quinta-feira, novembro 17, 2011

TRÊS BANDEIRAS CONTRA A INVEJA, EM IPANEMA (22 FEVEREIRO 2011)

1- Vitória tranquila e justa do Benfica em Alvalade. Não há comparação alguma entre as duas equipas e o momento psicológico que atravessam e não era de esperar outro resultado.

Órfão de Ledson, o seu único jogador de categoria, o Sporting teve também teve a sorte do jogo contra si: Evaldo castigado, Maniche auto-castigado, Daniel Carriço impedido e o próprio treinador suspenso, na bancada. Depois, teve azar nas ocasiões em que bem podia ter empatado, entre o 0-1 e o decisivo 0- 2, e não teve sorte nas decisões da arbitragem. Mas o Benfica entrou para ganhar e chegou rapidamente ao 1-0, tirando partido da falta de ritmo de Grimi para acompanhar Salvio, num momento fatal, chegou ao 2-0, num duplo golpe de sorte; erro de avaliação do árbitro e autogolo de Polga.

Não há nada a dizer sobre a justiça da vitória do Benfica, alicerçada não num grande jogo, mas no aproveitamento de mais uma manifestação da impotência do Sporting. Mas, se eu fosse como alguns advogados benfiquistas, podia dizer o seguinte: que Artur Soares Dias, um árbitro do Porto com categoria e personalidade, cometeu — como todos os árbitros sempre cometem — erros importantes e sempre em favor do Benfica. Merece o benefício da dúvida num hipotético penalty de Coentrão sobre João Pereira, ainda com 0-0; anulou bem um bonito golo de Matias Fernandez e não pactuou com o tipo de jogo a roçar a violência que o Benfica exibiu entre os dois golos e que ja havia mostrado no Dragão e na final da Supertaça. Mas perdoou uma cotovelada intencional de Cardozo na cara de um adversário, que, no tempo de Deco e Quaresma no FC Porto, daria expulsão ou sumaríssimo, mas que no Benfica passam sempre impunes; perdoou outro vermelho directo a Jardel por uma autêntica agressão à cabeçada sobre Cristiano e, pior que tudo, transformou em livre à entrada da área e amarelo para Polga um corte limpíssimo, que teria merecido, sim, o amarelo a Gaitan por simulação: por ironia das coisas, do livre resultaria o golo que matou o jogo, com pontapé de Gaitan e desvio decisivo de Polga.

Resta um facto que dá que pensar: o Sporting utilizou 14 jogadores, dos quais 10 portugueses; o Benfica utilizou os mesmos 14 jogadores, dos quais 2 portugueses. E o duelo Benfica-Porto segue até final.


2- Como aqui escrevi na semana passada, não consegui ver, no Brasil, nem o Benfica-Guimarães nem o Braga-Porto e confiei nos relatos generalizados e coincidentes de diversas fontes publicadas para extrair a conclusão que os triunfos de benfiquistas e portistas tinham sido justos e incontestáveis. Afinal, precipitei-me: faltava-me a opinião, sempre isenta, de Sílvio Cervan. Por ele, e confiando na sua honestidade intelectual, que não se discute, fiquei a saber que, afinal, a vitória do Porto em Braga foi apenas «mais um jogo ganho por decisões incorrectas da arbitragem». Aliás, acrescenta ele que o mérito da liderança folgada do FC Porto neste campeonato tem de ser dividido «com um vasto plantel da arbitragem portuguesa» (ficará alguém, de fora, algum árbitro sério, aos olhos de um benfiquista sério?). E ainda fiquei a saber que André Villas Boas não passa de um «adjunto de Vítor Pereira» e que sente uma imensa «pena e tristeza» por não ter disputado a Champions e não treinar «um clube da dimensão do Benfica» (dimensão bem patente na sua recente e fulminante carreira na Champions, acrescento eu).

