segunda-feira, fevereiro 25, 2008

SEMANA EM CHEIO PARA O SPORTING (29 JANEIRO 2008)

Semana de ouro para o Sporting: uma pífia vitória caseira sobre o Beira-Mar que valeu uma final; um acordo com a CML que valeu uma oferta de 25,5 milhões; e uma valente tareia às mãos do F.C.Porto que valeu uma vitória, sem saber como nem porquê.

Há marés de sorte e esta semana o Sporting viveu uma delas. Terça-feira recebeu em Alvalade o modesto Beira-Mar, do meio da tabela da 2.ª Divisão e, após 70 minutos de desinspirado esforço, viu o guarda-redes de Aveiro escancarar-lhe as portas da sua baliza até ao 3-0 final. E, com essa simples vitória, e apesar da anterior derrota com o Vitória de Setúbal (e também em casa contra o Fátima, da 3.ª Divisão!), tem presença já garantida na final dessa confusa competição baptizada de Taça da Liga.
Quarta-feira foi a grande notícia, há muito esperada com ansiedade: graças aos votos do PS e do PP, recebeu da Câmara Municipal de Lisboa 39 mil metros quadrados de terrenos que eram do Metro, com direito a 80 mil metros quadrados de construção – direito já vendido a um promotor imobiliário por 27,5 milhões de euros. Uma bela prenda de Carnaval da mais arruinada autarquia do país. Para quem conhece os terrenos e o processo e sabe que o Metro viu ser ressarcido da «oferta» a que foi obrigado pela CML com outros terrenos no Cais do Sodré, não podem restar dúvidas de que se está perante uma decisão escandalosa, do ponto de vista político e urbanístico. E ainda falta decidir se a CML não irá atribuir mais outros 39 mil metros quadrados ao Sporting, fundando-se em «direitos adquiridos» por promessas políticas do passado. Concorrência desleal? Não, «saneamento financeiro» e «boa gestão».

Domingo, enfim, o Sporting recebeu em Alvalade o bicampeão nacional – ou melhor, o quase tricampeão. Casa cheia, como sempre acontece quando o F.C.Porto desce à capital, e garantia de que dos 2500 adeptos portistas não viriam nem cadeiras partidas, nem tochas incendiárias atiradas para o relvado em pleno jogo, nem adeptos leoninos esfaqueados, como por vezes acontece por outras paragens e com adeptos de outros clubes de «ética superior».

Ainda não havia um minuto de jogo e já Lucho González, todavia autor de uma exibição brilhante, falhava a primeira das quatro oportunidades de golo de baliza aberta de que dispôs. Aos oito, Lizandro – um portento à solta em todo o jogo, reduzindo a zona central da defesa leonina a uma casa de loucos – marcava um belíssimo golo, muito injustamente anulado por justo off-side. E dois minutos depois, Lizandro e Lucho entraram por ali adentro em tabelinhas, num tango de partir os rins àquela defesa, culminado com mais um remate de Lucho desviado do golo pelos deuses da fortuna. Aos dez minutos, o F.C.Porto podia estar a ganhar por 3-0…

Foi então que, como frequentemente acontece nos jogos tidos como mais importantes, o místico Helton resolveu entrar no jogo e ajudar os mais desfavorecidos. Primeiro, deixando passar um inofensivo remate entre as pernas – naquilo a que, segundo o próprio, só quem não percebe nada de futebol, como eu, é que pode classificar de frango. Tem razão, não foi frango: foi peru. Frango veio logo a seguir, sacudindo com uma diligente palmadinha para a cabeça do Ismailov uma bola que sobrevoou a pequena área – essa zona nevrálgica onde ele costuma viver entre a paralisia e a asneira. Tenho a melhor impressão do Helton, como pessoa e como profissional, o problema é que ele é também guarda-redes e logo do meu clube. E acontece, como desde há muito venho tentando explicar, que um guarda-redes que não domina o jogo aéreo, que treme de cada vez que tem que jogar com os pés e que revela uma estranha tendência para abrir buracos do tamanho de crateras nos jogos mais importantes, até pode fazer grandes defesas volta e meia, mas a mim dá-me tanta confiança como os administradores do BCP – os actuais e os antigos.

