do melhor e «não compra por comprar». E o melhor, vá-se lá saber porquê, prefere o Estugarda, o Mónaco ou o Sevilha ao clube que já anunciou que este ano vai chegar à final da Champions (pelo menos está dispensado da pré-eliminatória...). Mas lá ganhou a Supertaça a um Vitória de Setúbal que se adivinha vai ter grandes dificuldades em manter-se na SuperLiga. É verdade que ganhou da forma habitual, jogando no seu estádio do Algarve,marcando um golito, fortuito e irregular, tendo a sua dose de sorte q.b. e jogando um futebol confrangedor. É o que se arranja de palpável.
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