sábado, outubro 20, 2012

AFINAL, JÁ NÃO SEI… (20 SETEMBRO 2011)

1- Contrariando as opiniões gerais, acho que tanto o FC Porto como o Benfica poderiam e deveriam ter feito melhor do que fizeram no primeiro jogo da Liga dos Campeões.

O FC Porto é verdade que teve um inicio de jogo de um azar incrível e que foi capaz de dar a volta ao texto e contrariar a fortuna. Mas, depois de se ter visto a jogar uma hora contra dez e quinze minutos contra nove, é difícil compreender o excesso de cautelas de que deu mostras. Eu sei muito bem como é importante entrar na Champions com uma vitória - mais ainda se o treinador é completamente neófito nestas andanças. Mas na Champions não se pode jogar com medo, porque não compensa: não compensa contra os grandes nem contra os outros. Em superioridade numérica tanto tempo, o FC Porto deveria ter ido à procura do terceiro golo, sabendo que o primeiro lugar do grupo pode muito bem vir a ser decidido pela diferença de golos. E ser primeiro ou segundo no grupo é completamente diverso: ser segundo é quase uma sentença de morte a seguir, às mãos dos tubarões europeus. De tal forma que nem sei se não é melhor ser terceiro do que segundo, e seguir pela Liga Furopa, como aconteceu com Braga e Benfica na edição passada.

Mas, como disse, o que se viu foi um FC Porto com medo da própria sombra, preguiçoso e desinspirado, que ficou a dever a vitória exclusivamente a dois rasgos individuais de Hulk e James (quem mais poderia ser?).

Já os benfiquistas, que acham que fizeram um jogo fantástico, ficam muito amofados se lhes dizem que jogaram contra a reserva do Manchester. Mas, quem viu o Manchester-Chclsea, sabe que foi praticamente o que sucedeu, com Ferguson a vir à I.uz jogar para o empate, garantido pelo terceiro guarda-redes e pelos pés do veterano Giggs.

O Benfica deveria ter aproveitado a oportunidade para tentar baralhar as contas pelo primeiro lugar. Para mais, sabendo que o segundo é quase garantido pelo sorteio, deveria ter jogado para vencer, o que não fez. Embalados pela arbitragem de Duarte Gomes e pelas «minudências» (como lhes chamou o Fernando Guerra) dos três supostos penalties de mão na bola contra o Guimarães, também apostaram mais nessa táctica do que em tentar ganhar o jogo pelas vias normais. Por ironia das coisas, valeu-lhes o critério de um árbitro da Champions não ser igual ao de Duarte Gomes, quando uma bola centrada para a sua área foi de encontro ao braço de um defesa benfiquista - e nem os ingleses tugiram, nem o árbitro mugiu. O futebol a sério é bem mais sério!

2- Cinco dias depois da exibição pífia contra o Shakhtar, o FC Porto foi a Aveiro assinar uma exibição miserável contra o Feirense. Sem desculpas: o campo era neutro, o relvado de dimensões máximas e em bom estado, o tempo magnífíco, o adversário um primodivisionário com uma equipa só de portugueses e um orçamento de 2 milhões, contra os 95 milhões do orçamento do Porto. E o que se viu dá que pensar.

Primeiro que tudo, dá que pensar que o Porto sem o Hulk, praticamente não exista, ofensivamente. Mas, com o Hulk na equipa, qualquer um faz figura. O que precisamos é de ter uma alternativa, quando, como é o caso, ele fica na enfermaria, vítima da pancada que leva em todos os jogos.

Depois, dá que pensar que um treinador de futebol não entenda coisas óbvias, como o facto de o Sousa ser muito melhor jogador que o Fernando (o que não veio ao caso), ou de o Cristian Rodriguez ser uma aposta garantidamente sem retorno - em termos de custo/benefício é talvez a pior aquisição da última década. Tam-bem me custa a entender como é que, com tantos extremos-esquerdos adquiridos, emprestados, dispensados ou disponíveis nos últimos tempos, ninguém achou necessário ter um - apenas um! - extremo-direito. Não há um extremo direito no FC Porto: há esquerdinos adaptados à direita, dos quais só o Hulk funciona, porque é um génio. E também não entendo, a não ser por masoquismo, que, faltando o Hulk ou o James, não haja nada de melhor para meter em jogo do que o Cristian Rodriguéz. E, finalmente, não entendo que um treinador, depois de passar toda uma parte a ver o Cristian a perder todos e cada um dos lances em que intervinha, sem velocidade para a ponta e a refugiar-se no meio só para atrapalhar, precise ainda de mais 25 minutos da segunda parte para, enfim, o mandar a caminho do merecido descanso.

Até agora, não me pronunciei sobre Vítor Pereira. Compreendo que, na situação de emergência absoluta causada pela deserção de Vilas Boas, Pinto da Costa se tenha voltado para o que estava mais à mâo. Não questiono a escolha, mas é evidente que o seu valor tem ainda de ser demonstrado, e só há um local onde isso se pode fazer, no terreno de jogo. Constato que, dando continuidade a uma tendência que pode ser apenas fruto do azar, em Aveiro, ele falhou, uma por uma, todas as substituições. Primeiro, demorou tempo de mais a fazê- las - e sempre me custou entender por que razão um treinador, ao ver que a sua equipa não está a funcionar e que há jogadores que só estão a atrapalhar, precisa de esperar uma hora inteira para reagir. Já aqui escrevi que uma das coisas que eu gostava no António Oliveira, quando ele treinava o FC Porto, é que não se ensaiava nada para começar as substituições aos 20 minutos de jogo, quando via que a equipa tinha entrado mal: e mudava sempre para melhor. Já o Vítor Pereira passou uma hora do jogo de Aveiro a ver aquela tristeza e desinspiração e a única coisa que fazia era trocar ideias com o adjunto e tirar apontamentos (não pode fazê-lo depois, com o vídeo? De que lhe serve tirar apontamentos no decorrer do jogo, a não ser para se distrair e passar por moderno?). E, enquanto ele congeminava e escrevinhava, a equipa ia desperdiçando tempo precioso, acumulando asneiras sobre asneiras, sem uma única ideia inteligente ao serviço do jogo.