Como se não bastasse a colaboração generosa do Helton, também o juiz de linha do ataque do Sporting, ao contrário do seu colega do outro lado, estava três passos atrasado em relação à jogada e não viu o fora-de-jogo no segundo golo. E assim, em apenas dois minutos, sem ter ainda chutado à baliza e sem ter tido sequer necessidade de criar oportunidades de golo, o Sporting viu-se a ganhar por 2-0, sem saber ler nem escrever. Depois…enfim, Jesualdo Ferreira corrigiu alguns erros próprios e insistiu noutros (o Mariano, o Helton, até a pé coxinho!), e o F.C.Porto sujeitou o Sporting, daí até final, a uma das maiores tareias futebolísticas a que me lembro de ter assistido em Alvalade. Lucho perdeu mais outros dois golos feitos, Farias acertou uma em Polga no risco de golo e outra na trave e Quaresma e Lisandro levantaram tinta ao poste esquerdo da baliza de Rui Patrício, a ver as bolas passar. Houve largos períodos da segunda parte em que o Sporting só tinha um jogador para lá da linha de meio campo e, com toda a franqueza, houve jogadores de verde que eu nem me lembro de ter visto em campo, como o Moutinho, o Romagnoli ou o Liedson. Li por aí, e tal como esperado, que o «leão foi de raça», que a equipa ressuscitou e que a «organização» foi responsável pela vitória. Uma dedicada alma sportingusita mandou-me um SMS a seguir ao jogo: «assim se vê a força do leão!» Assim se vê? A força? Pois eu o que vi foi um jogo para 4-1 ou 5-1 que acabou em 0-2. Às vezes, acontece. Mas, tal como Jesualdo Ferreira, também acho que se viu e bem o porquê de o Porto ter o avanço que tem e porquê que vai ganhar este campeonato tranquilamente.

Na véspera, em Guimarães, o Benfica após muito e muito sofrimento, lá «saliu ganhando», como diz Camacho. Foi um jogo também de resultado injusto, porque a maioria das oportunidades e os períodos de melhor futebol pertenceram claramente ao Vitória. O jogo serviu-me para acentuar duas dúvidas que venho mantendo e confirmar uma certeza. A primeira dúvida é saber por que razão há benfiquistas que embirram com Cardozo – será que esperavam que ele sozinho resolvesse tudo? A segunda dúvida, de que já tenho falado, é saber qual terá sido a razão para Jesualdo Ferreira prescindir de um jogador como Alan, que é fundamental neste Vitória de Guimarães? Logo no princípio da época, ao ver formar-se o plantel, perguntei aqui como é que um treinador adepto fiel do 4X3X3 (e eu também sou), dispensa de uma assentada seis extremos – Alan, Pitbull, Vierinha, Ivanildo, Helder Barbosa, Diogo Valente – ficando apenas com três para toda a época e sabendo-se de antemão que um deles iria estar um mês fora, na CAN? Mas, prescindido do Alan, ele não prescindiu apenas de um extremo, prescindiu também de um jogador que, em minha opinião, qualquer treinador tem obrigação de perceber que, bem orientado, se pode vir a tornar um caso sério de bom futebol. Enfim, a certeza com que fiquei do jogo de Guimarães é esta (e à atenção do FC Porto): aquele rapaz chamado Geromel é a grande revelação deste campeonato e um central fabuloso: rápido, eficaz, elegante, de jogo limpo e capaz de sair a jogar e entregar a bola à distância e com visão de jogo. Faz-me lembrar o Aloísio, o que é o melhor elogio que posso fazer a qualquer central.

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