sábado, fevereiro 16, 2013

«HÁ QUE LEVANTAR A CABEÇA» (10 JANEIRO 2012)

1- Entrevistado no final do jogo de Alvalade, o brasileiro Hulk - o seu maior protagonista - saiu-se com a frase utilizada dez em cada dez vezes pelos jogadores, após resultados negativos: «Há que levantar a cabeça!» Utilizada por ele, naquele contexto, a frase traduziu aquilo que Hulk concluiu sobre o desfecho do jogo: foi um mau resultado para o FC Porto. Mau, não em função daquilo que o jogo foi, mas daquilo que devia ter sido e não foi.

O FC Porto, tal como O Sporting, não jogou para ganhar: jogou para não perder. O medo da derrota e o respeito mútuo comprometeram o jogo de ambas as equipas e fizeram do clássico dc Alvalade um jogo que não ficará para a história. Três oportunidades de golo para cada lado, ligeiramente mais bola para o Sporting, mas mais ataques e mais remates para o Porto. Um erro do árbitro para cada lado, nenhum com influência. De positivo, o jogo teve ainda poucas faltas, nenhuma entrada de massagistas em campo, nenhum jogador a fazer fitas, ninguém a perder tempo deliberadamente. Já não é mau.

Foi assim que eu vi o jogo, mas já sei que a versão sportinguista é, fatalmente diferente. Para eles, o que marcará o jogo é um off-side supostamente mal tirado a Van Wolfswinkel. que deixaria Elias isolado. Assim, mais uma vez, o Sporting só perdeu pontos por culpa do árbitro, como muito bem notou, aliás, João Pereira - para quem, também, só existiram duas oportunidades de golo e ambas do Sporting. O Sporting saiu do derby definitivamente fora da corrida ao título (não acredito que recupere uma soma de 14 pontos aos dois rivais), mas, apesar de tudo. satisfeito por não ter saído com estrondo, entregando a candidatura em casa, após derrota com o grande rival do norte, como tantas vezes tem sucedido nos últimos anos.

Pode-se dizer, pois, que o Sporting fez melhor (e está a fazer melhor) que o habitual. Quem fez pior foi o FC Porto. Um FC Porto com a ambição a um nível normal teria ganho em Alvalade. Foi nisso que eu apostei, mas, infelizmente, enganei-me. Mas como poderia também imaginar que o James Rodriguez, um jogador fabuloso, infelizmente confiado à gestão de Vítor Pereira, seria relegado para o banco, em detrimento de um sabidamente inútil Cristian Rodriguez? E que, acrescendo a esse erro de casting, mais uma vez, jogando sem ponta de lança, o ataque do FC Porto ficaria transformado numa absoluta confusão táctica, em que toda a esperança residia num golpe de génio solitário de Hulk?

O jogo todo, aliás, girou à roda do fenómeno brasileiro: quando ele pegava na bola, os corações portistas agitavam-se e os sportinguistas gelavam; quando a bola andava longe dele, era outro jogo. com gente normal fazendo esforçadamente o melhor que podiam.

Imaginem uma outra equipa do FC Porto, assim alinhada: Beto; Fucile, Mangala. Souza e Alex Sandro; Danilo, Guarín e James Rodriguez; Varela, Kleber e Iturbe. E, para suplentes, Bracali. Sapunaru, Emídio Rafael, Defour, mais os emprestados ao Rio Ave, Christian Atsu e Kelvin. Sabem que equipa é esta? É a equipa de jogadores não alinhados de início por Vítor Pereira em Alvalade e que, todos juntos, custaram ao FC Porto para cima de 70 ou 80 milhões de euros. Alguns foram emprestados porque não tinham lugar na equipa de Vítor Pereira; outros estão em baixo de forma continuada e, aparentemente, irrecuperável; outros não se sabe porque foram comprados, se não há lugar para jogarem; outro acabou de chegar e não há pressa em experimentá-lo, apesar dos 19 milhões que custou; e outro, que demorou seis meses a chegar e com fama de fenómeno, continua numa fase de adaptação tão prolongada que só estará adaptado quando tudo já estiver resolvido. Se alguém quiser perceber a razão porque a SAD do FC Porto está a viver tamanhos apertos de dinheiro, tem aqui a explicação.

