quarta-feira, outubro 15, 2008

MUITA POUCA EUROPA, POR AQUI (30 SETEMBRO 2008)

1- O começar mais uma semana europeia, as perspectivas dos clubes portugueses não se me afiguram auspiciosas. Excepção para o Braga, que tem a eliminatória já garantida e a quem tudo o que se pede é que acumule mais uns pontinhos a favor do ranking de Portugal na UEFA. Em contrapartida, Marítimo e Vitória de Guimarães têm uma tarefa quase impossível à partida, enquanto que o Benfica enfrenta um desfecho de tripla contra o Nápoles, que ninguém pode antecipar com segurança: é daqueles jogos em que a sorte e os nervos vão desempenhar um papel porventura decisivo. Na Champions, o Sporting tem o mais fácil dos jogos europeus das seis equipas portuguesas em competição, mas com um factor de perturbação prévio: só a vitória lhe serve, tudo o resto soará a fiasco comprometedor. Quanto ao FC Porto, está na posição inversa: ganhou o primeiro jogo caseiro contra o seu adversário mais directo no grupo e pode perder contra o favorito, em casa deste, sem que essa derrota faça dobrar a finados: é esse o mais provável dos desfechos.

A anteceder esta definidora jornada europeia, tivemos o derby de Lisboa, como sempre incensado, antes e depois, muito para além da qualidade do futebol visto em campo. Foi um jogo pobre, que o Benfica ganhou justamente, por ter sido a única das equipas que se decidiu a correr riscos e a fazer qualquer coisa contra o anunciado empate (no painel de palpites do Expresso, todos os doze participantes apostaram, sem excepção, num empate!). Na verdade, Quique Flores ou arriscava agora e ganhava ou podia muito bem começar a pensar em fazer as malas para passar o Natal em casa. Com apenas duas vitórias em onze jogos (e uma delas a miraculosa vitória da semana anterior em Paços de Ferreira), o espanhol ver-se-ia numa situação bem complicada em caso de empate ou derrota: ficaria a quatro pontos do Sporting e a dois do FC Porto, em caso de empate, ou a sete e quatro, em caso de derrota. E com a agravante de já ter recebido os dois rivais directos em casa, sem ganhar nenhum dos jogos. Era o tudo ou nada e ele percebeu-o a tempo. Quem também deve ter suspirado de alívio foi Rui Costa: ambos os golos da vitória tiveram a assinatura dos seus reforços — assistência de Aimar e golo de Reyes, no primeiro; assistência de Carlos Martins e golo de Sydnei, no segundo.

Quanto ao Sporting, fez o que pôde, embora a liderança do campeonato, com três vitórias nos três primeiros jogos, talvez levasse a esperar mais. A meu ver, erradamente: nenhuma das vitórias foi convincente, em nenhuma se mostrou uma equipa triunfante e segura de si. Pelo contrario, eu acho que o grande mérito de Paulo Bento é conseguir continuar a fazer do Sporting um candidato ao título quando as condições de concorrência com os seus rivais directos estão completamente desequilibradas (esta época, a SAD do Sporting não gastou um tostão em reforços — o Hélder Postiga deve ser para pagar muito, muito, suavemente). Não fosse a estranha teima em prescindir de Stojkovic e Vukcevic, e seria caso para dizer que Paulo Bento tem o osso espremido até ao tutano. Agora, muito mais do que aquilo, não acredito que dê.

Já agora, não resisto a um à parte: aqui, neste jornal, os jornalistas destacados para a função, consideraram o Yebda e o Miguel Veloso dos melhores em campo. Confesso o meu espanto: para além do facto comum de ambos terem evidentes preocupações com o penteado, não vi a qualquer deles futebol algum. O Miguel Veloso teve um passe magistral no primeiro minuto a isolar o Yannick e o resto do tempo passou-o a estragar jogo; o francês muçulmano usou o gigantismo para fazer faltas de toda a ordem, exibindo, no mais, uma elegância e clarividência técnica que fazem lembrar o cristão português Fernando Aguiar, tão apreciado lá para as bandas da Luz. Eis a prova de que o futebol raramente é matéria de consensos alargados.