Ao intervalo, resolveu-se, enfim, a fazer qualquer coisa, mas essa coisa qualquer coisa foi tirar o único ponta-de-lança (que não estava a jogar nada, é facto), mas que assim deve ter ficado motivadíssimo para futuro. E, em lugar de substituir o Kleber pelo Walter, ponta-de-lança por ponta-de-lança, resolveu também arrasar com a confiança do Walter, preferindo o Varela e ficando com um ataque composto por... três extremos-esquerdos! Mudou outra vez e finalmente libertou a equipa do peso morto do Cristian Rodriguez, mas, quando se espe- rava o ponta-de-lança que gritantemente faltava naquela confusão ofensiva...meteu um médio! E, já em desespero, tirou o defesa direito e meteu... outro ponta-esquerda, que foi jogar... a defesa direito!

Meu caro Vítor Pereira: eu espero sinceramente - por si, mas sobretudo por nós - que você se saia bem desta dificílima empreitada que lhe veio parar às maos. Talvez você gostasse, e precisasse, de ter tido mais tempo até chegar onde chegou: nada mais humano. Mas, às vezes, não há como fugir - o momento faz (ou desfaz) o ho- mem. Se não fugiu à responsabilidade, não desperdice o momento, procurando uma paz e um tempo que, aqui, não vai encontrar nunca. Não pode ficar apenas sentado, a tirar apontamentos, à espera que as coisas aconteçam: tem de ir atrás do destino, sem medo de falhar, como fez o André. Ideias claras e coragem: não pode fugir disto. É o que espero de si para o jogo com o Benfica (onde e como prémio ao antijogo do Rabiola e à precipitação de um árbitro, vamos estar privados do James).

3- Dizem os sportinguistas que tudo lhes acontece - erros de arbitragem, azares de jogo, etc. Não é verdade: acontece a todos, mas eles só reparam quando lhes convém. Por acaso aconteceu ao Sporting, como ao FC Porto, terem rematado oito bolas aos postes nos últimos três jogos? Não, o que lhes aconteceu foi terem levado com dois remates do Zurique aos postes. Dizia o Eduardo Barroso que esse jogo ia ser fácil porque não haveria um árbitro a julgar mal um atraso ao guarda redes, como julgou o árbitro de Paços de Ferreira, segundo eles. E não é que sucedeu exactamente o mesmo, com um árbitro internacional a marcar também livre, numa jogada idêntica? Será uma conspiração internacional contra o Sporting ou será antes que o Rui Patrício tem de ser proibido de não agarrar bolas atrasadas pelos defesas, que não o sejam com a cabeça ou o peito? Por que razão tudo o que de mal acontece ao Sporting nunca é responsabilidade do Sporting?

sexta-feira, outubro 19, 2012

QUEREM FALAR DE “PENALTIES”? (13 SETEMBRO 2011)

1- Por um excelente e irónico motivo - o casamento de uma amiga minha com um amigo que é administrador da SAD do Benfica - tive de seguir o FC Porto-Vitória de Setúbal através de sms, lidos à socapa, na mesa do jantar. No final, interpelado sobre o resultado por um dos ilustres benfiquistas ali presentes, respondi que tínhamos ganho 3-0. Ele perguntou "e quantos penalties?", e eu respondi que, segundo as minhas informações, tinham sido três magníficos golos e todos de bola corrida - o que, a juntar aos outros cinco facturados em Leiria, quatro dias atrás, fazia oito golos consecutivos no campeonato de bola corrida. Nem de penalty, nem de livre, nem de canto, nem sequer de lançamento lateral - esse lance de ataque que o Benfica tanto treina e pratica, sem que os treinadores adversários se lembrem de mandar colocar um jogador sobre a linha lateral, em frente ao local do lançamento.

Longe estávamos nós os dois de imaginar que, no dia seguinte e à conta dos penalties, o Benfica voltaria a figurar no Guiness Book of Records. Não porque tenha visto um árbitro conceder-lhe dois penalties em dois minutos, ou três penalties em quinze minutos, ou até por ter um treinador que, depois de tanta festança, ainda teve a ingratidão de reclamar mais um - seriam quatro em vinte minutos de jogo. Não, o Benfica entrou para o Guiness porque conseguiu ter meia parte de um jogo em que só rematou três vezes à baliza e as três da marca de penalty!

O primeiro penalty, compreendo muito bem que um árbitro português o marque, sobretudo no Estádio da Luz e a favor do Benfica. Mas um árbitro internacional provavelmente não o marcaria: não se deixaria levar pela premeditação com que o Saviola fez tudo, adiantando-se ao defesa, travando para sofrer o encosto dele, ati- rando-se para a frente para parecer empurrado voluntariamente, e assim transformando em penalty uma bola perdida. O penalty "extra", que Jorge Jesus teve o mau gosto de reclamar, foi um remate à queima roupa que roçou a mão de um adversário, que não conseguiu amputá-la a tempo; o segundo assinalado por Duarte Gomes, foi uma bomba que acertou no peito de um vimaranense, que nem se mexeu, a não ser para cair derru- bado pela violência do tiro; e o terceiro assinalado foi uma anedota: um remate a meio metro de distância que acertou na cabeça do infeliz N'Diaye.

Não é inocentemente que em Portugal se caiu na total deturpação da lei do penalty, acabando-se a marcar muito mais penalties por suposta mão na bola do que pelos outros motivos bem mais frequentes: empurrões, pontapés, rasteiras, cotoveladas no momento do salto (o penalty assinalado contra o Braga foi outra anedota). Há treinadores que instruem os jogadores a procurar cruzar ou rematar contra o corpo dos adversários, propositadamente para ver se conseguem que a bola lhes acerte na fatal mão ou braço; há equipas que jogam deliberadamente à procura disto; há um público de adeptos acríticos e a quem interessa tudo menos a qualidade do jogo, que já estão mobilizados para desatar aos gritos de cada vez que algum defesa adversário corta a bola sem ser com o pé ou a cabeça, e há comentadores que, inocentemente ou nem tanto, fingem esquecer a regra essencial: não há penalty quando a bola acerta no braço ou na mão, mas quando o braço ou a mão acertam na bola. De contrário, os únicos defesas seguros seriam os manetas, amputados de ambos os braços pelo ombro. Infelizmente, esta batota - ensaiada, treinada, consentida pelos árbitros estimulada pelo público - estraga jogos, deturpa resultados e até pode dar campeonatos (foi assim que o Benfica, de Trapat- toni, chegou a campeão, com o Simão Sabrosa tornado especialista em cruzar e rematar contra os braços dos adversários). Pessoalmente, acho esta "'táctica" uma forma de batota cobarde, que revela fraqueza de quem a ensaia, pratica, arbitra e apoia nas bancadas.