Mas uma coisa é certa: apesar das também mais de 20 contratacões efectuadas pelo Sporting esta época, o que não faltou a Vítor Pereira em Alvalade foi matéria-prima para ganhar o derby tranquilamente, com a autoridade que lhe conferia a diferença de valor entre uma e outra equipa. Diferença claramente favorável aos portistas, excepto numa coisa; com Domingos Paciência no banco azul e branco, tinhamos ganho tranquilamente. A única coisa que falta a este FC Porto é um ponta-de-lança, já não digo à altura de fazer esquecer Falcão, mas a altura daquele que era, até Alvalade, o melhor ataque do campeonato. Mas não fui eu que fiz o plantel, no início da época. Não fui eu que juntei oito (!) extremos-esquerdos (e diz-se que ainda querem o Yannick!), nenhum extremo direito, e um centro de ataque confiado a Walter e a Kleber, de tal modo que foi jogar a Alvalade com um ataque formado por três extremos esquerdos, embrulhados uns nos outros, num novelo táctico que ninguém conseguiu desatar.

Diz Pinto da Costa que quem critica Vítor Pereira não percebe nada de futebol. Deve ser o meu caso - só resta saber o que seja perceber de futebol. Confesso que nunca tinha visto uma equipa, que supostamente queria ganhar um jogo difícil, entrarem campo com uma frente de ataque formada por três extremos-esquerdos. E duvido que haja algum treinador no mundo que, percebendo de futebol, prefira apostar em Cristian Rodriguez para ganhar o jogo, deixando no banco James (ver-se-á quem tem razão quando vierem buscar o James por milhões que jamais foram ou serão oferecidos pelo Cristian). E, ver-se-á, caso o Hulk se for embora, como o es- forçado desenho estratégico montado por Vítor Pereira desaba instantaneamente, sem demora nem apelo. Sobre isso, de não perceber nada de futebol, lembro-me sempre de uma coisa que me disse José Couceiro, quando era treinador do FC Porto e tinha de arrostar com as minhas críticas: «Para quem gosta de futebol e o segue com atenção, não é muito difícil perceber de futebol. Não é nenhuma ciência oculta.»

2- Em contrapartida, tenho visto com atenção como Jorge Jesus vai integrando de forma equilibrada e harmoniosa os sobrantes do seu onze principal, de tal maneira que, quando são chamados a jogo, não se nota que haja ali qualquer corpo estranho infiltrado num clube restrito. Isso foi uma vez mais evidente no tradicional passeio que o Benfica fez de visita ao União de Leiria. Quando solta os cavalos para atacar e ganhar o jogo, em sucessivas avalanches a toda a largura do campo, o Benfica é um caso sério. E só uma coisa me intriga: como é que há benfiquistas que não gostam de Cardozo? Não quererão trocá-lo por uma mão cheia dos nossos? Pois agora e depois de várias vitórias tem-te-não caias, o Benfica aí vai com dois pontos de avanço e dois jogos seguidos em casa pela frente. Uma equipa capaz arranca daqui para o titulo. Oxalá não seja o caso.

3- Pois, meu caro Eduardo Barroso, os meus prometidos parabéns ao Sporting ficam adiados, por razões à vista. Mas dou-lhes os parabéns por terem recebido o campeão nacional sem jaulas, nem grades, nem provocações prévias ou demonstrações de ódio larvar. Houve uns autocarros de adeptos apedrejados, mas isso foi coisa pouca e, infelizmente, banal em todo o lado. Todavia, faço notar que é segundo clássico envolvendo o FC Porto este ano,. depois da recepção ao Benfica, e não houve, nem com a nossa comitiva, os nossos dirigentes ou os nossos adeptos, o mínimo incidente provocado por nós. Pois é, nós temos a fama, mas os outros é que estragam as festas, com as suas claques nazis e os seus túneis e balneários pouco recomendáveis.

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