Na véspera do derby lisboeta, o FC Porto, ferido no orgulho em Vila do Conde, viu-se e desejou-se para levar de vencida o «promovido» Paços de Ferreira, mais uma vez não se livrando de escutar justos assobios vindos da bancada. Mais uma vez, também, Jesualdo Ferreira pôs em campo a equipa errada e demorou uma hora a emendar a mão. É certo que (finalmente!) deixou de fora o Mariano González, fazendo-o descansar — a ele e a nós. Mas resolveu ressuscitar o Farías — esquecendo-se, porém e pelo que se viu, de o avisar — e, na ausência de Lucho, lançou mão daquele jovem Tomás Costa, que até agora só mostrou ser capaz de receber a bola vinda de trás e devolvê-la para trás. Ele, mais o Mariano, mais o Stepanov, mais o Guarín (e para não ir mais longe), fazem parte de um grupo de jogadores que eu, por mais que me esforce, não consigo entender como é que vieram parar ao FC Porto (no seu último texto aqui, o Rui Moreira põe o dedo na ferida, quando fala de diferença entre os reforços do Jorge Mendes e os dos curiosos «empresários» que gravitam à roda da SAD do FC Porto).
Facto é que, de Junho de 2007 a Julho de 2008, o FC Porto viu sair da equipa todos estes jogadores, agenciados por Jorge Mendes: Bosingwa, Pepe, Paulo Assunção, Ibson, Anderson e Ricardo Quaresma. E nem num só deles encontro um substituto que, de perto ou de longe, se lhe compare. E isto é como o Sporting: não há milagres…

Logo à noite, no Emirates, frente a um Arsenal ferido pelo Hull City, espero o milagre, mas temo o inevitável. É quase certo que Jesualdo não vai fugir à regra dos treinadores portugueses quando se vêem perante jogos de dificuldade máxima: vai «inovar», reforçando o meio-campo ou a capacidade defensiva e desguarnecendo o ataque — dá quase sempre mau resultado, mas eles não resistem a tentar de novo. A imprensa inglesa já deu o mote contrário, revelando quem mais temem: é o Hulk (por acaso, o jogador mais caro de sempre do FC Porto, a par de Lucho). Mas Jesualdo também já mostrou que só confia no Hulk em desespero de ataque — até lá prefere o Mariano ou o Farías ou o Tomás Costa. Queira Deus que me engane, mas temo um FC Porto «de contenção», de «esperar para ver» e depois de «correr atrás do prejuízo».

2- José Mourinho esteve igual a si mesmo no confronto com o Milan. Brilhante na conferência de imprensa em que enfrentou sem medo os tubarões da imprensa desportiva italiana; prejudicado pelo árbitro no decorrer do jogo, numa arbitragem que pareceu ter uma agenda oculta; e previsível e monótono no futebol apresentado pela sua equipa. Tal como no Chelsea, aquilo é sólido e vê-se que tem muitas horas de trabalho, com o objectivo único de obter resultados e, tal como no Chelsea, também agora ele dispõe de jogadores que podem, num instante de génio, disfarçar toda aquela monotonia. Mas a verdade é esta: nunca mais vi uma equipa de Mourinho jogar tão bem como o FC Porto que conquistou a Taça UEFA, em Sevilha — não o FC Porto, campeão europeu em 2004: o do ano anterior. Uma equipa pobre, em termos europeus, mas cheia de ambição e futebol.

Quanto ao saudoso Ricardo Quaresma, lá o vi a fazer o papel menor de quem espera em vão que as outras vedetas da equipa se dignem passar-lhe a bola. E viu-se que tem ali colegas do meio-campo que só o farão sob a ameaça de pistola. Pobre Quaresma, como se deve ter sentido frustrado! É bem feito!

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