Também li, segundo relato de Rui Moreira, que outro ilustre benfiquista. Rui Gomes da Silva, preferiu atribuir a razão da liderança portista à falta de empenho dos adversários que enfrenta. O último em data, terá sido, presumo o SC Braga, em quem os benfiquistas depositavam tantas esperanças para atrasar o FC Porto. É, de facto, suspeito que se tenham deixado bater pelos portistas em sua própria casa. Já que o mesmo SC Braga se tenha deixado bater este domingo em casa pelo Paços de Ferreira (que já lá linha vencido também para a Taça da Liga), ou que o V, Guimarães se tenha deixado bater tão tranquilamente na Luz, isso, claro que não levanta suspeita alguma.

Já aqui o tenho reconhecido, este ano como no ano anterior, que o Benfica está a jogar bom futebol. Acho, pois, perfeitamente natural que ganhe, mesmo que haja decisões arbitrais que o beneficiem pontualmente: uma equipa que ataca quatro vezes mais do que os adversários, como sucede com o Porto e o Benfica, tem muito mais hipóteses de beneficiar, por exemplo, de golos obtidos em off-side não assinalado ou de penalties mal assinalados. Mas no inicio da época, todos vimos os erros próprios cometidos pelo Benfica, desde os frangos de Roberto aos enganos estratégicos de Jorge Jesus, passando pelo desinteresse de David Luiz e a baixa de forma ou de empenho dos mundialistas e não só. Como resultado disso, o Benfica perdeu nas quatro primeiras jornadas um acervo de pontos para o FC Porto (depois acrescentado com a tareia sofrida no Dragão), que constitui o atraso que hoje tenta desesperadamente recuperar. Mas, para os advogados benfiquistas, a explicação para o atraso é outra e apenas esta: a arbitragem. Que, por coincidência, só os prejudicou quando eles estavam a jogar mal. E agora, que estão de novo a jogar bem, os benfiquistas não aceitam e fingem não perceber como é que, de direito próprio, não vão à frente do campeonato — nem que, para tal, se tenha de apagar dos registos aquelas fatídicas quatro jornadas iniciais.

Já quanto às vitórias do FC Porto, o raciocínio de Rui Gomes da Silva e de Sílvio Cervan é cristalino: ou se devem a erros dos árbitros ou a falta de empenho dos adversários. Mérito próprio é que jamais.

Infelizmente para as verdades benfiquistas, existe um território onde a tão invocada «verdade desportiva» pode ser apreciada sem intermediários de outra espécie: chama-se Europa. E, nessa Europa da verdade desportiva, os factos mostram que o Benfica, depois de uma campanha na Champions que envergonhou o País e não apenas as suas cores, depois de ter conseguido a proeza de perder por 0-3 contra os campeões de Israel e ter estado a dois minutos de até perder para eles o terceiro lugar do grupo, estreou-se na Liga Europa jogando em casa contra o penúltimo do campeonato alemão e o mais que conseguiu foi um tangencial e sofrido 2-1. Já o FC Porto, desfalcado dos árbitros amigos e da amizade colaborante dos adversários, e também e ainda (!) desfalcado de Alvaro Pereira e Falcão, foi a Sevilha ganhar 2-1 e situar o seu registo desta temporada europeia num impressionante conjunto de oito vitórias e um empate em nove jogos disputados. Este é o argumento para o qual, de há vinte e cinco anos para cá, os benfiquistas não conseguem encontrar uma resposta que evite o ridículo em que esbracejam, tentando manter-se à tona.


3- A praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, é um paraíso para os amantes de futebol. Assim que o céu desce no horizonte, acendem-se as luzes da praia e começam sucessivos jogos de futebol de areia e futvólei, balizas contra balizas, redes contra redes, ao longo de seis quilómetros de praia, desde o Arpoador ao Leblon. Nessa altura do dia, já fecharam as barraquinhas de comes e bebes e aluguer de cadeiras e guarda-sóis, separadas umas das outras por uns 50 metros e cada uma delas hasteando ao alto a bandeira do clube do coração do seu dono. Como seria de esperar, abundam as bandeiras dos clubes do Rio - Fla, Flu, Bota, Vasco — mas também do Corinthians ou do Grémio de Porto Alegre. E o mais curioso é que só há um clube estrangeiro representado em toda a praia. E querem acreditar que é um clube português? Quem será - o Sporting? Não, eles só descobriram agora que o Sporting existe e graças à ida do Liedson para o Timão (o Corinthians, de S. Paulo). É o Benfica, claro, o clube dos seis milhões em Portugal e mais doze no mundo inteiro? Não, também não é o Benfica.