E assim, já lá vão quatro jornadas do campeonato e, em três delas, o Benfica deve os resultados a, digamos, "erros de arbitragem". Se as minhas contas estão certas, caíram-lhe do céu tantos pontos quantos os que lhe caíram do relvado: cinco. Agora é que eu gostava de ver os dirigentes do Sporting a protestaram indignados!

2- Pois eu lá assisti, penosamente, à morte lenta do Sporting em Paços de Ferreira, seguida da ressurreição súbita. Devo, todavia, confessar que acho as noticias da súbita prova de vida do Sporting manifestamente exageradas. A mim parece-me que a morte foi apenas adiada por um milagre que não se repetirá muitas vezes.

Eu sei que jogar naquele terreno (um dos quintais onde a Liga permite que se jogue qualquer coisa vagamente parecida com futebol), não ajuda as melhores equipes. O problema é que eu não sei, no caso, quem será a melhor equipe: se o Sporting, se o Paços. Lamento se isto soa ofensivo aos sportinguistas e, pela minha saúde, juro que não é essa a minha intenção. Apenas acho que, se me pagam para dar a minha opinião, é a minha opinião que tenho de dar. Por exemplo: eu posso achar que o Benfica tem sido, como dizer, "amparado", pelos árbitros, neste arranque de campeonato. Mas, em todos os jogos que beneficiou de favores de arbitragem, mereceu ganhar. Jogue bem ou mal, ganhe com penalties imaginados ou lançamentos laterais, vê-se que o Benfica tem jogo e jogadores. E o Sporting, não: nem uma coisa nem outra. Em jogo jogado, chega a ser confrangedor, e, no que respeita às 16 novas aquisições, onde investiu 30 milhões de euros, tirando o Jéffren, que ainda não vi jogar, e o Elias, que preciso de ver mais... valha nos Deus! Se aquilo é «a grande equipa» de que fala Godinho Lopes, eu só posso dizer que se confirma a minha tese de que, para dirigir um clube de futebol, convém que se perceba alguma coisa de futebol - da mesma maneira que, para dirigir uma imobiliária, convém perceber alguma coisa de terrenos, construção e mercados. Talvez seja por isso que, Pinto da Costa (que não deve distinguir uma estaca de uma sapata), ganha tantas vezes mais do que os outros...

Em minha modesta opinião (que, repito, pretende tudo menos ofender quem quer que seja), este novo Sporting é, quanto muito, candidato a bater-se por um lugar na l.iga Europa do ano que vem. E também penso que, em lugar de jogar a cave num autocarro de jogadores estrangeiros sem valor demonstrado, teria sido mais prudente começar por comprar este ano apenas três ou quatro, mas daqueles que fazem verdadeiramente a diferença e entrariam de caras na equipa, melhorando-a logo. E para o ano voltariam a comprar outros dois ou três de categoria indiscutível e o mesmo no ano seguinte: daqui a três anos, gastando menos, escolhendo bem melhor e integrando os novos aos poucos, o Sporting teria, de facto, formado uma equipa e poderia, talvez, lutar pelo título. Assim, é de temer que se limite a lutar pela simples sobrevivência. Desportiva e financeira.

3- Na terça feira passada, na antevisão ao Leiria-Porto, um desses jornalistas embbeded no FC. Porto, que seguem todo o dia-a-dia do clube e que é suposto estarem melhor informados do que qualquer mortal cidadão, garantia que a grande estrela em ascensão no Dragão era o Cristian Rodriguez, e que o FC Porto iria jogar em Leiria com ele e Hulk nos flancos, ou, na impossibilidade de Hulk alinhar, jogariam Varela e Rodriguez. E eu perguntei-me: então e o James, esse menino que integrava o fenomenal póquer de ases de Vilas Boas (Álvaro, Falcão, Hulk e James)? Será que o jornalista acha que o Vitor Pereira é cego ou incompetente? Felizmente, não é, como se viu. James Rodriguez só não é o melhor jogador do campeonato por que existe também o Hulk. Mas vai ser rapidamente um dos melhores jogadores do mundo, porque tem tudo para isso. Com o regresso dele e do Alvaro Pereira, tivemos de volta a decisiva asa esquerda do grande FC Porto da época passada. O Deffour também deixou grandes sinais e ainda falta ver o Iturbe e o Danilo. Cheira-me a outra grande época. E espero que já esta noite, contra a dificílima equipa ucraniano-brasileira do Shakhtar, o cheiro a fumo se transforme em labareda. O Shaklar é a chave do grupo - um grupo incomparavelmente mais difícil e cansativo que aquele que saiu em sorte ao Benfica. Mas o caminho dos campeões é sempre mais complicado.

quinta-feira, outubro 18, 2012

O FUTEBOL PORTUGUÊS AINDA EXISTIRÁ? (06 SETEMBRO 2011)

1- O mais português de todos os clubes profissionais de futebol é o Cluj, da Roménia. Nele jogam quinze futebolistas portugueses, treinados por um outro português. Quanto mais não fosse por curiosidade, para nos voltarmos a lembrar o que é um clube português, o Cluj deveria ser convidado de honra para disputar a Liga portuguesa.

O ultimo português a juntar-se ao Cluj foi o jovem Mateus Fonseca, que assinou contrato por cinco anos, tendo saído directamente da academia leonina de Alcochete, onde entrara aos nove anos de idade. Ele foi o último de um lote de treze jogadores portugueses, jovens e menos jovens, que o Sporting dispensou esta epoca, incluindo os titulares Yannick c Hélder Postiga, vendidos a preço de saldo. Em contrapartida, e apesar da tão louvada Academia de Alcochete, o clube gastou trinta milhões de euros a comprar dezasseis jogadores estrangeiros. Juntos, Benfica, Sporting e Porto gastaram cem milhões a reforçarem-se com 34 novos jogadores, dos quais nem um só é português! É notável, se não se considerar antes que é criminoso.

Há cinco jogos consecutivos, pelo menos, que o glorioso Sport Lisboa e Benfica entra em campo sem um único jogador português. Foi assim que assegurou a entrada na fase de grupos da Champions e foi assim que, dizem-nos, conseguiu assegurar ter de volta o grande futebol. Parece que o grande futebol só é possível sem portugueses em campo e é decerto um absurdo que os sub-20 se tenham tornado vice-campeões do mundo e que a FIFA considere Portugal a 8ª Selecção do mundo. Vistos de fora, os nossos jogadores são óptimos; vistos de dentro, são inúteis.

Já o meu querido FC Porto, que na temporada passada tinha arrumado sumariamente promessas como Hélder Barbosa, Rabiola, Candeias ou Nuno André Coelho, este ano começou logo por dispensar os campeões nacionais de juniores que atingiram o limite de idade na categoria (ao mesmo tempo que comprava meia dúzia de miúdos estrangeiros da mesma idade), e a seguir livrou-se por venda, dispensa ou empréstimo, de mais uma serie de portugueses: Ukra, Castro, Sereno, Orlando Sã, Rúben Micael, Miguel Lopes, Rui Pedro, Sérgio Oliveira e Beto. Todos descartáveis. O tão apregoado projecto Dragon Force, que visava, como em qualquer clube verdadeiramente grande, fazer passar todas as épocas um ou dois jogadores para a equipa principal, está morto e enterrado por evidente falia de interesse da direcção do clube.

As escolas do FC Porto, que este ano ganharam dois títulos de campeões nacionais entre as três categorias etárias existentes, estão a formar campeões e a gastar dinheiro para nada: os dirigentes preferem, às vezes até sem olhar, ir buscar lá fora todos os jovens que os empresários lhes garantem ser apostas de futuro. A consequência desta politica seguida até ao absurdo está já à vista na Liga dos Campeões, onde o clube apenas pode inscrever 21 jogadores, e não os 25 da ordem, porque a tal está limitado pelas regras da UEFA e visto que apenas tem 4 portugueses no plantel e nenhum jogador formado nas suas escolas! Forçado, por exemplo, a deixar de fora a mais falada promessa de todas — o argentino Iturbe - o FC Porto vai ter de disputar uma sé- rie de seis jogos ao mais alto nível competitivo com apenas 21 jogadores. E basta imaginar três deles lesionados e dois castigados (o que será banal), para concluir que poderá haver jogos em que Vítor Pereira apenas disponha de 15 jogadores de campo! Para jogar a Champions, a competição em que tudo se aposta, este ano...

Por outro lado. tanto no FC Porto como no Benfica, e menos no Sporting, o constante recurso a jogadores oriundos da America do Sul, faz com que eles, ao serviço das suas selecções principais ou das dos escalões etários mais baixos, passem a época em desgastantes viagens jogos intercontinentais.

No FC Porto, o exemplo extremo é o de Hulk, escalado para o Brasil-Gana de ontem à noite e também para o Leiria-Porto de hoje à noite. Mas há outros casos de jogadores que só fizeram parte da pré-época e chegaram com a época a decorrer, como James, outros que não fizeram pré-época alguma, como o Iturbe, que esteve a jogar o Mundial de sub-20 e está seleccionado para os Pan-Americanos em Outubro, e outro, o Danilo, que só chegará em Janeiro. Aliás, virá o dia em que os jogadores de selecção sul-americanos, para defenderem as próprias carreiras na Europa, se revoltarão contra o excesso de jogos amigáveis e de competição a que sào sujeitos pelas selecções dos seus países.

Que sentido faz investir num jogador como o Iturbe, mesmo anunciado como novo Messi, se está ausente três semanas ao serviço do seu pais, falhando a decisiva pré-temporada onde se conhecem companheiros, clube, treinador e métodos de trabalho e jogo, e, depois de vir finalmente passar um mês ao clube, logo volta a partir para mais três semanas ao serviço do seu pais, falhando a Liga dos Campeões e a Liga portuguesa — e sempre com o FC Porto a pagar-lhe? Se os dirigentes dessas Federações não abdicam de ter uma vida de luxo, financiada pelos jogos das novas competições que estão sempre a inventar e, na sua falta, pelos jogos de preparação no Extremo Oriente, enquanto os clubes que pagam aos jogadores se vêm privados deles em momentos decisivos, não seria mais inteligente apostar antes mais na prata da casa e menos nesses craques planetários?

2- Não sei se haverá relação entre uma coisa e outra, mas o facto é que, com raras excepções, o futebol da nossa Selecção aborrece-me de morte. Seja com Paulo Bento, com Queiroz e antes com Scolari, não consigo entender como é que formando uma equipa só com jogadores super (tanto que jogam quase todos lá fora), o futebol que eles jogam nem sequer tenha identidade própria. Tanto podemos jogar bem, como mal, tanto podemos ganhar contra boas equipas como sofrer impensadamente contra equipas de terceira. Assim foi mais uma vez, contra dez jogadores do Chipre e um árbitro amigo a jogar por nós. Se quisermos estar na fase final do Europeu, vamos ter de fazer bem melhor no último e decisivo jogo em Copenhaga.

3- O campeonato espanhol abriu com uma semana de atraso devido à greve dos jogadores. Em causa estavam cinco milhões de euros de dívidas dos clubes pequenos a alguns jogadores e foi bonito ver Casillas a liderar a contestação em apoio a colegas menos afortunados. Porém, o cerne da questão é outro, que os jogadores não querem enfrentar: com a repartição desequilibrada dos dinheiros da televisão, o campeonato espanhol é cada vez mais um duelo e, para tentarem dar luta, há outros clubes que se endividam para além das possibilidades, a pagar o que não têm a jogadores que tudo têm.