Meus caros amigos: tenho a declarar que, neste Verão de 2011, a única bandeira de um clube não brasileiro hasteada na praia de Ipanema, na cidade maravilhosa de S. Sebastião do Rio de Janeiro, é do grande FC Porto, que Deus o tenha assim por muitos e bons anos! E mais, acreditem ou não: não é uma bandeira do FCP, voando ao vento de Ipanema: são três! Três bandeiras em três diferentes barraquinhas de praia! Ora, tomem lá, seus invejosos!

Impõe-se uma urgente visita de uma embaixada benfiquista eloquente, comandada por Luís Filipe Viera e integrando o Cervan, e o Gomes da Silva, o APV, o RAP, o Barbas e a Carolina Salgado para abrir lá, se não existe, uma Casa do Benfica, ou, melhor ainda, para comprar uma barraquinha de praia com direito a bandeira hasteada. Afinal, para que serve o recorde do Guiness Book?

terça-feira, novembro 08, 2011

VISTO DE FORA (15 FEVEREIRO 2011)

1- A Sport TV, que já chegou ao Brasil, transmitindo os jogos do campeonato português, infelizmente não se encontra em nenhum lugar público, como hotéis, bares, restaurantes. E assim, como me acontece já há longos anos, de cada vez que estou no Brasil perco sempre um ou dois ou mais jogos do meu FC Porto. Este fim-de-semana, tive de perder o Braga-Porto, que acompanhei à distância, entre o nervoso e a esperança, através de sms primeiro, e depois através dos sites de relato escrito minuto a minuto. Nestes, o que mais me custa, aquilo que se torna repugnante mesmo, é acompanhar também os comentários dos frequentadores do site que vão sendo feitos em simultâneo. O menos de tudo ainda acaba por ser o facciosismo doentio de todas as clubites, sem excepção, revelando gente que não é capaz de ver e apreciar um jogo de futebol por si mesmo. O pior porém, é a linguagem desbragada de ódio, de insulto, de miséria moral que ali se encontra. Eu sei que não é multo diferente dos comentadores dos sites de política, de sociedade, do que quer que seja.

Vive na net a coberto do anonimato, uma mu1tidão do seres doentios, cobardes, transtornados pela raiva e que, a salvo de qualquer consequência, dão largas aos seus instintos de autênticos animais. Qualquer tentativa de os identificar, para efeitos processuais, junto dos servidores americanos, encontra fatalmente a oposição das autoridades judiciais dos Estados Unidos, invocando a hipócrita razão da liberdade de pensamento. Como se a liberdade se confundisse com o direito ao insulto e à calúnia, sem riscos nem consequências! Enfim, adiante.

Pelo que vi e li, posteriormente, não ficaram dúvidas algumas sobre a justiça dos triunfos do Benfica e FC Porto. O Benfica ganhou por três, mas ainda atirou duas bolas à barra e falhou um penalty. Dizia um conformado Manuel Machado, no final, que «tentámos dar a posse de bola ao Benfica, mas eles marcaram». Bem, tentar, e conseguir, dar a posse de bola ao adversário não custa muito e normalmente acaba com ele a marcar e a ganhar. Se era essa a táctica para evitar a derrota...

Quanto ao FC Porto, dizia o site do Record, aos 74 minutos, que já havia feito dez remates à baliza contra nenhum do SC Braga. Mas, logo no minuto seguinte, escrevia que o Helton tinha acabado de fazer uma fantástica defesa - a primeira que teve de fazer nos últimos três jogos do campeonato. E, pelo relato do jogo, também deu para perceber que o resultado de 2-0 só pecou por escasso. Semi-desmantelado no mercado de Janeiro, o SC Braga também já deixou de ser um obstáculo à caminhada a dois que é este campeonato: Benfica e Porto estão muito longe de todos os outros.

Na véspera, Jorge Jesus tinha vindo repetir a sua afirmação de que ninguém joga melhor do que o Benfica, actualmente. Eu concordo, claro — é o que está vista. Mas, se quisesse ser justo, Jesus teria dito que este FC Porto, que há mais de um mês e nove jogos está desfalcado de Álvaro Pereira e Falcao, só poderia ser comparado, no momento actual, a um Benfica desfalcado de Fábio Coentrão, Saviola e Cardozo. Aí, sim, poder-se-ia comparar. Porque, quando ambas as equipas estavam completas, sabe-se o que foi…

Jesus está a ficar nervoso porque o FC Porto abana mas no cai e os 8/11 pontos de avanço já começam a parecer demasiados à medida que caminhamos para o final: mais duas ou três vitórias consecutivas e ponto final. Com declarações daquelas ou semelhantes, Jorge pretende duas coisas: uma, pôr pressão na equipa do FC Porto, a atravessar um período difícil marcado por sucessivas lesões e agora com mais a frente europeia. Outra, a de ir preparando os adeptos do Benfica para o segundo lugar no campeonato. «Não ganhámos, mas fomos a melhor equipa» - é o que ele provavelmente dirá daqui a dois meses, recuperando a estratégia em que o Benfica sempre foi bom nos últimos anos: justificar a objectividade das derrotas com a subjectividade das opiniões. Pois que se console com isso: a oportunidade de Braga, em que os benfiquistas depositavam tantas esperanças, já a perdeu.


2- A não ser por razões absolutamente excepcionais, percebe-se mal que os dirigentes do futebol retirem o protagonismo aos jogadores, aos treinadores, ao próprio jogo. E que um presidente de clube possa fazer toda uma gigantesca manchete de primeira página, como fez o presidente do Marítimo, Carlos Pereira, na edição de sábado deste jornal.

Em pose e atitude de ‘agarrem-me que eu não tenho medo de ninguém!’, Carlos Pereira aproveitou mal os seus dez minutos de fama. A dita «coragem» ficou-se por insinuações não concretizadas, bois sem nomes e bravatas sem interesse nem sentido. Em contrapartida, mostrou saber bem a que devia a honra da primeira página de A BOLA e colocou-se à altura do encargo: dizer mal do FC Porto — coisa que sempre garante audiência na imprensa desportiva de Lisboa, Imagine-se que ele queria antes dizer mal do Benfica ou do seu presidente: acredita que lhe dessem toda essa atenção?

Tudo isto, claro, a propósito do interminável folhetim Kléber. Ora, eu percebo que o presidente do Marítimo tenha, como direito e obrigação, defender o que entende serem os interesses do clube a que preside. Também percebo que, tendo-se criado um imbróglio jurídico a propósito da situação contratual de Kléber, ele tenha feito valer as suas razões, enquanto o assunto não se esclarece na FIFA. No impede que ele está como alguém a quem um amigo empresta por dois anos uma casa de que não precisa e, quando ao fim de um ano, o amigo lhe vem pedir a devolução da casa, porque tem uma excelente proposta para a vender, responde: «Não quero saber disso, foi-me emprestada por dois anos e só a largo aí.» Pode ter toda a razão jurídica e até contratual, mas não é propriamente uma atitude de louvar. Acontece até que, no caso, entrava em jogo o interesse e a vontade de uma terceira pessoa, por acaso a mais importante: o próprio jogador. Kléber, o Atlético de Minas Gerais, proprietário do seu passe, e o FC Porto, todos estavam interessados e de acordo com o seu ingresso nos azuis-e-brancos. O Marítimo boicotou e atrasou tudo isso um ano. Como disse, está no seu direito, mas é provável que, daqui para a frente, qualquer outro clube pense duas vezes antes de emprestar um jogador ao Marítimo.