Em Itália, os jogadores também ameaçaram com greve porque entendem que o novo imposto extraordinário aprovado pelo governo de Berlusconi - para, também, ele, sossegar os mercados e enfrentar a críse - não lhes deve ser aplicado. Ou seja: eles, que são os mais bem pagos entre os mais bem pagos, querem receber tudo sem pagar um euro de imposto e ainda beneficiarem de um sistema excepcional de segurança social, pago com os impostos dos outros. É, aliás, absolutamente incompreensível que os portugueses, por exemplo, achem muito bem que o governo leve 60% do produto do trabalho de um casal de ricos, que ganha em conjunto 153 000 euros por ano, mas ninguém se incomoda que se paguem ordenados mensais de 153 000 euros a um só jogador e que ele não pague impostos alguns. E, afinal, o que tem a mais um profissional de futebol do que, por exemplo, um médico que salva vidas alheias? O profissional de futebol tem jeito para dar chutos numa bola, e preocupa-se essencialmente com três coisas: ganhar cada vez mais, seja no clube onde está ou noutro para o qual exige partir a meio do contrato; fazer mais tatuagens e inventar um penteado em que ainda ninguém tinha pensado.

quarta-feira, outubro 17, 2012

UMA NOITE EM MONTE CARLO (30 AGOSTO 2011)


1- Da noite em Monte Carlo retive várias impressões:

a) Que o FC Porto vai na terceira derrota consecutiva em quatro finais da Supertaça Europeia - ou três vitórias morais, para quem as prefere. Estar ali, na final de Monte Carlo, já é uma honra e uma oportunidade rara, que se conquista por mérito próprio. Mas daí até ser o crónico saco de porrada do outro finalista, vai uma diferença.

b) O Barcelona actual é, talvez, a melhor equipa de todos os tempos e Lionel Messi o melhor jogador de sempre. Como se tem visto, é virtualmente imbatível e, como diz José Mourinho, ganha ganna quando joga bem e ganha quando joga mal. São assim os campeões: só de os ver entrar em campo, o adversário já está a tremer. Mas, para isso, não se jogam finais. Aos 40 segundos de jogo, já o comentador da Sport TV estava a dizer que o FC Porto estava a jogar muito bem, porque não estava todo encolhido atrás. É ponto de vista, não é o meu. Quando se joga apenas para retardar o golo do adversário, ele aparece sempre e normalmente da pior maneira e na pior altura.

c) Outra opinião é a realístia: jogasse como jogasse, jamais o FC Porto conseguiria bater o Barcelona, porque as coisas são como são. Muito provavelmente, é verdade, mas aconteceu que na noite de Monte Carlo, o FC Porto dispôs de um aliado de peso: o miserável estado do terreno, que, como se sabe, prejudica sempre mais quem melhor joga. O jogo de rabia em movimento constante que o Barcelona pratica precisa de um relvado que seja um pano de bilhar, onde os passos milimétricos do seu trio infernal (Xavi, Iniesta, Messi), não sejam atraiçoados por ressaltos e buracos do relvado. Com esse handicap, o Barcelona não conseguiu jogar bem: apenas conseguiu ganhar.

d) Sim, houve um penalty perdoado ao Barça e um golo oferecido pelo Guarin (que péssima exibição, coroada com uma expulsão muito feia!). Mas, ambas as coisas já são habituais nos grandes jogos internacionais do FC Porto (lembro o passe do Bruno Alves a isolar o Rooney, em Manchester, que custou uma passagem às meias finais da Champlons). Uma das coisas que caracterizam as verdadeiras equipas de top é que erros desses não se cometem em jogos destes.

e) Mas não foi por isso que o FC Porto perdeu. O penally, se assinalado, talvez nos tivesse levado a prolongamento - onde eu acho que seríamos dizimados. Perdemos, porque, por melhor que tenhamos resistido até ao hara-kiri de Guarín, em nenhum momento o FC Porto deu a ideia de poder ganhar o jogo. De ter a força física e moral e a coragem para tal.

f) A estratégia montada por Vítor Pereira - de pressão alta e saída constante ao portador da bola para conseguir curto-circuitar o tiki-taka - já tinha sido experimentada por Mourinho e igualmente sem sucesso. Mas, até ver, é a única que pode abalar aquele carrossel implacável. Porém, depende de uma coisa: uma fabulosa preparação física, que consiga manter os jogadores durante 90 minutos a correr atrás da bola, tentando furar a rabia do Barça. Ora, se há coisa que se nota neste FC Porto de princípio de época, em comparação com o de Vlllas Boas, é que a condição física está longe daquela que foi determinante para que a equipa ganhasse tudo na época passada. A primeira parte, ainda disfarçou; mas a segunda parte, tirando o remate de Guarin que quase dava golo, foi um penoso arrastar do tempo a cheirar a bola e a tentar adiar o segundo golo deles.

g) Helton esteve impecável, os centrais também, Hulk foi até ao limite da força física, tentando, sozinho, manter viva a esperança. Mas, além de Falcao, Álvaro Pereira fez uma falta danada (que coisa humilhante, esta de estar reservado para o Chelsea e não jogar um jogo destes!). Sem James e Álvaro Pereira, ficámos sem flanco esquerdo e, para uma equipa que dispõe de alguns oito extremos esquerdos, entre disponíveis e emprestados (só três foram contratados este ano!), não deixa de ser notável que, uma vez confirmado e reconfirmado o desinteresse de Silvestre Varela, tenha sido preciso apresentar, para uma final da Supertaça Europeia, o inócuo Cristian Rodriguez — um jogador do tipo trapalhão, de marrar em frente de cabeça baixa, ao estilo daquele Capel, que tanto entusiasma os sportinguistas. Moutinho não está a jogar nada. Guarin ainda menos, e o Fernando entrou não percebi porquê nem para quê, mas ainda a tempo de dar a inevitável balda da ordem, obrigando o Rolando a sacriticar-se e a levar o segundo amarelo para evitar piores consequências. E, enfim, o Kleber talvez precise de um golo ou talvez precise de um Alvaro Pereira a cruzar bolas para ele. (Á atenção de Pinto da Costa: no Twente, que o Benfica eliminou e que não joga nada, há, todavia, dois jogadores fabulosos: um é o defesa esquerdo Ola John, que o teimoso do Adriaanse teima em desaproveitar, um menino - milagre refugiado da guerra civil da Nigéria e hoje um talento à solta naquele flanco; o outro é o primeiro costa-riquenho que alguma vez deu nas vistas no futebol, o fabuloso Bryan Ruiz, homem dos sete ofícios, que passa 90 minutos atrás, no meio e à frente, desempenhando as posições 6,8,10,7,11 e 9. Que jeito que eles nos davam!).