Mas as coisas tornaram-se ainda mais claras, quando Carlos Pereira não resistiu a abusar da sua posição e tentou agora, à papo-seco, uma manobra para desviar o jogador para o Sporting, mostrando assim que, mais do que conservar Kléber enquanto pudesse, o que passou a interessar foi impedir que ele fosse para o FC Porto. Quando agora vem dizer que a proposta do FC Porto ao Atlético Mineiro não era superior à do Sporting, está a ser ridículo, metendo-se naquilo a que não é chamado: por acaso é ele dono do passe do jogador? O que tem a ver com o negócio entre Atlético e o FC Porto? Há dias, ouvi na rádio o sportinguista Alfredo Barroso dizer que, mais uma vez, o FC Porto tinha boicotado um negócio ao Sporting. Achei extraordinário: então não foi o Sporting que tentou boicotar o negócio ao FC Porto? Não sabiam que ele estava desde Junho a tentar comprar o Kléber?

Isto merecia um castigo e claro que Pinto da Costa não perdoou: na próxima época, além de perder Kléber, Carlos Pereira vai perder também o Djalma. Terá de ir pedir ajuda ao Benfica.

O mais irónico de isto tudo é que, apesar da sua pose de homem livre, independente e sem medo de ninguém, Carlos Pereira dirige o clube menos livre e independente de Portugal e vive no permanente terror dos achaques do Dr. Jardim, que é o verdadeiro dono do Marítimo.

Sem o Dr. Jardim a decidir quanto do dinheiro dos nossos impostos é que vai para sustentar o Marítimo, o Marítimo (clube histórico do futebol português, que respeito) não existiria na primeira divisão. Tanto o Marítimo, como o Nacional, mas mais aquele, são dois casos de autentica concorrência desleal. Agravado pelo facto de o Marítimo, na composição das suas equipas, ser o menos português de todos os clubes portugueses, É fácil dirigir um clube nestas condições. Veja-se o fantástico exemplo do novo Estádio dos Barreiros, que Carlos Pereira tão bem explica nesta entrevista. O luxo vai custar 39 milhões de euros, das quais o Governo Regional avaliza 31 milhões. Ou seja, vai pagar 31 mi1hões, porque é evidente que o Marítimo, por si, nunca os pagará. A obra está, alias, interrompida porque, segundo se percebe, o Marítimo não consegue que os bancos lhe emprestem dinheiro para os 8 milhões que lhe cabem — tamanha é a independência do clube. Mas, sem se desmanchar a rir, Carlos Pereira diz que fez contas e que, calculando o «tempo de vida útil do estádio», o Fisco ainda acabará a arrecadar 79 milhões, em troca dos 31 ou 39 que os contribuintes (do continente, claro) agora lá vão ter de enfiar, a fundo perdido. Fantástico raciocínio: olha se todas as empresas portuguesas propusessem semelhantes negócios ao Estado!

Carlos Pereira perdeu uma excelente oportunidade para estar calado e não mostrar exuberância o que é um dirigente desportivo português no seu melhor.

quarta-feira, novembro 02, 2011

UM DRAMA SÉRIO, OUTRO MENOR (08 FEVEREIRO 2011)

1- O drama sério é do Sporting. Estará o Sporting em vias de extinção ou de definitiva subalternização? Eu acho que sim e já aqui o escrevi: por razões objectivas, de ordem sociológica, desportiva, financeira. O mundo pula e avança e o Sporting ficou para trás, enquanto o mundo fugia à sua frente. Duvido que o atraso seja já recuperável.

Sexta-feira passada, na minha qualidade de adepto de futebol, quis assistir ao último jogo de Liedson com a camisola do Sporting, por respeito ao grande jogador que ele foi no campeonato português. E, tal como me comovi com o último jogo de Rui Costa pelo Benfica, também me comovi agora com a dramática despedida de Liedson de Alvalade. Uma despedida que mais parecia a despedida do próprio Sporting de qualquer ilusão que ainda pudesse alimentar sobre o seu regresso a curto ou médio prazo aos tempos idos de glória. Sejamos francos: mesmo aos 33 anos de idade, Liedson era o único bom jogador que restava ao Sporting. O resto é tudo banal e não há treinador algum que possa dar a volta a essa incon-tornável evidência: não fosse a capacidade de Liedson de pela última vez resolver, e o Sporting ter-se-ia despedido dele com uma derrota caseira frente à Naval, o último do campeonato. E uma derrota que teria sido mais do que justa, face ao futebol mostrado por ambas as equipas.

Mas o drama vai muito para além disso: passa pelo horrendo novo Estádio José Alvalade, onde o clube acabou por se arruinar, por um relvado que nem sequer consegue ser ele verde e que até já se congemina tornar artificial (!), continua pela insustentável situação financeira de curto prazo, que obriga a vender Liedson para pagar salários aos outros e dívidas ao próprio, e acaba com o lastimável folhetim dos candidatos ao lugar maldito de presidente do clube.

Todos os dias aparecem novos candidatos ou putativos candidatos ao cargo de presidente do Sporting, alguns dos quais, manifestamente, apenas para viverem os seus trinta minutos de fama, projectando-se à conta do nome do clube. Há dias, por exemplo, vi a entrevista à TVI desse tal candidato-empresário de quem tanto se fala, com ligações a Angola e milhões para investir. Fiquei impressionado: o candidato, pose e prosápia à parte, nem sequer conseguiu exprimir uma ideia que se entendesse, e em português fluente. Nem ao menos conseguiu explicar o que era o tal fundo — quanto seria, quem investiria nele, como é que se propunha gastar o suposto dinheiro do fundo a comprar jogadores sem pagar as dívidas à banca e continuar a ter crédito. O projecto (palavra mágica que todos usam), era apenas uma amálgama de lugares comuns, disparates sem sentido e grandezas imaginadas, tais como «os milhões de sportinguistas que agora nos escutam» ou «as centenas de milhar de sócios do Sporting». De fora, estas coisas vêm-se melhor e eu também vi assim Vale e Azevedo tomar conta do Benfica, perante o entusiasmo dos sócios e o delírio incontinente dos jornalistas benfiquistas.

Temo que o desespero acabe por ditar o, suicídio por parte dos sócios do Sporting. E, embora sabendo que irão interpretar isto que escrevo de má-fé, ou atribuindo-me a mim má-fé, digo, para que conste, que tenho pena que isso suceda. Faz falta uma terceira parte na guerra pela hegemonia do futebol português.

2- O drama menor é o do actual FC Porto. Escrevi aqui há quinze dias: «O desfecho próximo e feliz desta equipa do FC Porto está nas mãos do departamento médico: quanto mais tempo demorarem a devolver Falcão e Álvaro Pereira, maiores são as hipóteses de o FC Porto não passar incólume pelo conturbado mês de Fevereiro. Ao menos a tempo do joguinho do dia 2...»

De facto, o que mais ou menos tem safado o FC Porto, é que, durante as longas ausências de Álvaro Pereira e Falcão, nos arrastados meses de Dezembro e Janeiro, apanhámos um calendário excepcionalmente favorável, com três quartos dos jogos disputados em casa e três quartos deles contra equipas fáceis. Isso, mais o génio à solta de Hulk, serviu para disfarçar tanto quanto foi possível os erros de contratações da pré-época: não se preencheu o imenso lugar vazio de Bruno Alves no centro da defesa; sem Álvaro Pereira, não há quem faça o corredor esquerdo; falta um verdadeiro médio de ataque ao lado do Belluschi, que não seja o inócuo João Moutinho ou o triste e deprimido Rúben Micael; não há quem nos livre dos constantes sobressaltos e baldas de Fernando; e não há, claro, nem sombra de alternativa a Falcão (e pensar que pagaram seis milhões por 75% do passe de Walter, enquanto Liedson foi vendido por dois milhões e Matheus por milhão e meio!).