2- Em devido tempo, escrevi que este Guimarães me parecia fraquíssimo: parece que sim. Escrevi que o Sporting acreditava em vão que, comprando uma catrefada de estrangeiros de segundo ou terceiro plano e contratando um bom treinador, partia como candidato ao título (o meu amigo Eduardo Barroso ofendeu-se com isto). Bom, parece que se confirma que a quantidade não traz qualidade, ou que, pelo menos, precisa de tempo até que seja o próprio treinador a convencer-se do contrário. Não vou cometer a deselegãncia de referir nomes, mas devo dizer que ainda nenhum dos quinze reforços já experimentados me convenceu. Salvo melhor opinião, não me parece que seja assim que se faz ou refaz uma equipa. Agora, vem mais o Elias, para inaugurar a fase dos profetas. Mas, não fosse o Eduardo Barroso poder ofender-se outra vez, eu poderia voltar a explicar porquê que o essencial continua a faltar. Digo só isto: se não querem meditar no exemplo do FC Porto, que lhes causa alergias e cujo sucesso lhes dá mais jeito creditarem a forças ocultas, concentrem-se (à devida escala, é claro) no exemplo do Barcelona, que Mourinho também acha que se deve a forças ocultas. É óbvio que o Barcelona dispõe de um Messi, à roda do qual construiu todo o seu sucesso. Mas o Messi foi feito na escola do Barcelona (de onde veio também o treinador Guardiola), segundo um modelo elaborado pelo genial Cruyff e jamais abandonado. E, se há coisa que o Sporting sempre teve, foi uma escola.

Restam os árbitros, é claro. Mas não sei, nem sei se alguém saberá, onde estão os três penalties não marcados a favor do Sporting de que fala Godinho Lopes. E, quanto ao golo anulado a Evaldo, nenhum juiz de linha do mundo teria a capacidade humana de ver simultaneamente a bola a partir e, trinta metros à frente, ver que o Evaldo não estava em off-side ... por centímetros. Porque ele tem de olhar para a bola a partir e, quando a seguir olha para a linha de off-side, já lá está o Evaldo plantado. Levar isto à conta de premeditacão, má fé ou vontade deliberada de prejudicar o Sporting, não é sério. Se se quer entrar por aí, então é, sem dúvida, mais inexplicável que, a dois metros do lance. Pedro Proença não tenha visto que a falta que assinalou e que deu o segundo golo ao Sporting era ao contrárío. Um golo que devia valer e não valeu trocado por outro que não devia valer e valeu. O Sporting perdeu com o Marítimo por uma única razão: porque foi pior equipa e mereceu perder. Tal como o Porto mereceu perder com o Barcelona, e apesar do penalty não assinalado - esse, sim, evidente.

terça-feira, outubro 16, 2012

HONRA E PEQUENEZ (23 AGOSTO 2011)

 1- Esta sexta-feira, na cidade do Monte Carlo, capital de uma imbecilidade mediática chamada Principado do Mónaco (onde uns supostos príncipes parasitas sobrevivem com dinheiro do jogo, da fuga aos impostos e das avenças que lhes pagam as revistas cor-de-rosa), o FC Porto, orgulho de Portugal e dos portugueses, vai ter a honra de enfrentar a melhor equipa de clubes, desde que o futebol existe: o FC Barcelona, de Pep Guardiola. É a melhor equipa, porque joga o melhor futebol jamais visto e porque conquistou, nos últimos três anos, tudo o que havia para conquistar: o Barcelona é campeão em título de Espanha, da Europa e do Mundo. Sete dos seus jogadores são ainda campeões do mundo de Selecções, ao serviço da Espanha, embora todos sejam catalães, produto de uma escola como não há outra em clube algum. Um clube que forma os seus próprios jogadores, que não aceita publicidade paga nas camisolas, em que o orgulho de lhe pertencer leva a que um jogador (Cesc Fabregas) prescinda de 5 milhões do seu vencimento contratual para lá poder jogar e que nenhum dos seus é capaz de trair - excepto, infelizmente, um português cujo nome não se pode pronunciar nas Ramblas. É treinado por um catalão, vindo das escolas do clube (antigo jogador, claro), e que, em três anos. conquistou onze títulos, ganhando tudo o que havia para ganhar e que, ainda por cima, é um cavalheiro, modesto e simples, incapaz de inventar desculpas esfarrapadas quando raramente perde ou de inchar de vaidade, quando ganha. E onde, enfim, joga o mais genial futebolista que olhos meus já viram, um argentino chamado Leo Messi, capaz de fazer com uma bola nos pés o que a física não consente e que, estranhamente, não se preocupa nem com penteados, nem com tatuagens, nem com a exibição de bombas sexuais contratadas, e o qual ninguém sabe como vive, com quem vive, o que faz quando não está a conversar com os deuses no estádio, e a quem, por respeito, jamais alguém se atreveu a fazer a pergunta ofensiva: «quanto queres para sair do Barcelona?».

Defrontar esta equipa e este clube é uma honra para o FC Porto. É certo que, por calendário - do campeonato espanhol, da Champions ou dos jogos amigáveis - há umas trinta outras equipas que também têm essa honra, todos os anos. Mas o FC Porto não o vai fazer por calendário, mas porque, por direito próprio, conquistou o acesso a uma final internacional de que o outro finalista é o Barcelona. E isto, meus amigos, é uma honra, é futebol a outra dimensão, de outra galáxia. Eu espero ardentemente que o FC Porto esteja à altura da honra que lhe vai caber, sexta-feira. Não espero que ganhe, porque, sinceramente, acho isso missão impossível. Mas espero que faça um jogo de destemor, de coragem, de prazer de jogar o melhor que pode e sabe, e não um anti- jogo, feito de cautelas, cobardia ou porrada. Espero que Vítor Pereira instrua a equipa para, antes de mais nada, honrar o clube e o futebol português, à vista de uma audiência planetária, e que, simplesmente, diga aos jogadores: «vão lá para dentro sem medo, tentem ganhar mas, sobretudo, desfrutem deste momento único, antes de regressarem à miséria do nosso campeonatozinho dos casos, dos queixumes e das maledicências dos eternos campeões da garganta para fora. Nem imaginam o que eles pagariam para poder estar no vosso lugar, no lugar que vocês conquistaram com todo o mérito e no único terreno onde a verdade desportiva que apregoam se demonstra, que é o terreno de jogo!». É só isso que eu espero e desejo.