Mas, chegados ao tal joguinho do dia 2, o primeiro a doer, o departamento médico do FC Porto não conseguiu recuperar nem Álvaro Pereira, nem Falcão e ainda deu baixa ao único central de jeito que por lá anda — Otamendi. E foi o que se viu: em 25 minutos, o eixo do mal — Helton, Rolando, Maicon e Fernando — tinha entregue a eliminatória da Taça ao Benfica. Os quatro têm em comum várias coisas: serem o eixo frontal da defesa, aquele que não pode falhar; serem todos altos, mas lentos e simultaneamente precipitados, sem pensar antes de executar; terem todos imensas dificuldades em fazer passes de meia-distância e em sair com a bola jogável da defesa. Escreveu-se que Jesus deu um banho de táctica a Villas Boas, com a estratégia da «pressão alta». Bom, não digo que não, mas, alta ou baixa, basta pôr pressão naquele quarteto e algum ou alguns deles hão-de falhar. Para azar nosso, naquela noite falharam todos ao mesmo tempo. Acontece que, tirando o jogo com o Benfica, há três ou quatro jogos, há um mês, que Helton não tem de fazer uma única defesa, porque os adversários, pura e simplesmente, não rematam à nossa baliza. O Benfica rematou três vezes e marcou dois golos. Não foi o Benfica que ganhou o jogo, foi o Porto que o entregou. A tal «pressão alta» só existiu até ao 0-2: a partir daí, o Benfica só defendeu — defendeu bem e em pressão baixíssima, mas nada mais. E Villas Boas ainda deu uma ajuda, com três substituições a despropósito e a destempo. É verdade que o banco é uma tristeza, mas tirar James para pôr Rodriguez e tirar Belluschi para pôr Guarín foi entregar o resto do ouro ao bandido. Extraordinária a sua declaração, quando o questionaram sobre a ausência de um ponta-de-lança no banco- podia ter dito, e todos o percebiam, que, entre Walter e ninguém, tinha preferido ninguém, apostando em como não iria precisar de um ponta-de-lança. Mas, em vez disso, saiu-se com a inimaginável explicação de que Guarín, Rúben Micael, Rodriguez e Mariano (!) lhe davam «garantias de profundidade ofensiva». Viu-se: nem uma oportunidade de golo em toda a segunda parte!

A seguir, ainda houve que suportar o penoso jogo contra o Rio Ave, onde Hulk se apagou (também tem direito a um dia de folga!), e o Porto se reduziu à condição de equipa banalíssima. «Sobrecarga de jogos», explicou André Villas Boas. Como? Contra o Gil Vicente, o Beira-Mar, o Nacional, o Tou-rizense ou o Rio Ave («uma excelente equipa», como sentenciou Varela) — tudo no Dragão? Bem, a seguir vem o Braga, fora, e o Sevilha. Felizmente, não vou estar cá para ver, vou apenas sofrer à distância, de muito longe. E angustiado por saber que temos apenas três grandes jogadores — Hulk, Álvaro e Falcão — e outros três bons, mas intermitentes — Belluschi, James e Varela. E que, quem de três tira dois, fica absolutamente exposto, que é o que nós estamos agora. Oxalá esta curta manta consiga ainda ir encobrindo os pés e tapando a cabeça!

3- Vendido por 25 milhões (35 é cosmética para jornalistas amigos), David Luiz foi muito bem vendido. Muito embora longe dos 50 milhões que Luís Filipe Vieira se gabava de ter como oferta há um ano, a verdade é que, em minha opinião, David Luiz não vale 25 milhões: Bruno Alves é bem melhor do que ele e foi vendido por menos. E as suas abundantes cotoveladas na cara dos adversários não gozarão em Inglaterra da mesma impunidade que aqui sempre foi lei.