2- Já aqui elogiei o Mais Futebol, da TVI. É um programa muito bem conduzido pelo Sousa Martins, sem tempos mortos, direito ao que interessa, com comentadores isentos e competentes. Muito bem o Pedro Barbosa e o João Viera Pinto, com o mérito acrescido de não falaram futobolês, mas sim português, simples e escorreito, como se deve falar em televisão. E muito bem o ex-árbitro Pedro Henriques, que consegue a proeza de trazer uma análise desapaixonada e de bom-senso aos tão discutidos casos das jornadas, explicando, de forma tão lógica e isenta a decisão de cada lance, que praticamente os transforma em doutrina incontestável. Concordei, por exemplo, com toda a análise que ele fez ao FC Porto-Gil Vicente: penalty incontestável contra o Porto, aos 2 minutos; expulsão, não concretizada, do Otamendi, que reunia todos os requisitos para tal; penalty por marcar sobre o Varela, quando havia 2-1 a favor do Porto; penalty por marcar a favor do Gil, quando havia 3-1 e a 2 minutos do fim. Mas, sobre a expulsão do Otamendi, gostaria de acrescentar que sempre fui contra o que considero uma dupla penalização máxima e excessiva: penalty e vermelho directo ao infractor. Aceito que a expulsão valha para quem derruba um adversário que vai isolado fora da área, porque aí não há lugar a penalty e há apenas uma penalização máxima. Mas, dentro da área, o penalty e expulsão equivalem praticamente a dois golos de penalização. Talvez por isso, sejam raros os árbitros, aqui ou lá fora, que o fazem. E raríssimos, se é que há alguns, os que já o fizeram aos 2 minutos de um jogo — porque, entre as regras não escritas mas ensinadas, também consta a que diz que um árbitro deve, na medida do possível, defender também o espectáculo. Torna-se-me assim dífiil entender que Paulo Alves tenha justificado a derrota do Gil com a não expulsão do Otamendi, dizendo que isso «condicionou a estratégia» para o jogo. Como? O Gil passou a semana a ensaiar uma estratégia que passava pela obtenção de um penalty e um golo caídos do céu, por oferta alheia, aos 2 minutos, seguido de expulsão de um adversário?

Pedro Henriques também não deixou dúvidas ao que eu já tinha visto na TV: a 5 minutos do fim, com o resultado em 2-1, o árbitro deixou passar em claro um penalty cometido pelo Javi Garcia, que, muito provavelmente, teria dado o empate ao Feirense na luz (para além de também ter deixado passar duas cotoveladas ostensivas, e aliás habituais. do mesmo Javi Garcia, que tem a sorte de não se chamar Paulinho Santos). E, portanto, em dois jogos, o Benfica conquistou um empate com um golo irregular e obteve uma vitória, que poderia ter sido empate, graças à condescendência do árbitro. Isto faz três pontos ganhos por mérito alheio, em apenas duas jornadas. Razão suficiente para que Jorge Jesus tenha mais cautela ao falar do que se passa no quintal do vizinho (e mesmo que eu não tenha gostado do estilo e do teor da resposta de Vítor Pereira).

3- Quanto ao Sporting, meu caro Alfredo Barroso, esforcei-me e muito para o ver, contra o Nordqualquercoisa e contra o Beira-Mar. E, com tanta constestação à arbitragem, mesmo reconhecendo, como já o fiz, que teve um golo mal anulado contra o Olhanense, só posso dizer que percebi bem a tua tristeza e frustração, sobretudo depois de ver que um árbitro dos regionais tem mais categoria a arbitrar que um suposto candidato ao título máximo a jogar futebol. O símbolo, para mim, é o Yanick: está mais preocupado em manter o penteado em pé do que em mostrar serviço no relvado. O campeonato está «descredibilizado», como disse o Carlos Freitas? Pois seja, mas não é o Sporting, que acabou o anterior campeonato a 36 pontos do Porto e que não consegue derrotar uns amadores dinamarqueses, que tem autoridade para o dizer...

4- É preciso estar de muito má-fé para titular, como o Diário de Notícias, «Falcao vendido abaixo do valor da cláusula». A venda de Falcão, tornada inevitável por várias razões objectivas, foi o melhor negócio feito até hoje por Pinto da Costa e a mais lucrativa venda de sempre de clubes portugueses. E com o gozo extra de ter impingido a Jorge Mendes também o Ruben Micael (porque isso de vender só os bons jogadores é fácil).

terça-feira, outubro 02, 2012

FUTEBOL, MUITO POUCO (16 AGOSTO 2011)

1- A Liga começou com os hábitos de sempre: o Porto ganhou, o Benfica escorregou, o Sporting protestou; (ate ontem a noite), cinco empates em sete jogos e apenas dez golos marcados todos ou quase todos, por estrangeiros; em contrapartida, os treinadores são todos portugueses, o que alias, se vê logo pelas declarações - os dois Únicos que ganharam foi com toda a justiça; os dois únicos que perderam foi por culpa do arbitro. E, enfim, para nâo variar também, o futebol visto foi fraco, fraco demais.

O Benfica, enfrentando uma defesa do Gil que tudo permitia, não soube colocar-se fora do alcance de um pontapé feliz, (mais um!) de Laionel. Dos reforços apresentados, gostei sobretudo do guarda-redes Artur; os outros, podem ser muito bons, como dizem, mas ainda não fazem uma equipa. O esquema e confuso e a falta de Fábio Coentrão e gritante. Vai melhorar com certeza, mas, mais uma vez, entrou com o pé esquerdo.

Tal como o Eduardo Barroso, também eu vi o Sporting-Olhanense num restaurante algarvio, do outro lado da Ria de Alvor. Vi apenas a segunda parte e distraidamente, intercalando umas g ar fadas numa deliciosa lula ovada com uns olhares ao écran. Mesmo assim e mesmo á distancia, deu para ver claramente que o Hélder Postiga não estava em off-side no golo anulado. Não dá para entender como é que o juiz-de-linha o não viu. De resto, vi o Sporting dessa segunda parte atacar muito mas sem criar oportunidades de golo: também ele, e num jogo teoricamente fácil, náo soube colocar-se fora de alcance de um erro de arbitragem. Oito dias antes, tinha visto o FC Porto ganhar a final da Supertaça tranquilamente e apesar de três penalties não assinalados ao Vitória de Guimarães. As equipas vencedoras são como reza a canção de Gerardo Vandrei, que se tornou hino de resistência à ditadura militar brasileira: «Quem sabe, faz a hora / não espera acontecer". Ainda hoje, Domingos deve suspirar pela oportunidade perdida de entrar no Dragão no ano passado. E ele merecia essa oportunidade.

Em Guimarães, tal como há uma semana, o FC Porto venceu, mereceu, mas esteve longe de entusiasmar. Revelando grande falta de ritmo, de velocidade, de imaginação, esteve sempre dependente do talento de Hulk, Já Varela, Moutinho e Ruben Micael (sem defender e com medo de atacar), voltaram a fazer exibições fraquíssimas, e Guarin e Falcão estão fora de forma ou cansados de tanta bola e tantos jogos quase sem descanso. Kleber, com três golos falhados em frente ao guarda-redes, revelou tanta vontade de mostrar serviço como desatino na hora de o fazer. Mas o FC Porto saiu a ganhar e a estatística diz-nos que, quando ganha em Guimarães, vence o campeonato (no ano passado não ganhou, mas também foi campeão). São sempre jogos sofridos e difíceis, com excepção do ano em que o Vitória se aliou ao Benfica para, em nome da verdade desportiva tentar roubar-nos na secretaria o título de campeão e a entrada na Champions. Nesse ano, o FC Porto mandou lá uma equipa com metade de reservístas e, só para ensinar algumas coisas sobre a verdade desportiva, saiu de lá com um humilhante triunfo por 6-0. Desta vez, o jogo ficou marcado por dois acontecimentos insólitos, que vale a pena contar.

O primeiro, foi o estado degradante em que o Vitoria apresentou o seu relvado, logo na Ia primeira jornada do campeonato. No pino de Agosto, com temperaturas a rondar os 30 graus, não se compreende, como notaram os repórteres da Sport XV, que se tenha jogado num campo lavrado, mais próprio do Inverno. Segundo eles, talvez isso se tenha devido ao facto de o campo ter sido regado mais do que uma vez, antes de começar o jogo e talvez a última tenha sido demais... Claro que eu me recuso a acreditar que a intenção foi mesmo a de tornar o jogo uma lotaria, em prejuízo da melhor equipa. Com o futebol ao preço que está, eu não acredito que passe pela cabeça de alguém tornar deliberadamente impossível um bom jogo, ensopando a relva. Mas o facto é que, em Guimarães, se reuniram as piores condições para a pratica de futebol: um calor de ananases e uma relva de semear batatas; clima de Verão, relvado de Inverno. Como seria de prever, essa combinação (como diria o Manuel Machado), rebentou fisicamente com os jogadores (ainda por cima, em principio de época) e foi responsável por um jogo sem graça alguma. E, por ironia do destino, o Vitória falharia a sua melhor oportunidade de golo quando Barrentos completamente isolado, não se conseguiu firmar no chão e... passou a bola ao Hellon.

O segundo facto insólito deu-se quando Manuel Machado, saído do flash interview, deu de caras com outro entrevistador de TV, que nunca tinha visto e que não tardou a perceber que não frequentara a escola do jornalismo desportivo português. Eis o dialogo (acessível na íntegra em wwv.adeusconversadetreta.com).

- Repórter: «Manuel Machado...»
- Manuel Machado: «Professor. Professor Manuel Machado.»
- Repórter: «Professor, terceiro jogo seguido com o FC Porto e terceira derrota...»
- Professor: «Muita injusta, como todos viram. Tivemos oportunidades suficientes paia ganhar o jogo, so falhou a concretização.»
- Repórter «Mas o FC Porto teve mais posse de bola, mais ataques, mais remates, mais cantos e seis oportunidades de golo contra três do Vitória...»
- Professor: «Parece-lhe a si. Como é sabido, a estatística e uma ciência subjectiva: o que interessa relevar são as alterações que se estabelecem dentro das condicionantes estatísticas. Fomos nos que demos a iniciativa ao Porto, deliberadamente, assumindo a estratégia do jogo, a que o adversário foi obrigado a submeter-se. Só não contávamos com aquela combinação perfeita que acabou com a bola dentro da nossa baliza»
- Repórter: «Refere-se ao penalty? Acha que não foi penalty?»
- Professor: «E você, acha que foi?»
- Repórter: «A opinião unânime na bancada de imprensa é que sim...»
- Professor: «Ai é? E o que percebem vocês de penalties ou de futebol? Qualquer pessoa que perceba de futebol vê que aquilo é apenas uma intervenção resultante da dinâmica fisiológica de um braço em movimento ao redor de um pescoço estático. E uma atitude fisíco-táctica frequente nos pontapés de canto e que se estuda nas melhores academias de futebol, onde eu sou sempre professor convidado. E, por isso mesmo, em obediência às melhores práticas, é uma jogada que nós ensaiamos muito no Vitoria.»
- Repórter: «No jogo da semana passada, os analistas também foram unânimes no facto de terem ficado três penalties por marcar contra o Vitória. Mas aí o senhor ficou em silêncio...»
- Professor «Porque ai não houve, como hoje, combinação alguma. Houve apenas correcta interpretação das modernas leis sobre o momento certo de entrada á bola, mesmo que a bola lá não esteja.»
- Repórter: « E, mesmo com três penalties por marcar, também esse jogo o senhor perdeu...»
- Professor «Já lhe disse que não houve penalty algum por marcar: houve apenas momentos em que o adversário nos quis desconcentrar com reclamações infundadas. Aliás, essa foi uma das razões da nossa derrota tangencial.»
- Repórter: « Portanto, hoje perderam devido a uma combinação do arbitro com alguém mais; no domingo passado, devido a desconcentração causada pelo adversário...»
- Professor: « Exacta mente.
- Repórter: « E na final da Taça, quando a sua equipa, completamente repousada, passou ainda uma semana em estágio a preparar o jogo, enquanto o adversário venceu a final da Liga Europa a meio da semana, ficou dois dias a festejar e um a descansar, e chegou lá e deu-vos 6-2? Qual a razão?»
- Professor «Oiça lá: o senhor quem é? De onde vem? Quem é o seu patrão? E em que país acha que está?»